Quem ela acha que é?

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— Essa não é a melhor parte?

— Não mesmo! — respondeu-se após uma breve risadinha. — Vamos lá!

Segurou minha mão e seguiu me guiando. Ele não estava mesmo ciente do efeito que causava em mim cada vez que me tocava ou se aproximava. Um ato tão simples e impensado como segurar minha mão, causava uma bagunça no que eu estava me empenhando para colocar em ordem.

Alguns minutos depois, já quase não importava se ele estava segurando minha mão ou não, o parque era incrivelmente encantador e em conjunto com o fato de eu sempre ter sonhado conhecê-lo, foi o suficiente para me distrair. Mesmo no inverno e sem muitas flores, ele ainda conseguia ser mágico. As árvores dispostas por toda a área, crianças brincando, vendedores de balões, sorvete e o que mais atraiu minha atenção, algodão doce, de várias cores.

— Você quer um? — perguntou e me assustei por estar distraída o suficiente para não estar prestando atenção.

— O quê?

— Uma dessas nuvens coloridas. Você estava encarando. — ele comentou e eu ri.

— Estava? Não percebi. Eu gosto muito de algodão doce.

— Algodão doce... — repetiu. — Vou te comprar um, então.

Ele se aproximou do vendedor e trocaram algumas palavras, pagou e então retornou com um azul e outro amarelo.

— Qual você quer?

— O amarelo! — respondi sorrindo e peguei de sua mão, degustando no mesmo instante  — Obrigada.

— O que achou do parque? É como esperava? — suspirei e sorri maravilhada olhando ao redor.

— Sabe quando te perguntam sobre um lugar que você considera seu? Aquele lugar em que você se sente em paz, onde pode ser você mesmo? Seja seu quarto, uma biblioteca... O Victory Cleave é esse lugar pra mim. Mesmo que não exista de verdade no meu mundo, existe na minha mente e no meu coração e por isso posso estar nele, estando em qualquer lugar, é só fechar os olhos. Criei ele quando era criança, do estacionamento até o último centímetro, tudo pensado com muito carinho e atenção ao longo de toda a minha vida. Sempre foi um lugar cheio de vida, onde eu fugia dos problemas. Haviam sempre crianças sorrindo e correndo, casais de mãos dadas, pessoas buscando inspiração, vendedores de cachorro quente, sorvete e meus amados algodões doces. O Victory Cleave sempre foi meu maior sonho, uma parte boa de mim que eu queria que fosse real, e agora você realizou esse sonho. Não sei se entende, mas muito obrigada.

Sorri, sincera e profundamente e ele retribuiu o sorriso enquanto me encarava de forma tão intensa que parecia tentar ler tudo em mim. Não me incomodou, pelo contrário, eu queria que ele continuasse, que lesse e que extraísse toda informação que quisesse sobre mim e queria poder fazer o mesmo com ele.

— Entendo, perfeitamente. Vamos, vou te mostrar meu lugar favorito aqui.

Caminhamos na margem da mata, observei as árvores nuas devido ao inverno, as folhas e flores estariam de volta na primavera. O parque era uma reserva natural, e agradeci por ter feito essa escolha, era mágico e especial demais para ser destruído. Subimos e paramos na ponte, logo no início, o que significava que não estávamos muito longe da margem do rio. Não havia muitas pessoas por lá, somente um homem na extremidade oposta, caminhando em nossa direção. Estava trajando boné e roupas pretas.

— Eu gosto de ficar aqui. De sentar e observar as pessoas irem e virem, os peixes se movimentando na água... — ele comentou.

— É muito agradável!

Dei as costas para Duck Young para encarar o lado oposta da ponte, o que dava vista para a mata.

Ficamos em silêncio por alguns minutos. Minha mão tocou o parapeito de madeira da ponte e meus dedos dançaram pelos limites do coração talhado na madeira, provavelmente feito por algum casal apaixonado que já estivera ali. Estava distraída demais, entorpecida demais por cada mínimo detalhe daquele lugar. O Victory Cleave tinha aquele efeito em mim, mas fui capaz de ouvir o som dos passos no chão de madeira da ponte, me virei para observar e me deparei com o homem de preto que há pouco estava há bons metros de distância. Ele andava olhando para o chão, mas antes de começar a falar levantou a cabeça e pude ver seu rosto. Arfei. Por um momento o desespero me atingiu, junto com um frio na barriga e olhei ao redor buscando uma alternativa. Dei um passo à frente.

Quando Tudo Se Torna RealOnde histórias criam vida. Descubra agora