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As vozes na mesa de jantar zumbiam em minha cabeça como névoas flamejantes.

Por que mesmo eu estava ali?

Meu foco principal nem em sonhos se encontrava ali. Tentava me concentrar o máximo que podia, olhar para eles e fingir interesse, não queria ouvir mais perguntas da Dona Zoe sobre casamentos e digamos que Paul é bem mais interessante quando está longe de mim, e agora ele estava a tagarelar enquanto degustava lentamente a sopa de lentilhas preparada por minha mãe. Servindo pela terceira vez Ethan, Livana o manda sentar numa cadeira ao seu lado e se aproxima de mim sentando-se e me encarando de testa franzida.

— Essa preocupação toda é pelo Max?— Sua pergunta faz mamãe me olhar do canto do olho. E espero mentalmente que ela não tenha escutado o nome de Max, ou então mais perguntas virão.

Logo ela desvia o olhar intrigante de mim, pra admirar Paul em mais um de seus comentários sobre suas viagens pelo mundo.

Ele não podia ser menos convencido?

— Q-que? Não, não estou preocupada com ele...— Sem querer engasgo olhando.

Infelizmente Livana apenas ri e dispara:

— Ah, vá. Tá escrito nos teus olhos Lili, o quanto você ama ele!

Minhas pernas tremem, mas as controlo e fuzilando a incansável Livana, rebato:

—... O engraçado irmãzinha é que confiei em você. Como pode me dedurar pra mamãe? Sabe que odeio essa implicância dela.— Sussurro implorando mentalmente que ela faça o mesmo e como se lêsse minha mente ela o faz.

— Ei, não me culpe tá legal? Tu sabe muito bem o quanto é impossível esconder algo dela.— Protesta.

Ethan come tudo do seu prato e sai aos pulos com um sorriso no rosto. De longe vejo papai bocejar mais uma vez, mas persistente ele insiste em ficar ao lado de mamãe que não deixa de rir a cada palavra de Paul em suas deslumbrantes viagens.

— Sim, mas...

Sinto o braço direito de Livana ligeiramente abraçar meus ombros.

— Sei o que tu pensas e não.

Pisco confusa.

— Não o que?

Ela balança a cabeça.

— Não contei sobre o Max, se é o que está pensando.— Solta sorrindo de lado.

— Não?— Arregalo os olhos pra ela que apenas suaviza o olhar pra mim.

— É Lia não. Eu nunca faria isso com você. Só ainda não consigo entender por que não assume logo.

Bufo e levo as mãos até meu cabelo massageando o couro cabeludo.

— Tu sabe por que, não me obrigue a repetir... Eu...

Sem fome ela pega sua colher e a movimenta no meio do prato fazendo a sopa girar.

— Lia, minha irmã para de se importar com o que pensam sobre você.— Comenta de sobrancelha arqueada—... Lute por isso. Por vocês. Por ele...— Seu olhar apaziguador me faz querer chorar e antes que isso aconteça engulo em seco.

Paul está aqui e preciso ser firme. Nada de fraqueza.

— Não é assim tão fácil Liv...

Ross... Tudo bem?— Interrompe Paul já de pé ao meu lado.

Não, não está nada bem, você está aqui conversando com meus pais como se quisesse conquistá-los! Não está nada bem.

— Hum... Tudo Paul, tudo ótimo... Só não me sinto bem.— Falo sem levantar os olhos pra ele que insiste em ficar no mesmo lugar e ainda toca meu cabelo.

Rapidamente mamãe esta a minha frente me observando com seu olhar materno.

— O que foi querida? É tontura? Enjôo?...

Reviro os olhos. E lá vem ela achando que sua filha mais velha está grávida. Eu mereço.

— Não mãe, eu só... Preciso descansar só isso.— Murmuro a contragosto e vejo papai acenar que sim com a cabeça.

Cor ar preocupado Paul se aproxima ainda mais e toca em minhas mãos.

— Quer que eu te ajude a chegar em seu quarto?— Intervém e mesmo sem olhar pra mamãe consigo imaginar seu sorriso se ampliar.

Não Paul, quero que vá embora daqui e que me deixe em paz!

Inspiro fundo.

— Não precisa... Tenho plena certeza de que consigo ir sozinha até meu quarto.— Falo levantando rapidamente da cadeira e ele franze o cenho.

— Tudo bem... Boa noite então Ross!— Balbucia beijando rapidamente minha testa e de esguelha vejo mamãe cutucar a barriga de papai que fecha a cara pra Paul.

Não devolvo o cumprimento. Apenas saio decididamente entrando em meu quarto. Logo que entro fecho a porta e me dispo, ficando apenas de calcinha. O frio não está tão ruim afinal, pelo menos não pra mim. Mas e ele? E Max onde terá ido? Ah, Max... Volte. Volte pra mim.

Sem pensar me jogo na cama e me enrolo entre o cobertor deixando de fora apenas o rosto. De repente meus olhos pesam e a preocupação se dissipa dando lugar a cansaço e sono. Fecho os olhos e deixo os sonhos fluírem.

— Lia... Lia... Lia...— Chama uma voz desesperada.

Abro lentamente os olhos e confusa começo a coçá-los com as costa dos dedos.

Espero novamente a mesma voz me chamar e nada. Encolho os ombros. Então me jogo novamente na cama, fechando os olhos, mas logo os abro quando a voz volta a me chamar:

— Lia... Lia... Lia...— Me chama a voz masculina que por estar abafada fica difícil reconhecer pela terceira ou quarta vez.

Levanto da cama irritada, e atônita pego meu roupão cobrindo meu corpo. Rolo os olhos pela escrivaninha e vejo no meu despertador que já passam das 1h00 da madrugada. Reviro os olhos. Saindo do quarto observo todos os cômodos a espera de alguém ou do dono da voz e nada até que a voz insiste:

— Por favor... Lia... Minha Lia...— Grita a voz com mais intensidade ainda.

E só de mencionar "minha Lia" , tudo em mim se arrepia me causando uma leve excitação. É ele, precisa ser.

Engulo em seco e marcho até a porta de entrada.

— Max?— Pergunto ao vê-lo encostado no portão.

Seu olhar me captura meio perdido. E mesmo assim ele vem cambaleando até mim.

— Oi... Minha Lia... E-eu te amo... Te amo. Tentei com ela, mas ela era chaaaata... Falava de você... Ela falava de você, acredita? Eu.. Eu não podia deixar. Vo-você é tudo pra mim... Tudo!— Diz arrastando cada palavra com a língua.

Pisco incrédula o observando. Ele está bêbado, descamisado, descalço, e apesar de ver seu jeito estúpido de falar, por odiar vê-lo tão imprudente e todo o atrapalho na voz me sinto atraída por cada pedaço desse garoto. Há uma eletricidade entre nós impossível de ignorar. Eletricidade irritante. Minha vontade é retribuir todas as palavras que me diz. Mas não consigo então apenas o seguro pelo braço de modo que ele se apóie em mim.

— Seu cheiro... Esse jeito, eu amo. Amo Lia. — Murmura tentando me roubar um beijo, mas desvio da sua boca e com um pouco de impulso consigo fechar a porta atrás de mim. Em seguida ando o arrastando comigo.

Atração MalditaOnde histórias criam vida. Descubra agora