Era a última quarta-feira de férias, dia primeiro de fevereiro de 2017. Eu estava na cozinha de casa preparando um lanche, sozinha, como na maior parte do tempo já que minha mãe era médica e trabalhava muito. O interfone tocou e eu liguei o pequeno televisor para ver as imagens da câmera e me assustei ao ver um homem curvado, com a mão na barriga. Ele estava com um ferimento, a julgar pelas roupas manchadas de vermelho, que concluí ser sangue.
— Por favor, eu preciso de ajuda! — pediu.
Sei que não deveria atender uma vez que ele poderia ser um assaltante ou alguém perigoso porém, eu não conseguiria me perdoar se algo pior acontecesse sendo que me foi dada a chance de ajudar. Ele não era um personagem, o qual eu poderia deixar morrer.
A primeira coisa que fiz foi pegar um copo e enchê-lo de água. Decidi lhe dar água enquanto pensava no que fazer e corri até o portão o mais rápido possível. Ele estava encostado no muro, fazendo caretas de dor. Quando me notou passou a olhar para mim. Seu rosto me parecia estranhamente familiar. O cabelo preto liso, a pele branca, os olhos escuros e a discreta pinta embaixo do olho. Pequenos detalhes comuns, mas que estavam ligados a uma pessoa específica.
— Por favor, me ajude, eu não sou daqui, não sei onde estou. — ele ainda estava escorando no muro, com dificuldades de se manter de pé, mas mesmo assim, estendeu a mão para mim. — Meu nome é Park Duck Young. Você é BAJ?
O copo com água foi de encontro ao chão e se partiu em centenas de pedaços menores. Arquejei e então levei minha mão a boca.
— Pa-Park Duck Young?
— Você me conhe- — ele caiu, sem terminar sua frase e soltou um gemido de dor. Não que eu não soubesse o que iria dizer.
— Vamos entrar...
Segurei seu braço e o ajudei a levantar, então passei seu braço esquerdo por trás do meu pescoço e caminhamos até dentro de casa, ele me usando de apoio. Notei que mesmo com dificuldade, estava se esforçando para não colocar tanto peso em mim. Coloquei-o sentado no sofá logo que entramos em casa, enquanto pensava no que fazer. Peguei meu celular no bolso do vestido e liguei para minha mãe. Minhas mãos tremiam descontroladamente e enquanto chamava, caminhei até ele e toquei sua bochecha.
— Você é real? — antes que ele pudesse responder, minha mãe atendeu o telefone e eu precisei respondê-la. — Mãe? Tem uma pessoa ferida no nosso sofá. Ele... ele tocou o interfone e estava implorando por ajuda...
— Como assim Ana Júlia? Você não machucou o Carlos, machucou?
— Eu... não sei quem ele é. — menti. — Ele... ele tocou interfone e me pediu pra ajudar, porque não é daqui. Mas está muito machucado e eu preciso da sua ajuda!
— Você não conhece? É um homem? Você ficou maluca?
— Mãe! Ele está machucado.
— Ao menos esconda uma faca no bolso.
— Mãe, ele está machucado! Não é como se ele fosse... — parei de falar.
Ele é mesmo o Park Duck Young? Duck Young o personagem da minha história? Aquele que os leitores amam e que eu amo? Não é! Claro que não é. Conhecendo meus amigos como os conheço, poderia facilmente apostar que é uma pegadinha. E se não fosse pegadinha? Mordi me lábio inferior. Como é que eu poderia estar considerando que aquilo pudesse não ser um pegadinha?
— Ana Júlia, você está bem?
— Eu estou mas o... digo, o garoto não.
— Você está sozinha em casa com um homem que você nem sabem quem é?
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Quando Tudo Se Torna Real
FantastikAna Júlia é uma jovem universitária brasileira, que escreve como uma forma de lidar com certas frustrações da vida e, principalmente, de se livrar do tédio. Ela cria um mundo fictício, espelhando-se no mundo real e em seus entes queridos. Júlia te...