Epílogo - Making a Memory

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You and me

(Você e eu)

We should be

(Nós deveríamos estar)

Making a memory whenever we're together, yeah

(criando uma memória toda vez que estamos juntos, é)

Look at me

(Olha para mim)

Can't you see

(Você não consegue ver)

We were meant to be

(Que nós fomos feitos para estar)

Making a memory

(Criando uma memória?)

Making a Memory – Plain White T's

Plim.

As portas do elevador se abriram na minha frente e eu demorei um segundo para perceber que o casal que estava lá dentro nem tinha reparado. Estava ocupado demais se beijando como se não se beijassem há anos. Demorou só mais um para eu perceber que ele era composto por seu Rafael e Dona Bárbara. Meu queixo despencou com o choque. A porta se fechou lentamente na minha frente, enquanto eu dava um passinho para trás por não querer atrapalhar o momento.

Eu podia subir de escadas. Aquilo era importante demais para ser interrompido.

Era um atendimento simples que eu precisava fazer no terceiro andar, não valia a pena desalojar um casal apaixonado e recém reatado por ele.

A vida era mesmo muito curiosa. Eu mal conseguia controlar minha risada enquanto subia os degraus, o que não era nada bom porque me deixava com um pouco de falta de ar. Uff... Quem disse que para ser porteiro não precisa ter porte atlético, hum? Talvez eu devesse finalmente ouvir os conselhos de seu Rafael e usar a academia do prédio. Provavelmente o síndico não se importaria... De repente eu podia pedir para Dona Bárbara fazer esse intermédio. Ela não sorria muito, mas, quando sorria... Eu duvidava que qualquer pessoa pudesse dizer não para ela.

Não sabia muito sobre ela naquele momento. Nem tanto sobre seu Rafael, também. Mas eu sabia de uma coisa: eles eram muito diferentes. E, por isso, a vida era tão curiosa. Por isso e também por ter escolhido os reunir novamente em um elevador. Justo no lugar que ficaram juntos e presos por tantas horas. Há! Parecia história de filme de sessão da tarde. Meus colegas não iam nem acreditar quando eu contasse no bar.

Saí da escada, ainda um pouco esbaforido.

Quer dizer, não vou mais no bar. Vou ser atlético a partir de amanhã. Ir na academia e suspender as cervejinhas de sexta... Mas talvez eu comece só semana que vem. Uma história boa dessas. Precisava compartilhar na cerveja de sexta-feira.

— Ah, seu Zé! — A moradora do 302 disse, quando abriu a porta, com expressão horrorizada. — Eu não sei onde Tony se meteu.

Tony era o gato de Dona Renata. Ele sempre acabava perdido no apartamento e, como ela já era uma senhorinha de muita idade, que não enxergava tão bem assim, sempre me interfonava para que eu encontrasse o bichano por ela. Eu tinha algumas dúvidas que Tony queria ser encontrado, mas tentava não me meter muito no relacionamento dos dois. O relacionamento de um gato e sua senhora era sagrado. Alguns minutos depois, Tony foi localizado na terceira gaveta da cômoda de Dona Renata e eu me despedi, certo de que em mais ou menos uma semana o gatuno tentaria sumir novamente.

Trabalhar em um prédio daquele tipo fazia com que eu tivesse ocorrências semelhantes sempre. Anos depois, eu continuava sem a menor forma física. Minhas promessas nesse sentido não valem nada. E o gato de Dona Renata continuava sumindo e eu continuava encontrando-o nos lugares mais inconvenientes. Nada mudava naquele condomínio. Meus amigos sempre me diziam durante nossas cervejinhas que aquilo parecia ser o maior tédio.

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