E eu ainda penso nela
Mas ela já não pensa mais em mim
Em mim não
Ainda vejo o luar
Refletido na areia
Aqui na frente desse mar
Sua boca eu beijei
Vou ficar
Só com ela eu
Quis ficar
(Ainda Gosto Dela – Skank)
Ela não parava de se mexer nem um segundo. Para o calor que estava fazendo, movimentar-se era uma estratégia muito ruim. Acho que ela não conseguia evitar. Estava inquieta desde que eu, acidentalmente, quase tinha dito que a amara e jogado um disfarce bem feito, de anos, no lixo.
Como me justificar? A sensação que eu tinha era que o passar dos anos tinha tornando minha mentira simplesmente injustificável.
Eu poderia ter contado a verdade nos anos que sucederam ao nosso termino, mas eu estava com tanta raiva por tudo que ela tinha me feito passar nos meus últimos meses na Califórnia e pela forma como – até hoje – algumas pessoas daqueles tempos me olham de rabo de olho ou comentam alguma besteira no meu facebook. Eu estava com tanta raiva que eu achava que não conseguiria nem olhar na cara dela.
Quer dizer, exceto se eu estivesse ligeiramente alcoolizado. Nesse caso, eu queria beijar a boca dela mesmo. Tanto que a gente teve aquela situação no spring break que nunca foi mencionada e nem nunca será, pelo jeito.
Trancado nesse elevador com ela, minha percepção sobre a raiva era outra. Eu até gostaria que eu o meu problema fosse esse sentimento, saca? Raiva.
Só que não era.
Meu problema era que encontrá-la me mostrava que o sentimento que eu achei que tinha morrido, muito tempo antes, ainda estava vivo em algum lugar do meu corpo.
Que Poseidon, padroeiro da minha vida de surfista, impedisse que esse lugar fosse o coração.
É claro que não era.
Era minha cabeça. Eu só podia estar enlouquecendo aos poucos nessa sauna metálica a qual nós dois fomos presenteados. Vai ver a loucura tinha várias formas de se manifestar. A de Bárbara a impedia de ficar quieta por mais de dois segundos e a minha me fazia acreditar que parte de mim ainda gost... Ou melhor, que parte de mim nunca deixou de gost...
Fiz uma careta, tentando conter meus pensamentos. Eles eram perigosos e ágeis. Eu precisava empurrá-los novamente para o buraco de onde eles haviam saído.
Bárbara se movimentou mais bruscamente e eu levantei os olhos, sem entender. Ela passou um tempo revirando a bolsa atrás de algo. Um carregador portátil? Um pé de cabra? Algo que ela pudesse usar para dar na minha cara?
(Tomara que ela não usasse o pé de cabra, se fosse o caso).
Sua bolsa não era muito grande, mas pela forma que ela revirava, com a cara quase enfiada lá dentro, fiquei pensando se era uma bolsa do Gato Felix ou da Hermione. Se ela pudesse tirar um vira-tempo lá de dentro seria bem útil... De repente voltar uns 8 anos atrás...
Quer dizer, umas oito horas atrás. Assim nós não entraríamos nesse elevador e não estaríamos nessa situação.
Ela não parecia bem. Fora o possível acesso de loucura, eu quero dizer. Seu rosto estava molhado pelo suor e, apesar de seus movimentos serem frenéticos atrás do que procurava, eles pareciam deixa-la cansada. E tão magra! Era difícil acreditar que os braços de alguém podiam ficar finos daquele jeito. E seus olhos... tão fundos. Não profundos. Fundos.
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Chinelo e Salto Alto
Teen FictionRafael e Bárbara não se veem há mais de cinco anos - desde quando terminaram o namoro de forma desastrosa. Desde então, guardam rancor um do outro, pelas mágoas do passado. Se tornaram desconhecidos e dois completos opostos. Seriam capazes de aposta...