CAPÍTULO TRÊS

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~~ passado, presente e futuro ~~

UMA SEMANA. Daniel havia se mudado havia uma semana e já estava encontrando problemas com a vida sozinho.

Não que não soubesse cuidar de uma vida sozinho, é só que tinha passado tanto tempo acostumado a ter uma pessoa ao seu lado que não sabia muito bem como se comportar estando sozinho.

Tinha ido da casa dos pais para a casa com Eliana, e de Eliana, de volta à casa do pai. Foi um passo importante e grande ter que se mudar para uma casa sozinho, embora incrivelmente necessário. Ele precisava passar por isso, e depois que a ficha caiu sobre o término com a ex-namorada de tantos anos, percebeu que era isso mesmo que precisava. Esse era o próximo capítulo da vida dele. Ele só tinha que aprender a escrevê-lo da forma certa.

✩✩✩

ASSIM QUE SAIU da casa de Rebecca, pulou para seu quintal e observou a bagunça que ficara. Nem queria entrar na casa; sabia que lá dentro estava duas vezes pior. A piscina precisava de uma limpeza pesada depois do mergulho do cachorro, mas não era comparada ao estado urgente do interior. A cozinha estava duas vezes mais caótica do que a cozinha na vizinha, a sala parecia o centro de um furacão, e os quartos estavam quase perdendo o posto de lugar confortável para dormir (aliás, ele tinha dormido na sala nos últimos dois dias, tamanha a preguiça de colocar todas as roupas e tralhas dentro do guarda-roupas). Agora, às seis horas da tarde, Daniel queria tudo - um banho gelado para matar o calor daquele dia de março, mesmo já quase caindo a noite; queria também uma cama confortável e estar livre de trabalho pelos próximos quinze anos - menos entrar na casa e ter que se deparar com aquela bagunça, totalmente de responsabilidade sua.

Morar com outra pessoa tinha isso: nem sempre a responsabilidade da bagunça era sua. Nem sempre era seu dia de lavar a louça e muito menos espanar todos os móveis da casa, e limpar a estante - a mais trabalhosa de todas as tarefas. Mas agora ele estava sozinho, e tinha que encarar.

Como um guerreiro entrando na zona de batalha, Daniel ergueu o queixo e se enfiou dentro da cozinha. A pia estava cheia de pratos, e foi uma revelação ver que eles não se lavavam sozinhos. E aquele pano molhado ainda estava molhado e sujo em cima da mesa. Argh. Ele o jogou dentro de um balde com água, dentro do banheiro e despejou quase meio litro de água sanitária. Isso deve bastar, pensou. Se não queimasse o pano, bastaria.

Aí Daniel entrou na sala. Todas as caixas ainda estavam fechadas, metade lacrada, metade ele só abriu para tentar achar a caixa de roupas - já que não tinha etiquetado nenhuma delas - e quando achou, deixou todas as outras fechadas. Por sorte tinha aberto também a caixa de pratos, copos e talheres, e de roupas de cama. Ele tinha tudo o que precisava para viver por pelo menos um ano, quando sentisse necessidade de olhar os álbuns de fotos ou consertar alguma coisa com as ferramentas enfiadas em alguma caixa de papelão por ali.

Nota mental: etiquetar as caixas na próxima mudança.

O soldado logo desistiu da batalha e se entregou: passou reto para o quarto, moveu as roupas da cama a escrivaninha, por cima do laptop e alguns livros perdidos, e caiu na cama. Mas logo sentiu uma coceira irritante no cérebro. Ele não estava acostumado a se entregar e não fazer nada. Tinha que se movimentar, falar com alguém, trabalhar um pouco. Mesmo vendo que aquilo ia lhe causar arrependimento em pouquíssimo tempo, Daniel saltou da cama, suspirou derrotado e partiu para a sala, rapidamente abrindo todas as caixas que viu pela frente. Não tinha mais volta, ele tinha que arrumar tudo. Eram seis e meia da noite. Antigamente ele teria até às sete e meia para arrumar a casa - a hora que Eliana chegava do trabalho nos dias em que precisava adiantar o serviço. Agora, ele tinha até a hora que seu corpo sentisse cansaço para arrumar tudo aquilo.

O Amor (nem sempre) Mora ao Lado (À Venda Na Amazon)Onde histórias criam vida. Descubra agora