XII - 9 anos antes

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9 anos antes

Milão.

Eu não via mais meu marido. Romano e eu éramos como o sol e a lua em nossa casa. Quando um chegava, o outro ia embora. Eu nem sei explicar o porquê, mas depois do pedido de Gaia sobre eles serem amantes eu simplesmente não conseguia mais olhar para ele do mesmo jeito.

Era extremamente irracional e confuso e eu estava muito insatisfeita com meu próprio comportamento, mas simplesmente não conseguia controlar. Eu não conseguia evitar o sentimento de queimação quando ele me falava que ia passar a noite fora e eu sabia que eles estaria com ela. O nojo que eu sentia quando ele acidentalmente encostava em mim e eu imaginava que ele a havia tocado com aquelas mesmas mãos.

Por isso, resolvi simplesmente não conviver mais com ele. Fiz Dom me deixar passar algumas noites em seu pequeno apartamento na cidade e roubei a chave do loft sem que Romano percebesse. Dividia minhas noites entre os dois lugares.

No começo, meu marido me cercava de todas as maneiras. Tentava me convencer a assistir filmes com ele e Kitty, arrumava desculpas para ir aos lugares comigo, mas com o tempo, ele foi desistindo e eu vi isso acontecer enquanto ele passava a me evitar tanto quanto eu o evitava. Logo, nossa casa que antes era tão viva passou a ser um local gélido e inabitado. Nem Kitty passava mais tanto tempo lá. Ela estava sempre saindo com seus amigos novos e eu quase não a via mais.

Estava partindo meu coração, mas era a única coisa que eu pude pensar em fazer. Era como alguém tinha me dito uma vez: "se você esconder bem seu coração, nunca vão poder tirá-lo de você".

E meu plano estava funcionando perfeitamente bem, até Romano e eu termos que viajar até a fronteira com Turim. Depois do casamento, Salvatore Mancini tinha nos dado um pouco de paz. O último problema que os Mancinis tinham nos causado era a perda daquele território.

E agora, o capo daquela área tinha rompido com Salvatore e estava disposto a negociar conosco. Para isso, teríamos que ser o casal unido e apaixonado que as pessoas precisavam achar que éramos.

Uma coisa era nossos aliados mais próximos saberem que Romano e eu mal falávamos um com o outro ultimamente, com nossos inimigos a história era diferente. Se queríamos conquistar a confiança deles ou ao menos deixá-los com medo, precisávamos parecer uma frente unida e poderosa. Isso tinha sido capaz de assustar Salvatore e todos os nossos outros inimigos, mas se eles soubessem que nosso castelo era na verdade feito de areia e que um simples sopro seria capaz de fazer tudo desmoronar, Romano e eu estaríamos perdidos.

Por isso, viajamos juntos de carro até rodovia afastada onde encontraríamos Bruno Conti. Romano insistiu que tivéssemos mais dois carros com homens para nos proteger, um liderado por Max, seu braço direito e outro por Dom. Eu não discordei.

O dia estava muito quente e a estrada deserta quando Romano abriu a porta do passageiro para mim.

— Eu sei que você me odeia por algo que eu nem sei o que é — ele disse, do outro lado, dois carros escuros se aproximavam de nós. — Mas essas pessoas não podem ver incerteza entre nós.

— Não se preocupe — respondi.

Eu sabia exatamente o que ele queria dizer. Nesse tipo de negociação, as coisas podiam dar errado muito rápido. E se Romano me dissesse para pular, ele precisava ter a certeza que eu faria isso sem pensar duas vezes. Assim como eu precisava ter essa certeza em relação a ele.

E eu tinha. Por mais que ele não falasse comigo há meses, eu tinha certeza. Será que ele poderia dizer a mesma coisa sobre mim? Nem eu sabia.

Os carros pararam a alguns metros de nós e dois homens saíram na frente seguidos por um par de soldados.

Doce Orgulho (Completa) - Série Criminosos Irresistíveis - Livro 2Onde histórias criam vida. Descubra agora