— Sinto muito, senhora, eu não me lembro de nada — respondi por fim.
Go Eun suspirou, cansada e tomou mais um longo gole de seu café. Eu realmente não tinha o direito.
— Entendo. Mas caso se lembre, por favor...
Ela tirou um cartão de visitas da bolsa e o empurrou em minha direção.
— Me ligue, ou para a polícia. Você é nossa única esperança.
Dei um breve sorriso carregado de tristeza antes de terminar de mastigar para responder.
— Prometo que ligarei caso me lembre.
O telefone dela, que estava em cima da mesa, tocou e pude ver o nome de Frederic brilhar na tela, o que me fez engasgar.
— Você está bem? — questionou preocupada. — Quer que eu chame uma enfermeira?
Bebi dois goles de café e balancei a cabeça em negação.
— Não precisa, eu estou bem. Obrigada.
Park Go Eun rapidamente pendurou a bolsa no ombro e se levantou.
— Meu afilhado está me ligando, combinei de me encontrar com ele logo mais. Preciso ir! A conta já foi paga, não se preocupe. Espero que se recupere logo, Ni Na!
— Obrigada, senhora Park! — fiz uma breve reverência.
Ela me deu as costas e saiu, falando com Frederic pelo celular. Suspirei. Ele é descarado ao ponto de conversar com ela e, se o conheço bem, ainda tentar ser doce e dar total apoio, quando foi ele quem colocou Duck Young em uma cama de hospital. Não que essa fosse sua real intenção, não, ele queria colocá-lo em um caixão.
Quando foi que tive ideias tão más para eles?
Quando terminei de comer, a enfermeira Lee voltou para me levar para o quarto, mas praticamente implorei para que ela me levasse para ver Park Duck Young ao invés disso.
— Ele não pode receber visitas no momento.
— Vai ser rápido, eu prometo! Por favor! — ela suspirou, mas entrou no elevador e apertou um botão que não era do meu andar.
— Dez minutos e nada mais do que isso. — avisou.
— Obrigada.
Ela abriu a porta, empurrou a cadeira quarto dentro, parou a perto da cama e saiu fechando a porta.
— Duck Young... como você está? — segurei sua mão. — Me desculpa por te colocar nessa situação. Você... Você tem que acordar logo. Eu nem sei o que fazer!
Suspirei. Desviei o olhar para outro lugar, tentando conter as lágrimas, o que não deu muito certo. Meu polegar continuou acariciando sua mão, enquanto meu olhos encaravam a tela que mostrava os sinais vitais.
Está tudo bem. Está tudo normal, nada vai acontecer. Ele vai acordar logo...
— Me desculpa? Por favor, eu não queria te machucar, de verdade, eu só não sabia... Não vou me perdoar se algo te acontecer.
Um soluço veio e depois mais outro, me impedindo de continuar. Me forcei a ficar em silêncio por algum tempo, apenas me limitando a encarar o monitor.
— Vou achar o portal e te tirar daí, eu prometo! Eu sei que não queria que eu contasse, mas eu precisei. A Sarah está me ajudando. Vamos conseguir! Por favor continue sendo forte. Só mais um pouco...
A enfermeira entrou no quarto, avisando que o tempo havia acabado. Quando ela colocou suas mãos na cadeira, quase pude sentir meu coração apertar por já ter que deixá-lo, e naquele estado. Soltei sua mão aos poucos e estava tão inerte, tentando vasculhar cada partezinha das minhas memórias em busca de algo que pudesse ajudar, que só me dei conta que já havíamos chegado ao quarto quando ela encostou em meu braço e me disse, pelo que pareceu não ser a primeira vez, que eu poderia voltar a me deitar.
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Quando Tudo Se Torna Real
FantasyAna Júlia é uma jovem universitária brasileira, que escreve como uma forma de lidar com certas frustrações da vida e, principalmente, de se livrar do tédio. Ela cria um mundo fictício, espelhando-se no mundo real e em seus entes queridos. Júlia te...