Capítulo 05 - Porque eu sei que é amor (Rafael)

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Mesmo que você não esteja aqui
O amor está aqui
Agora

Mesmo que você tenha que partir
O amor não há de ir
Embora

(Porque eu sei que é amor – Titãs – 2009)

Bárbara ainda estava com a mão esticada na lataria do elevador. Como se esperasse magicamente que suas garras afiadas abrissem um buraco grande o suficiente para que ela passasse. Tudo bem que o buraco não precisava ser muito grande. Ela era muito baixa, de verdade. Ela era baixa mesmo com os saltos gigantescos. Não passava do meu ombro. Sem os saltos então...

E ela estava tão magra. Ela sempre foi magra e baixinha. Minha mãe chamava esse biótipo de mignon. Para mim isso era um tipo de filé e parecia ofensivo, mas minha mãe falava dizer que alguém era mignon significava dizer que ele era pequena e bonitinha.

Bárbara era pequena e muito bonitinha. No caso, bonitona.

Só que ela estava tão magra que eu tinha uma ligeira impressão que eu seria capaz de fechar minha mão em volta de seu pulso unindo meu dedão e meu mindinho com folga. Seus olhos estavam fundos e suas pequenas bochechas tinham sumido de vez. Os ossos de sua clavícula estavam pontudos, chamando atenção por trás da fina camada do vestido que ela usava. Eu também era capaz de contar suas costelas, sem fazer muito esforço. Pelo jeito algum maluco disse que ela estava precisando perder peso.

— O que você está olhando? — ela disse, me encarando pelo canto de olho.

Estava agarrando a bolsa como se estivesse prestes a jogá-la na minha cabeça novamente. Seus lábios finos estavam apertados, os olhos azuis cintilavam e o salto batia no chão, incessante. Algumas coisas não mudavam nunca, pelo jeito. A Bárbara que eu conhecia ainda estava perdida ali, no meio de tantas grifes e mal humor.

— Senta aí, Bárbara — eu disse, apontando para o chão. Ela permaneceu imóvel. — É sério, vai demorar de verdade até a gente sair daqui.

Ela arrastou o pequeno corpinho pela lataria do elevador, despencando no chão dele e a estrutura quase não se moveu. Ela endireitou as pernas e o vestido e me encarou, com um olhar tão triste que me lembrou do mesmo olhar que ela tinha no rosto, anos antes, quando eu me dilacerei por dentro e pedi para terminar.

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7 anos antes, mês de Abril – Monterrey, Califórnia

Estávamos todos sentados na mesa durante o almoço quando meu pai trouxe a informação à tona. Era um domingo bem no início do mês de abril. Eu estava com um pouco de pressa, porque tinha um encontro marcado com Bárbara um pouco mais tarde. Meus pais, todavia, não tinham a menor pressa do mundo. Meu pai estava sentado confortavelmente na cabeceira da mesa, tomando sua Coca-Cola como se ela fosse a última no deserto. Minha mãe estava tentando colocar ervilhas no prato do Eduardo, mas ele estava empurrando-as de volta com toda força que ele continha naquele pequeno corpo. Eu estava parado lá, tão ansioso que estava sacudindo as pernas no mesmo lugar.

Eu ainda não conseguia acreditar que Bárbara era minha namorada. Há seis meses! Se tivessem me falado que isso aconteceria na primeira vez que a vi passar pelo corredor, eu teria rido. Ela claramente era areia demais para meu caminhão. Sem falar que os boatos que corriam no colégio eram que ela arrastava asa fazia um tempo para o menino com sobrenome espanhol que fazia aula de matemática com a gente. Eu me recusava a acreditar, mas talvez fosse verdade. Talvez ela gostasse de gente com sangue latino, vá saber.

Chinelo e Salto AltoOnde histórias criam vida. Descubra agora