Doce Orgulho (Completa) - Série Criminosos Irresistíveis - Livro 2

I - Hoje

Hoje

Tenderloin, São Francisco, Califórnia.

Eu mal consigo acreditar que estou realmente parada em frente a porta de uma espelunca desprezível em uma área pobre de São Francisco. O endereço escrito na tela do meu celular confere, claro.

Finalmente encontrei Romano Fattore. Um desertor da família. Um traidor. Meu marido. O homem que eu procurei incansavelmente pelo mundo por longos oito anos. Bem, talvez não tão incansavelmente assim. Eu, pessoalmente, tinha preocupações bem mais importantes que meu marido covarde. Mas agora, isso é importante para mim. Eu preciso da ajuda do meu marido fugitivo.

Mas Romano se escondeu muito bem. Enganou meus homens, despistou qualquer um que chegasse muito perto. Durante todo esse tempo escondido em lugares que eu não me daria o trabalho de ir, sem a confirmação de que ele estaria lá. Eu podia entender muito bem por que ele escolhera passar o último ano nesse mesmo lugar. Esse bairro pobre de São Francisco, cheio de moradores de rua e gangues que estava sendo invadido por grandes empresas de tecnologia e seus funcionários bem sucedidos. Cantinas veganas em empresas, alguns andares acima de pessoas comendo o que achavam nas latas de lixo. O abismo entre ricos e pobres era exatamente o tipo de coisa que atrairia a atenção de Romano. Ele tinha a necessidade de se preocupar com outros, o mafioso com um coração de ouro.

Um homem velho, muito magro, sai de uma das portas no corredor. Ele me olha por um tempo, como se não entendesse o que alguém como eu faz aqui. Eu estou claramente deslocada, em meu terninho preto de alta costura, limpíssimo e saltos agulha.

Romano sempre fora extremamente inteligente. Não só por vir ao Estados Unidos, tão longe de casa e do alcance da família, mas por escolher um lugar como esse. Com a quantidade de dinheiro que ele tinha, meus homens esperavam encontrá-lo em um resort a beira do mar caribenho com alguma supermodelo em seu colo. O último lugar em que alguém procuraria meu maridinho era em um bairro de operários, trabalhando com construção civil.

Mas para o azar dele e minha sorte, alguém tinha sido inteligente suficiente para procurá-lo nesse buraco.

O homem acende um cigarro e faz questão de esbarrar em mim quando passa. Respiro fundo, controlando minha raiva. Poderia arrancar sua cabeça por ousar encostar em mim, mas não posso me dar ao luxo de me distrair agora.

Eu não me importo com um velho pobre e fodido, o que eu vim fazer aqui hoje é muito mais valioso. Eu tenho planos muito mais ambiciosos para desenvolver e no fim ainda vou levar Romano de volta para a Itália e matá-lo por abandonar a família e desobedecer a mim, a futura Capo de tutti capi. Por desonrar nosso casamento. Bato na porta e espero ele abrir, mas nada acontece.

Eu não posso continuar parada aqui esperando, estou muito longe do meu território, e a situação com a família de São Francisco ainda está por um fio. Estou sozinha e por minha conta, o máximo que meus contatos americanos puderam fazer foi achá-lo, o resto é minha responsabilidade. Puxo dois grampos do meu cabelo, eu já abri cofres, uma porta velha não vai ser problema.

Quebro um dos grampos no meio para improvisar na falta de ferramentas. Empurro para baixo levemente com o polegar até sentir uma certa pressão, é um movimento automático que eu poderia fazer de olhos fechados. A porta abre como se nada tivesse acontecido e eu entro, fechando-a atrás de mim.

O lugar é tão desprezível como o resto do prédio e o corredor. Meus saltos ficam presos no espaço entre uma tábua e outra do piso. Com uma espiada e alguns passos, consigo ver a casa inteira, uma grande mudança para o menino rico que costumava viver em mansões.

Aquilo me atinge como uma faca. Ele poderia ter sido um rei, ao meu lado. Romano teria tudo, dinheiro, poder e o melhor, a mim. Mesmo assim tinha preferido fugir.

Preciso usar o banheiro, mas o lugar é tão precário que desisto depois de uma boa olhada na privada, simploria demais para mim. Volto para a minúscula sala e com muito esforço me sento no sofá de vinil vermelho.

Eu esperei oito anos para encontrar Romano, posso esperar mais algumas horas.