Capítulo 21 - I'm screaming I love you so - Rafael

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I'm screaming I love you so
(Estou gritando "te amo tanto")
But my thoughts you can't decode
(Mas meus pensamentos você não consegue decodificar)

Decode - Paramore

Eu comecei por socorro a berrar no momento que Bárbara desfaleceu nos meus braços. Estava mesmo quente naquele elevador e ela vinha dando sinais de que não se sentia muito bem, mas eu achava que era por minha culpa. Quer dizer, talvez fosse também um pouco de culpa minha. Estava tão acostumado a sempre ser o culpado que nem me dei conta de que ela poderia mesmo estar passando mal por causa do calor naquela lata de sardinha de metal. Agora, com ela largada nos meus braços, eu me sentia ainda mais idiota do que normalmente.

Eu já tinha carregado aquela menina no colo uma quantidade incontável de vezes, mas aquela era a primeira vez que ela jazia completamente desacordada em meus braços. Mesmo quando ligeiramente sonolenta, Bárbara sempre passava os braços por trás do meu pescoço e se aninhava no meu peito. Dessa vez seus braços permaneceram pendurados ao lado de seu corpo quando eu a icei para meu colo. Não conseguia nem arrumar, considerando que meus braços eram seu único sustento.

Mas ela era tão leve.

Diferentemente do meu coração, que ficava cada vez mais pesado toda vez que eu me lembrava de ter dito que ela estava gorda. Um adolescente idiota, era isso que eu era. Pena que eu tinha me tornado um adulto mais idiota ainda.

— Seu Rafael? — a voz do seu Zé apareceu alguns minutos depois do início dos meus gritos.

— Graças a Deus! — eu respondi, aliviado por alguém ter me ouvido. — A Bárbara passou mal e desmaiou, você vai precisar abrir a porta.

— Mas é muito perigoso — seu Zé argumentou. — Se a luz voltar, o elevador vai andar e vocês podem ser...

— Eu sei, cortados ao meio — revirei os olhos, ajeitando a menina em meus braços. — Mas ela não pode ficar aqui desmaiada, nesse calor. Só vai piorar a situação — e que merda de situação. — Não tem nada que você possa fazer, seu Zé?

— A gente pode tentar fazer uma gambiarra... Peraí que eu já volto — a voz dele foi se distanciando à medida que a frase ia terminando e eu voltei a gritar.

Sei lá o que ele tinha inventado, mas me largar sozinho com Bárbara desmaiada parecia ser uma escolha pior do que estar lá e me ajudar a decidir o que fazer. Ainda pior porque eu estava começando a entrar em pânico. Pânico parecia ser a pior ideia do universo naquelas circunstancias. Eu precisava ficar calmo, são e racional. Pensar na melhor estratégia para ajudá-la...

Mas o caralho do problema era eu não conseguia parar de gritar por socorro e sentia que minhas pernas não estavam lá muito estáveis.

Exatamente o apoio que Bárbara precisava no momento, só que não.

Foram longos minutos entre o momento que seu Zé foi embora e o segundo que ouvi sua voz novamente. Ele estava esbaforido quando se reaproximou e eu comecei a ficar com medo de precisar socorrer duas pessoas. Não estava dando conta nem de uma.

— Uff, que coisa pesada, vish Maria — disse ele, respirando pesado.

— O que você trouxe? — eu perguntei, orando para que fosse algo útil para nossa situação.

— Um macaco — ele respondeu, jogando minhas orações por terra.

Que caralho! Para que serviria um macaco naquela situação? Não tinha pneu nenhum para ser trocado dentro daquela bosta de elevador.

Chinelo e Salto AltoOnde histórias criam vida. Descubra agora