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A lasanha de Max estava realmente uma delicia- Simplesmente gostosa pra ser exata. Após tantos preparos e seu empenho ele a deposita em uma forma de vidro. Depois a pousa no centro da mesa e sorrindo pega um dos vinhos do frigobar. Seu entusiasmo me faz rir baixinho. Num só pulo Livana pega a garrafa de sua mão e enche um dos copos de vidro. Mas rapidamente tomo o copo de sua mão e balanço a cabeça.

- Nem pensar mocinha. A Senhora agora come por dois e bebe também por dois. Ou seja nada de bebidas alcoólicas.- Brigo colocando o copo na mesa e ela faz bico. Max sorri com minha reação, mas não se manifesta e resolve organizar talheres, copos e pratos. Garçom nato. Chefe de mão cheia. Por dentro me encho de orgulho. Com uma rapidez imensurável ele termina de organizar tudo. Eu e Livana nos sentamos a mesa, enquanto Max nos observa de testa franzida, mordendo com voracidade o interior da boca e se encostando no batente da pia. Cruza os braços sobre o peito. Parece preso em seus pensamentos. Corpo em um lugar. Pensamento em outro. Olhando lentamente de mim pra Livana.

Dei de ombros. Preciso me focar.

Dou minha quinta garfada e ele me analisa. Qual minha expressão. Minha forma de comer. O jeito que passo a língua pelo lábio inferior pra aproveitar cada pedacinho de sua lasanha. Uma parte minha quer que ele me observe, que me deseje até quando estou comendo. Que sinta quanto poder exerço sobre ele. Que se sinta encantado e fascinado por minha forma de saborear seu prato, mas logo a realidade vem atôna e o encaro.

- Não quero ser grossa mas por favor Max pare.- Peço e ele coça a nuca como se não entendesse o que eu disse.

- Quer que eu pare o que exatamente Lia?- Reviro os olhos. Ele sorri. E volto a me deliciar e a namorar a lasanha.

De esguelha vejo Livana totalmente dispersa da nossa "conversa". Ela parece louca de fome, também comer por dois não deve ser fácil. Mas acredito que pra alguém que já teve um filho, ter mais um deve ser moleza. Pelo menos é o que eu acho. Quando penso que já teve mais que o suficiente da lasanha, ela tira da forma mais três grandes pedaços e os devora sem se importar com ninguém.

Engulo em seco. Será que ser grávida é bom? Bem acho que é bom. Ou não é. Simplesmente não sei, aliás isso nunca passou pela minha cabeça. Só de pensar em ter um filho ou em morar em uma casa a três fingindo estar feliz, suportando todas as vezes que meu suposto marido chega tarde do trabalho e briga comigo sobre qualquer coisa, que manda em mim toda hora, que toda vez que brigamos nosso filho chora e grita aos berros. Só de pensar em tudo e de me deixar dominar por um simples momento. Extremeço completamente. Solto o ar que nem sabia que estava preso.

As horas passam e minha irmã grávida e xereta, não para de elogiar Max á horas. Ele sorri a todo momento e resolve nos explicar como aprendeu. Bufo.

- Bem não foi tão difícil assim... Apenas aprendi enquanto observava dona Lucy, ela nunca me viu cozinhar e na maioria das vezes eu fazia escondido, não consigo entender por que vazia isso, ela era minha mãe. Eu não deveria lhe esconder nada...- Levanto os olhos e o analiso. Apesar de ser novo Max parece maduro em suas palavras e sabe se expressar como ninguém. Isso mas uma vez me admira. Amo quando um homem sabe o que quer e principalmente quando tem um objetivo. Vejo isso nele, seu jeito brincalhão de garoto, mas os braços largos e andar desafiador. Totalmente um desafio. Um desafio pra mim. Pisco varias vezes e ele por fim pergunta:

- Lia... Me desculpe pela pergunta, mas preciso saber o que achou. Já tenho resposta suficiente de Livana...- Arqueio as sobrancelhas e olho por cima de seus ombros. Do outro lado Livana sorri e bate palminhas silenciosas pra mim. Mostro um meio riso.

- Lia por favor maninha tanto eu quanto Max queremos saber e não adianta mentir.- Intervém recolhendo os pratos da mesa e os levando pra pia. Ela parece cansada, mas se comporta como se estivesse forte. Deixo passar alguns minutos em silencio e por fim respondo:

- Bom tenho que admitir Max, você me surpreendente cada vez mais... Esta delicioso... Parabéns.- Com um sorriso amplo ele se esquece que Livana esta entre nós e me abraça. Fico sem jeito, mas retribuo o abraço. Não entendo o por que de tanta felicidade eu apenas lhe dei minha opinião.

Será que minha opinião é tão boa assim?

- Agora sem demora. Lia se arrume e vá pro seu encon... Quer dizer passeio.- Comenta dando risada. Ela sabe muito bem que não quero ir e que nunca fui boa em passeios, muito menos encontro- Sempre fui um verdadeiro desastre. Quando adolescente eu até tentava sair com alguns garotos. Mas sempre me saia mal. Ainda me lembro do pobre Benjamin- Lindo, olhos castanhos claros, jeito extrovertido, cabelo liso caído pro lado e seu corpo musculoso... O que não tinha nada a ver comigo, eu era uma verdadeira ameba na arte de paquerar. Enquanto ele sorria alegremente durante nosso encontro em uma praça de Vancouver, eu comecei a soar frio, sentindo uma leve queda de pressão. Não sabia o que estava acontecendo comigo.  Simplesmente aconteceu. Eu estava fazendo tudo certo, do jeito que Livana, Mônica e Susy haviam me ensinado "Independente de tudo sorria e tente se distrair olhando pras pessoas ao redor isso vai ajudar" diziam pra mim enquanto eu me arrumava. Eu só não me sentia bem com a multidão, nunca me senti. Para mim todos estavam me julgando, me olhando feio. Apenas esperando por um deslize sequer meu para dizer que eu não sabia o que estava fazendo, que eu era louca. Me acusando com seus olhos penetrantes, foi tudo muito rápido.... De repente no meio de tanta adrenalina, Benjamim sem saber o que estava se passando em minha cabeça perturbada me abraça. Fico nervosa com sua aproximação e lhe dou um soco no nariz - Ele fica sem ação se afasta de mim e passa as mãos pelo nariz que sangrava me denunciando. Tradução: Depois disso Benjamin tentou voltar a sair comigo, mas meu pânico só aumentava. Me manter isolada e longe de qualquer pessoa foi minha salvação. Evitei ligações e tinha medo até de sair de casa. Sai com vários garotos, homens até. Mas a mongolóide aqui ficava em pânico toda vez que olhava as pessoas. Pra mim seus olhos iriam ser a minha perdição. Não sei dizer quando exatamente isso tudo começou. Eu não era uma garota extrovertida muito menos festiva, mas não tinha tanto medo assim. Minha única explicação é o subconsciente. Já que o ser humano é tão complexo. O engraçado é que apesar de sentir tanto medo, atualmente tenho lidado muito com olhares críticos e admiradores. Me tornei escritora e por mais que não queira tenho que enfrentar a todos.

Mamãe lutou para que eu fosse fazer terapia com um de seus amigos psicólogos. Mas na época pra mim psicólogos eram pra doidos. E sinceramente acho que não consigo me abrir com ninguém. Não confio em psicólogos, eles falam do seu profissionalismo da ética profissional e totalmente respeitosa que não devem dizer nada que o paciente lhes fala a ninguém, que esta na lei deles, mas não confio. Pra mim toda essa "conversinha" de profissionalismo e seus "rostinhos" dizendo: vai ficar tudo bem, pode confiar! É tudo mentira.  Pisco algumas vezes e volto pra realidade.

Preciso me libertar, mesmo que não queira eu preciso.

Atração MalditaOnde histórias criam vida. Descubra agora