I don't know what you do but you do it well
(Eu não sei o que você faz, mas você faz muito bem)
I'm under your spell
(Estou sob o seu feitiço)
You got me begging you for mercy
(Você me deixa implorando por misericórdia)
Why won't you release me?
(Por que você não me liberta?)
Mercy – Duff
Minha mãe abriu a porta do quarto com um empurrão tão forte que fez ela se chocar contra a parede. Provavelmente deixaria uma marca horrenda, mas eu não tive forças para me mexer na cama e olhar. Ouvi minha mãe soltar um grito de horror. Provavelmente ela nunca tinha visto meu quarto tão bagunçado. Minha bolsa estava largada no chão, meus sapatos caídos na beirada da cama e eu estava estirada na cama desde que consegui correr para longe daquele corredor.
E pela primeira vez em muito tempo, muito tempo mesmo, eu não me importava de estar tudo tão bagunçado. Eu passei a vida inteira tentando ter todas as situações sob controle e recebi provas suficientes da vida que isso era apenas uma grande ilusão. Continue tentando, mas depois da experiência de hoje eu estava simplesmente exausta. Não queria mais tentar.
— Bárbara! — minha mãe gritou ao me ver naquele estado. — Eu fiquei presa no trabalho até agora! Faltou luz!
Eu continuei imóvel, com uma mórbida vontade de rir. Jura, mãe? Jura que tinha faltado luz? Que bom que você ficou presa no trabalho. E eu que fiquei presa no elevador? Com Rafael? Por horas? Num calor absurdo? E eu que acabei desmaiando e saindo de lá de dentro sabe Deus como? E eu, mãe? E eu?
— Você está horrível — ela continuou dizendo. — Pelo jeito seu cabelo ainda não conseguiu se adequar ao calor dessa terra, né querida?
Eu suspirei baixinho, fechando os olhos. Não tinha água suficiente dentro do meu corpo para me permitir chorar novamente, mas a minha vontade era essa. Meu corpo estava moído, mas a dor interna era muito maior que qualquer desconforto físico. Eu precisava de colo, palavras reconfortantes e, talvez, de um pouco de sorvete.
E de alguém para me impedir de vomitar o sorvete depois.
Mas o que eu recebia era o mesmo tipo de discurso desde que eu me lembrava por gente. Sobre meu cabelo não estar bonito o bastante, sobre minha maquiagem estar borrada, sobre meu peso não ser ideal e sobre como eu precisava me esforçar mais para ser uma pessoa agradável. "Fazer careta é indelicado, Bárbara" era uma das frases que eu mais ouvia na infância, seguida por "será que você pode sentar como uma mocinha, por favor?".
De alguma forma, eu conseguia manter minha sanidade mais ou menos estável, mesmo com tantas cobranças. Eu ignorava os pedidos da minha mãe e, muitas vezes, até ria de seus pedidos. Mas quando Rafael me trocou por uma menina que era exatamente tudo aquilo que minha mãe pregava, eu comecei a achar que ela estava certa. E fui, desde então, uma pessoa muito preocupada com a minha aparência e com o que os outros pensavam de mim.
Até agora. Quando Rafael, por outras razões, tinha feito tudo desmoronar na minha cabeça de novo. Era incrível o potencial lesivo que ele tinha em minha vida. Mais incrível ainda quando pensava que ele tinha tido sido também a pessoa que me fez mais feliz em toda minha história. Era incongruente, mas era real. Ninguém disse que o amor fazia sentido.
— Graças a Deus que a luz voltou — minha mãe continuava dizendo, apesar deu não dar nenhum sinal de resposta. — Meu celular está sem bateria e imagina não conseguir remarcar o salão que perdi hoje! — ela sacudiu a cabeça dramaticamente, como se isto fosse algo terrível de imaginar. — Eu não lembro o número de cabeça para ligar aqui de casa.
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Chinelo e Salto Alto
Teen FictionRafael e Bárbara não se veem há mais de cinco anos - desde quando terminaram o namoro de forma desastrosa. Desde então, guardam rancor um do outro, pelas mágoas do passado. Se tornaram desconhecidos e dois completos opostos. Seriam capazes de aposta...