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— Não adianta negar Lili, já sei de tudo.— Esbraveja mamãe batendo os pés a minha frente e cruzando os braços.

Tudo ela disse, tudo?

— Tudo?

Bufando e interessada em me fazer perguntas senta-se no sofá entre meu pai e eu.

— Sim, que você já tem alguém e eu como sua mãe quero saber... Por favor querida...

Balanço a cabeça. Só tem uma pessoa capaz de ceder as perguntas ilimitadas de minha mãe.

Com um semblante de culpa Livana sai da cozinha e se escora sobre a parede ao lado. A observando consigo ler de seus lábios um simples: "Desculpa". Inspiro lembrando da maldita confissão que fiz sobre mim e Max pra ela. Um arrepio percorre todo o meu corpo e a imagem de Max vem em minha cabeça. Não acredito que ela fez isso? Expôs minha vida pra ela? Justo pra Senhora impulsiva que não vê a hora de ter mais netos pelo quintal?

Droga.

Levanto do sofá e controlo a respiração voltando o olhar para os olhos curiosos de mamãe que se instala no sofá cruzando as pernas ao lado de papai. Os dois parecem tão felizes juntos que sem querer meus pensamentos vagueiam em busca de Max e seu súbito sumiço. Ele deveria estar aqui. Por que tem que ser tão teimoso? Seria tão mais fácil se eu pudesse controlá - lo...  Mas se eu pudesse, ele não seria o Max.

— Com licença... Desculpe incomodá-los...— Diz uma voz vinda do corredor da sala.

Seu suéter branco e cabelo recém molhado dão a leve impressão de ser despojado e de uma elegância natural. Paul. Seu olhar vai de mim até mamãe que boquiaberta o admira. Papai ao seu lado parece incomodado com ambos os olhares. Também não o culpo, ter em sua vida uma mulher linda e com um olhar sedutor não deve ser fácil. Dona Zoe sabe ser manipuladora quando quer.

—... Paul... O que faz aqui?— Intervenho o olhando feio e ele apenas encolhe os ombros.

— Querida, isso são modos? Seja bem vindo... Por favor sente-se.— Interrompe mamãe levantando do sofá e convidando Paul para sentar na poltrona ao lado da janela.

E a única pergunta que surge em minha cabeça é... O que ele faz aqui?

— Bom, obrigado, mas vim apenas lhe entregar seu manuscrito Ross.— Paul balbucia trazendo nas mãos uma das minhas agendas douradas que sempre carrego quando as inspirações de histórias vem em minha mente.

Ele se aproxima de mim e incrédula pego o objeto de suas mãos. Lembro perfeitamente de ter guardado ele na bolsa, sai do escritório alguns instantes antes de ir embora, precisava conversar com Alexandro sobre o livro publicado, mas jamais deixaria algo assim de tão importancia no escritório. Jamais.

—... Eu, pensei que teria...

Ele ri irônico.

— Sim, pensou que teria  guardado, mas acho que deixou cair quando andava apressadamente pelo salão da empresa.— Diz tentando não ser severo demais, o que infelizmente não acontece. Posso ver em seu olhar sério o quanto odiou ter me visto sair as pressas.

— Oh...

Fico sem jeito com o olhar reprovador de mamãe e engulo em seco.

— Eu ainda te chamei, mas já era tarde e você estava naquele momento atravessando a avenida no carro.— Fecho os olhos lutando contra a vontade de mandar-lhe calar a maldita boca. E os abro permanecendo em silêncio.

Pisco algumas vezes e não lembro de ter esquecido manuscrito nenhum. Impossível eu esquecer de algo assim. estava realmente exausta e toda minha energia estava querendo correr para casa. Max invadia minha mente toda hora, tudo ao meu redor me sufocava de tal forma que ficar lá só me deixaria maluca.

Mesmo sem lembrar, assenti e agradeço Paul:

— De qualquer modo, obrigada Paul...

Mesmo sem olhar pra mamãe sinto seu sorriso brilhar ao nos ver.

— Tudo bem, nos falamos depois Ross.— Fala piscando um dos olhos azuis pra mim.

Desvio o olhar dele e me afasto indo até a janela.

— Não quer ficar pra jantar Senhor Paul? Garanto que sei fazer um jantar daqueles.— Sugere mamãe e de esguelha vejo Paul coçar a nuca indeciso.

Ele não pode jantar aqui... Isso não.

— Melhor não Dona Zoe, Paul é um CEO muito ocupado.— Comento torcendo para que ele desista— ... Não creio que...

Ele abre um riso de orelha a orelha como se soubesse o que eu pretendia e diz:

— Falando assim você me ofende Ross. Claro que fico, não são reuniões de trabalho que me farão negar um convite tão acolhedor.

Nosso olhos se cruzam e mesmo que ele não diga nada, vejo que era tudo o que ele queria. Passar algumas horas com os pais da Ross. Com os meus pais. Entorto a boca e hesitante apoio os cotovelos sobre o batente da janela. Nesse momento até Paul é um dos menores problemas pra mim, não que tê-lo em minha casa e tão íntimo não seja um martírio, sim é frustrante e sei que enquanto ele estiver aqui mamãe vai criar expectativas sobre amor e toda essa baboseira de relacionamento a dois. Mas não saber onde ele está, ficar sem sequer noticias suas, saber que está perto e longe ao mesmo tempo... Isso tá me torturando. Max, a noite vai acabar e eu me odeio loucamente por dizer isso mas... Preciso de você!

Atração MalditaOnde histórias criam vida. Descubra agora