Capítulo 2: Same Old Love

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I'm so sick of that same old love
Feels like I've blown apart
I'm so sick of that same old love
The kind that breaks your heart
(That Same Old Love – Selena Gomez)

Rafael

Droga.

Talvez eu pudesse fingir que não tinha ouvido. Até acredito que essa estratégia teria funcionado, se não fosse pelo pequeno detalhe que estávamos dentro de uma caixa de metal, completamente sozinhos, acompanhados por nada além dos sons da máquina, rodando os fios e içando tal caixa. Qualquer um teria ouvido. Qualquer um. E talvez eu reconhecesse sua voz, no meio de uma multidão – aliás, já tinha feito isso antes. Como não reconheceria em um espaço tão claustrofóbico?

Eu deveria ter olhado para os sapatos dela antes de mais nada. Teria a reconhecido na hora se tivesse visto aqueles saltos cor de rosa muito maiores do que eu acreditaria ser humanamente possível andar. Os sapatos eram os mesmos, ou então muito parecidos, com os que ela já usava anos antes. Se eu fechasse os olhos e me concentrasse, era capaz de ouvir na minha cabeça o clac clac clac do sapato batendo no chão, enquanto ela desfilava pelos corredores da escola. Minha cabeça virava automaticamente, só para vê-la passar.

Agora eles estavam batendo no chão do elevador. Era inconveniente, para dizer o mínimo, encontrar sua ex-namorada em um lugar tão pequeno. Eu encarei, sem saber o que dizer. Ela ainda tinha todas as curvas no lugar certo, mas talvez estivesse um pouco mais magra do que eu me lembrava. Seu vestido era leve e brincava com suas coxas, se ajustava na cintura fina e revelava grande parte do seu decote, deixando seus ombros de fora. Como se estivesse aguardando minha visão chegar até ela, a alça do vestido tombou.

Ela precisava continuar gata? Não podia ter ficado detonada? Nem precisava ser muito, só um pouquinho. Só o suficiente para que eu conseguisse me concentrar mais no fato que, porra, eu odeio essa garota e menos no fato que, pelo amor de Deus, que bunda.

Seus lábios estavam ligeiramente separados quando eu tive forças para encará-la. Seus olhos, azuis translúcidos, apertados como se – ela sim – estivesse focada suficiente para mostrar todo seu ódio. Eu deveria ter previsto seu movimento, mas não previ. Sua bolsa de grife cara voou no meu rosto antes que eu conseguisse entender.

Asshole! — Ela disse, cobrindo seu corpo com aquelas mãos ridiculamente pequenas e me fazendo sentir como um depravado. — O que você está fazendo?

— Você fala português? — Meu choque foi maior do que a dor da bolsada.

Aquilo podia ficar pior?

Porque, sinceramente, não bastasse ela ainda continuar gata e gostosa, ela precisava ganhar um sotaque sexy?

No passado, era eu que tinha sotaque. E não coloco minha mão no fogo sobre ele ser sexy.

— Não, esse é meu fucking clone — ela revirou os olhos, prendendo a bolsa novamente embaixo do braço.

Não dava para acreditar.

Era para ela estar nos Estados Unidos. Há umas dez horas de avião de distância. Enfiada em seja lá que coisa ela fazia em Monterrey. Não tinha muita coisa para fazer em Monterrey.

— O que você está fazendo aqui? — Eu perguntei, encostando no fundo do elevador.

Não era para ela estar dentro do meu elevador, compartilhando aquela lenta escalada comigo. O elevador sempre foi lento assim ou ele estava sendo vagarosamente pior como um castigo do universo contra mim?

Chinelo e Salto AltoOnde histórias criam vida. Descubra agora