" ...Até que o homem dos seus sonhos apareça e a coloque nos ombros
Parece tão impossível nesse dia e nessa idade"22, Lily Allen
— Quem é ele, Ana Júlia? — perguntou no mesmo instante em que colocou os pés dentro de minha casa.
O intruso que tocou o interfone era Luís, um dos meus melhores amigos. Provavelmente ele só estava lá porque provavelmente minha mãe havia ligado e pedido para ele ir me vigiar. Eles tinham essa relação de amigos, sempre que ele ia lá para casa, passavam muito tempo conversando e fofocando. De todos os meus amigos, eu sabia que ela ligaria primeiro para ele.
— Ele é meu... namorado?
— Ah, sim! Conta outra Ana Júlia. Espera aí! — ele ergueu a mão e me empurrou levemente para o lado, se aproximando do que disse ser Park Duck Young. — Ele... tem é branco, tem cabelo preto, e tem uma pinta embaixo do olho esquerdo. Isso me é familiar. Sorria por favor?
— Não sorria! — me apressei para dizer.
— Sorria, sim! — Luís pediu novamente, mais mandou que pediu na verdade e o atrevido sorriu mesmo assim. — E tem um sorriso encantador, mesmo que forçado. Faltou só a piscadela que você sempre escreve. A descrição dele bate com a daquele seu personagem. Aquele que você é apaixonada por ele! Como é mesmo o nome...? Park Duck Young! — bateu palma. — Você criou o seu personagem igual ao seu namorado? Que brega, Ana Júlia! — ele torceu o nariz. — Então ele é mesmo o seu namorado?
Há algum tempo, Luís havia descoberto minha história na internet e começado a ler, foi o que ele me disse, mas não imaginei que teria lido com tanta atenção e capítulos suficientes para se lembrar da descrição do Duck Young.
É isso que dá ter amigos que leem suas histórias e prestam atenção nos detalhes.
— Luís, cala a boca! Eu mal aguento o meu subconsciente, não preciso de mais um falando. O que você tá fazendo aqui?
— Não posso mais visitar uma amiga que não vejo há tanto tempo? — arqueei uma sobrancelha. — Certo! A sua mãe me pediu para vir aqui. — bingo!
— Eu estou muito bem e na companhia do meu namorado. — apontei para o sofá onde Duck Young estava sentado e ele acenou confuso.
— Agora que você já viu que eu estou bem... — apontei para a porta, mas ele permaneceu no mesmo lugar.
— Esse cara não é seu namorado, Júlia.
Atrevido!
— Querido — chamei. A palavra parecida ter um gosto amargo na boca.
— Você não é meu namorado?
— Claro! — ele piscou para mim e mandou um beijo. Agradeci mentalmente por ter concordado, mas quase perdi o ar pela piscadela e pelo beijo que acompanharam a concordância.
— Quanto você pagou pra ele dizer isso? — me virei de costas para Luís, respirando fundo e hesitando. Caminhei até Duck Young e me inclinei em sua direção.
— Finja me beijar. — sussurrei para ele. Segurei seu rosto e encostei minha boca no canto da dele.
Uma coisa que eu sempre fazia mas que odiava era tentar provar que estava certa, para quem quer que fosse que duvidasse de mim. Mas desta vez era diferente. Era estranho. Como se eu quisesse provar alguma coisa para mim mesma. Talvez fosse porquê o meu personagem favorito, por quem eu sou apaixonada — o que é bizarro — se tornou real e estava na minha casa. Talvez eu precisasse usar isso como prova de que ele era mesmo real e que eu estava tendo a chance de fingir ser sua namorada, o que me fez pensar que eu estava tendo a chance de beijá-lo. Me afastei um pouco, poucos centímetros que nem podiam ser notados, e o beijei de verdade. Tirei uma de minhas mãos que estavam em seu rosto e a coloquei em seu ombro, já ele, fez o oposto, segurou meu rosto com uma de suas mãos e retribuiu o beijo.
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Quando Tudo Se Torna Real
FantasyAna Júlia é uma jovem universitária brasileira, que escreve como uma forma de lidar com certas frustrações da vida e, principalmente, de se livrar do tédio. Ela cria um mundo fictício, espelhando-se no mundo real e em seus entes queridos. Júlia te...