Capítulo 26: I could really use a wish right now - Rafael

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Can we pretend that airplanes in the night sky are

(Nós podemos fingir que os aviões no céu noturno são)

like shooting stars?

(como estrelas cadentes?)

I could really use a wish right now, a wish right

(eu realmente poderia usar um desejo exatamente agora, um desejo exatamente)

now, a wish right now

(agora, um desejo exatamente agora)

(Airplanes - B.o.B ft. Hayley Williams)

Acho que a gente só tem noção do que se tornou na vida quando atinge mesmo o fundo do poço. Tão fundo que a única opção é olhar para o lado, tentar catar os pedaços e preparar um plano de escalada. Eu não vi o processo que me fez parar aqui. Tão perdido em novas rotinas e me esforçando ao máximo para não ficar preso em pensamentos e lembranças que deveriam ficar no passado, fui cavando meu próprio caminho.

Estava tudo uma merda e a culpa era minha.

Foram minhas escolhas e eu as fiz sozinho. Desde o início. Mas tudo foi virando uma puta bola de neve sem controle. Eu não fazia ideia que mentir para Bárbara sobre o verdadeiro motivo de eu querer terminar o namoro ia colocar minha vida – quer dizer, nossas vidas – nessa ladeira. Com uma bola descendo cada vez mais rápido, destruindo-os no processo.

E, a pior parte é que, eu fiquei tão preso no processo que nem me dei conta que era isso que estava acontecendo: eu estava me destruindo. É claro que, no início, eu estava mesmo destruído. Depois comecei a ficar com tanta raiva de Bárbara que a destruição deu um pouco de lugar para o ódio. Eu devia ter sacado que esses dois sentimentos não tinham como coexistir pacificamente.

Ah, espera, eu disse dois? Três.

Não vamos esquecer do maior filho da puta de todos: amor.

A questão é que, com o passar do tempo, eu fiquei tão perdido nessas tentativas de me enganar e viver uma nova vida que, de fato, vivi uma outra vida. A maneira mais fácil de esquecer pelo que eu passei era manter minha cabeça ocupada. Talvez com as ocupações erradas... Mas elas todas, no momento, pareciam bem certas.

No dia seguinte quando eu acordava de ressaca, com uma garota que eu não lembrava bem o nome ou com minha mãe berrando no meu ouvido sobre minhas irresponsabilidades, elas não pareciam tão certas assim. Só que essa percepção durava pouco tempo e, logo depois, eu já estava perdido em minhas atividades rotineiras. Tão rotineiras que, em certo ponto, eu parei de questionar porquê agia daquela forma e nem me perturbava mais nos dias seguintes. Era quase como se eu nem lembrasse como era antes.

Ou não quisesse lembrar. Porque é claro que eu lembrava.

Eu só soterrava o quanto antes embaixo de bastante cerveja, de jogos do Flamengo e de uma considerável dose de companhia feminina.

Meu celular apitou e eu rolei na cama para pegá-lo, parando no meio do caminho. Será que, naquele momento, tinha alguém no mundo que me fazia achar que valia a pena atender o celular? Ou, ao menos, responder uma mensagem? Minha família toda estava em casa, que era quem eu ainda tinha qualquer obrigação de responder. Não tinha razão para olhar o celular...

Qualquer razão mesmo, meu lado racional dizia, enquanto eu tentava ignorar com todas as minhas forças aquela vozinha no fundo da minha cabeça, que ficava soprando no meu ouvido "mas e se for ela?".

Estiquei a mão e peguei, ainda vivendo na esperança.

Tão ridículo que eu era até digno de pena, se alguém olhasse a cena e não soubesse que a culpa daquela bosta toda era apenas minha. Destravei o celular e abri a mensagem, cheio de expectativa.

Chinelo e Salto AltoOnde histórias criam vida. Descubra agora