XXVII - Mikhael Rurik

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Hoje

Napa, Califórnia.

Meu plano era infalível. Criar planos que pareciam propensos a darem errado era meu hobbie. Fazê-los darem certo já é uma história que requer um pouco mais de esforço. A ideia de Romano era boa, matar Domenico. Eu tinha transformado isso em uma falsa fuga, em que eu sabia que Christopher MacLaine iria interferir, quase como se alguém o tivesse avisado. Sem chance de que ele deixaria sua filha ir embora para a Europa com um bando de mafiosos. Adicione a isso um colete a prova de balas e uma morte falsa e pronto. Nada poderia dar errado.

Eu só não contava com o fato de que Kate decidiria virar uma assassina bem no meio disso tudo. A garota tinha tinha atirado no próprio pai. Duas vezes. Era algo que eu esperava de mim, não da doce e inocente Kate. Isso me pegou completamente de surpresa e me fez vacilar por um breve espaço de tempo. Por sorte, eu tinha conseguido colocar ela dentro do carro, manda-la para casa, arrastar Domenico desmaiado até o avião com a ajuda de Romano e sair dali antes da polícia chegar.

Só que isso era péssimo. Nós não sabíamos o que esperar. Quanto tempo demoraria para a polícia chegar até nós? Esse era um país estranho, eu não estava em casa aqui, não poderia sair subornando as pessoas como em casa. Domenico, Romano e eu precisariamos nos esconder por um tempo, por isso estávamos isolados na casa de Napa. Enquanto isso, meu pai biológico estava sendo mantido em um galpão abandonado e Max não respondia mais minhas ligações. Todas as merdas estavam explodindo juntas.

Até do cavalo de Domenico eu tive que cuidar. Tudo sobre ele tinha que desaparecer.

Enquanto Lorelai cuidava de fazer tudo parecer um roubo qualquer, só nós restava o isolamento. Era meu maior pesadelo, ficar presa em uma casa com Domenico apaixonado sofrendo de saudade e Romano. Meu marido fugitivo.

Por sorte toda a merda que Kate tinha causado se resolveu em alguns dias. Meu plano tinha funcionado. Perante a todos, Domenico estava morto e enterrado em São Francisco com um nome falso. A família tinha sentido sua perda quando eu contara, mas ninguém tinha suspeitado de nada. E sobrara para mim o trabalho de ir até Santa Bárbara buscar sua namoradinha, a última ponta solta. Mas meu plano incluía ela também. Todos já achavam que Kate era louca. Seu pai tinha me feito o favor de interditá-la. Só precisavamos interná-la novamente naquele hospício ridículo e ela e Domenico ganhariam novas identidades.

Eu tinha feito um ótimo trabalho com o plano todo. Até aguentei as demonstrações de carinho nojentas entre Domenico e a americana quando se reencontraram. Dei a eles dinheiro e novos nomes. E um aviso, uma vez feito isso, não teria volta. Domenico e Katherine estariam mortos. Meu irmão, Dom, estaria morto. E, sinceramente, isso estava partindo meu coração.

O coração que eu lutava tanto para esconder estava sendo massacrado. Eu nunca mais veria o Bello. Nunca mais. Eu sentiria muito sua falta. Todos os dias. E suas últimas palavras para mim tinham sido um pedido para que eu desse mais uma chance a Romano, como se tudo já não estivesse fodido o suficiente.

De todo jeito, eu esperava do fundo do meu coração que Domenico fosse feliz. Ele merecia.

Com esse assunto resolvido, eu poderia finalmente me focar no fato de Max não atender minhas ligações. Isso não poderia ser um bom sinal. Por isso, a primeira coisa que fiz quando coloquei os pés em São Francisco outra vez, foi ir até o galpão abandonado. Romano estava ao meu lado, contra sua vontade e reclamando.

— Você não vai mesmo me dizer o que estamos fazendo aqui? — pergunta pela milésima vez.

— Você vai descobrir em breve — eu digo.

O galpão está vazio. Nenhum sinal de Max ou do meu pai biológico. Checo todo o local uma segunda vez antes de desistir e voltar para o apartamento. Romano entra na frente, murmurando algo sobre estar com fome enquanto eu fico no hall, tirando minhas botas. De repente ele fica muito em silêncio, o que ele não faz nunca.

— Você morreu aí? — grito para ele.

— Não, mas vai em breve. — Sinto um metal frio ser pressionado a minha nuca. Uma arma. Reconheço a voz. Mike Ricci está em meu apartamento. Vejo pelo reflexo da porta Romano caminhar até a sala, um homem apontando uma arma para ele.

— Podemos resolver isso — falo, tentando acalmar as coisas enquanto me viro de frente. Ele joga uma fita cinza para mim.

— Amarre seu namoradinho.

Eu obedeço. Com toda a calma do mundo vou até Romano, na sala e começo a amarrar seus pés juntos. Ele me olha com preocupação e sem entender nada.

— Se vocês querem dinheiro ela tem um cofre cheio dele no andar de cima — conta. — Ninguém precisa se machucar.

— Não foi isso que seu bichinho de estimação disse quando me sequestrou.

Max. Meu quase amigo, fiel soldado, Max. Que provavelmente está morto agora. Uma lágrima me escorre de um olho e Romano entende. Vejo em seu rosto quando ele entende.

— Não se preocupem, ele não sofreu. Muito.

Maldito. Maldito seja Mike Ricci. Enquanto prendo as mãos de Romano, pondero minhas chances. Minha arma está dentro da bota no pé que ainda estou usando. Se eu quiser, posso pega-la. São dois homens. Posso matar os dois, antes que atirem em mim, mas a chance de eu mate-os antes que atirem em Romano é mínima. E, infelizmente, esse é um risco que eu não posso correr.

— Mike, isso tudo foi um grande mal entendido.

— Paradinha aí! — ele grita. Isso não é bom, ele está nervoso. — Sua arma — pede.

— Não estou armada — minto. Ele atira na coxa de Romano, que solta um grito abafado e cai sentado no sofá.

— Não minta para mim. Sua arma, agora

Não tenho escolha. Tiro a arma e a bota e com cuidado entrego minha única possibilidade de defesa a ele.

— Se amarre.

Eu obedeço, prendo meu pés e mãos e me sento ao lado de Romano.

— Agora sim podemos conversar — ele relaxa. — Por que você e seu bichinho me sequestraram? Quem é você, porra?

— Se eu te disser, você vai nos matar.

— Queridinha, você não está em posição de negociar nada aqui.

Meu cérebro está trabalhando a todo vapor. Calculando minhas chances. Mike está sentado bem à minha frente, a uns dois metros. Seu capanga está atrás do sofá, os dois apontam armas para nós.

— Eu sei quem você é — digo. — É por isso que estou aqui.

Vejo que ele não esperava essa resposta.

— Você é Mikhael Rurik. Você é meu pai.

Ele fica em choque por alguns segundos, eu percebo.

— O que? — Romano pergunta. — Que merda é essa?

— Ela é um ex mafioso russo — eu explico. — Ele é meu pai biológico.

— Como? — Mike, Mikhael, ou qualquer que seja seu nome fica ainda mais confuso.

— Como eu sei? Porque eu estou procurando você a oito anos. Rastreando seus passos.

— Por quê? — Romano indaga.

— Como assim, por quê? Foi você quem me deu a ideia — explico ao meu marido. — Você me disse na sua carta, "pais são a chave". Eu deduzi que você estivesse falando do meu pai biológico. Não foi por isso que você fugiu?

Ele não responde, mas eu percebo que Romano não tem ideia do que eu estou falando.

— Eu não sei que merda está acontecendo aqui, mas minha filha está morta.

— Não, não está. Quando você me deixou para morrer, os italianos decidiram me adotar e me criar. Eu estou viva.

— Pode até estar agora, mas não por muito tempo — ele anuncia.

Doce Orgulho (Completa) - Série Criminosos Irresistíveis - Livro 2Onde histórias criam vida. Descubra agora