O dia amanheceu, permanecia deitada em minha cama enquanto olhava minha imagem através do espelho. Meus pensamentos, mantiam-se fixados no dia anterior. Podia sentir o quão fortemente meu coração batia, arrepiei-me institivamente ao lembrar-me do toque de suas mãos carinhosamente sobre a minha, trazia-me o devaneio de seus olhos em uma linguagem transmitida de ternura. Eu o amava. Muito. E o melhor, era saber que este amor, era recíproco.
Fui levada de meus devaneios ao analisar o relógio ao meu lado, o qual marcava 07:01.
Levantei-me a procura de minha toalha branca que não encontrara.
Avistei-a dobrada sobre a poltrona a frente penteadeira. Busquei-a e adentrei o banheiro da suíte descalçando-me das pantufas brancas.
Derminei meu banho, arrumei-me e desci as escadas indo direto a sala para tomar meu café. Estranhei ao não encontrar ninguém na sala de jantar.
-Lourdes, onde estão meus pais?
-Estão no escritório, senhorita.
-Ah claro, vou chamá-los então.
Estava caminhando rumo ao escritório, estava preste a abrir a porta se não fosse pelo laço do meu vestido enrolar-se na maçaneta.
Desenrolava-o quando escutei meu nome ser dito seguido de um sussuro.
Espere, eu conhecia aquela voz...era Ernest.
Quebrei meu próprio silêncio para poder escutar melhor sobre o que diziam.
"-Sim, caro Teobaldo, me alegra ter o seu consentimento, e o da senhora também. Eu pretendo fazer a filha de vocês muito feliz, darei à ela a vida que ela sempre teve, quanto à isso, não se preocupem.
-Eu confio plenamente em você, Ernest, sei que cuidará de minha filha, mas infelizmente, não será tão fácil conquistá-la, você já viu como ela é...
-Linda, encantadora, inteligente.. -Ernest, seus elogios são muitos, mas será que não se esquece que ela é...
-Desafiadora...sim, caro Teobaldo, Bruna, é uma jovem decidida, seus pensamentos então...nem se falam.
-Sim...ela sempre foi assim, desde de criança, e por isto, não conseguimos mudar seu modo de pensar.
-Ela é diferente de todas, isto me chama atenção. Teobaldo, farei de tudo para conquistá-la, mas se eu não conseguir, você terá que se impor como pai, e fazê-la se casar comigo, eu quero ela para mim.
-Não se preocupe quanto a isto Ernest, minha filha será sua esposa em breve."Eu estava completamente espantada com o que tinha acabado de escutar. Eu não poderia aceitar a ideia de me ver casada com um homem que eu não suportava, que era vinte e oito anos mais velho do que eu, um homem desumano e o pior, um homem que eu não amava.
Estava em completo choque, estava com medo, mas eu tinha que arrumar alguma forma de resolver aquela situação. No momento, eu tinha que fingir que não sabia de nada, ou seria pior.
Retornei a sala de jantar, dando graças a Deus que Lourdes não estava.
Sentei-me enquanto enxugava minhas lágrimas e escutei alguns passos se aproximando. Eram eles.
-Filha...bom dia!-Meu pai exclamou ao me ver.-Olha...temos visita para o café da manhã.
-E de quem se trata?-Perguntei descansando a xícara na mesa.
-Ernest. -Minha mãe respondeu sorridente e sentando-se logo em seguida.
-Bom dia, senhorita.-Ernest disse adentrando o cômodo.
-Bom dia!-Respondi educadamente.
-Ernest, sente-se aqui.-Meu pai estendeu a mão mostrando o lugar ao meu lado.
-Com todo prazer.-Respondeu e sentou-se ao meu lado.
Segundos se passaram e para mim pareciam horas, sentí-me aliviada ao olhar para o relógio a minha frente, o mesmo marcava 07:50, perfeito, estava atrasada para o colégio.
-Me dêem licença, estou atrasada para o colégio, tenham um bom dia.
Levantei-me enquanto escutava um cora de -"Bom dia".
E antes que Ernest me oferecesse uma carona, eu caminhei rumo a sala de estar, apanhei meus livros e fechei a porta rapidamente. Eu estava me sentindo tão perdida, se ao menos eu tivesse Madu ao meu lado para me ajudar, mas eu não tinha, e isto eu temia. Temia muito. O que eu faria?-Eu simplesmente não sabia. Mas teria que pensar em algo, rápido. Muito rápido.