Quando Tudo Se Torna Real

Eu o beijei

— Você fez o quê? — perguntou pausadamente, com a voz levemente alterada.

— Eu o beijei. Não foi a atitude mais nobre da minha vida. Eu sei que nem de longe isso foi certo, mas eu precisava resolver o problema e o Luís parado no meio da sala e fazendo milhares de perguntas com aquela voz debochada dele, só me estressava ainda mais. Eu só queria que ele fosse embora, então fiz com que ele acreditasse. Me desculpe Sarah, eu realmente, realmente me arrependo muito. Todos. Os. Dias.

Ela suspirou e massageou as têmporas.

— Realmente não foi seu maior ato. E não foi certo. Não vou mentir e dizer que não me incomoda ou que não me importo, porque sim me incomoda e sim, eu me importo e com toda certeza vou conversar com ele sobre isso depois. Mas ao contrário do que você fez, sua decisão de me contar foi quase nobre. Aprecio isso! 

Cada minuto que passava com Sarah, ela era capaz de me surpreender ainda mais. Por sua sabedoria, senso de responsabilidade e sensatez. Ela era impressionante, como a criei para ser e ainda mais!

— E se realmente se arrepende e promete que não irá repetir, eu te desculpo.

— Realmente me arrependo e prometo que isso nunca mais vai acontecer!

— Tudo bem, então.

Sarah tirou um pacote de balas de café da bolsa, colocou uma na boca e depois esticou o pacote em minha direção, me oferecendo, mas neguei. Ela sempre amou balas de café, como meu avô.

— Depois disso...?

— Depois nós fomos para a casa da minha avó, eu precisava pedir ajuda. Ela arrumou roupas para ele e pediu que nos trouxessem um lanche. Me afastei para atender o celular, minha mãe estava ligando. Então eu atendi, logo ouvi passos se aproximando, era Duck Young, as conversas da minha avó com sua secretária e uma porta batendo. Tudo ficou branco, um vento bateu em nós por aproximadamente um segundo, e então estávamos aqui.

— Interessante. Não há nada aí que indique um portal, são ações comuns...

— Exatamente!

Sarah soltou um longo e cansado suspiro.

— Bom, eu vou para casa e vou pensar sobre isso. Vou ver o que posso fazer com Dong Yul e o Secretário Kim. Dei instruções para que ignorassem e tentassem ao máximo se afastar da polícia, pedi que entrassem na casa somente com um mandato, o que já levantou suspeitas demais para minha direção. Estamos realmente contando com você, Ana Júlia, ou vamos estar com graves problemas.

— Vou me esforçar para solucionar isso da melhor forma possível. — suspirei. — 
Caso que não consiga, vamos usar o plano B.

— E posso saber qual é?

— Dizer que vocês agiram sob coação, que eu os ameacei, por isso me ajudaram.

Sua expressão tomou um ar ainda mais preocupado.

— Espero, de verdade, que esse plano não precise ser usado.

— Eu também...

O celular de Sarah alertou uma nova notificação. Ela checou e pareceu ainda mais preocupada após ler a mensagem. Só depois entendi o porquê.

— A mãe dele está aqui. Quer falar com você. — o pânico sobressaía na voz.

— Diga que estou dormindo!

— Ela vai esperar, com certeza!

— Posso fingir até dormir de verdade.

— Até parece que você não conhece mesmo a senhora Park, Ana Júlia.