~~ sonhos e realizações ~~
Rebecca sonhava demais.
Mas, de uma forma só sua, conseguia conciliar os sonhos com manter-se de pés grudados no chão. Ela sabia que sonhar era bom, a mantinha feliz e ansiosa pelo futuro, mas, segundo seus pensamentos sempre ávidos, não adiantava de nada sonhar, buscar, correr atrás e não conseguir.
Então, aconteceu assim: quando ela descobriu a máquina de costurar velha de sua avó, encostada no canto da sala de sua casa, pensou que daquilo podia sair um sonho que se encaixava no seu orçamento de "realidade". Ela ficou fascinada pela arte da costura, e em como as coisas simplesmente apareciam em forma de roupas, quando no começo eram apenas pedaços rasgados de panos e retalhos. Rebecca passou três anos da adolescência costurando suas próprias roupas, até que começou a desenhar os croquis. E o próximo passo foi receber pessoas em casa e costurar roupas que fugiam de suas medidas, roupas que não serviriam para ela, mas agradariam outras pessoas.
Estava sendo construído ali um sonho.
Tudo bem, ela teve que convencer os pais a comprar todo tipo de tecido existente, todas as cores de linha, todos os materiais possíveis para que o trabalho fosse feito, e em troca disso seu pai a fez limpar o jardim da casa uma vez por semana, e ficar de babá dos gêmeos da tia Fernanda nos fins de semana. Nos fins de semana! A vida de adolescente de Rebecca foi mesmo badalada: linhas, tecidos e vômito de bebê.
Mas, ela sabia o que queria, fincou os pés no chão e começou a trabalhar cada vez seguindo o caminho de realizar o sonho que tinha sido implantado em sua cabeça: um dia, abrir sua própria loja, boutique ou ateliê.
E agora, dez anos depois, ela estava conseguindo, finalmente, ter um vislumbre desse sonho realizado.
Só as despesas, o dinheiro, a logística, mão de obra e, basicamente, tudo envolvendo a loja depois da compra do imóvel tinha se mostrado muito mais difícil na prática do que na teoria.
Mas um sonho é um sonho, e Rebecca se levantou naquele dia, marchou na direção do centro da cidade com seu futuro-vendido carro e deu conta das tarefas do dia. Quando ela lembrou que naquela tarde, por volta das 15 ou 16 horas, o vizinho-coincidentemente-também-o-marceneiro-responsável-pelas-prateleiras-da-boutique apareceria por lá, ela respirou fundo e passou as próximas horas esperando por isso. Não porque ansiava vê-lo, mas porque Clara ainda não tinha aparecido desde que saíra, as dez da manhã, e porque Giovanna estava mais presente no plano virtual do que ali, na mesma sala que ela, e só murmurava monossilábicos às perguntas de Rebecca. Por fim, Becca desistiu e apoiou o queixo na mão, o olhar fixo na tela do computador, esperando os vegetais da FarmVille crescerem. Faltava uma hora e quarenta e oito minutos.
✩✩✩
Rebecca Nonato enviou-lhe uma solicitação de FarmVille!
Gio para Rebecca, 13h23, via WhatsApp:
Para de me mandar essas solicitações de jogos que só nossas mães jogam, aff
Gio para Rebecca, 13h24, via Whatsapp:
Pq tá me olhando desse jeito???
Gio para Rebecca, 13h24, via Whatsapp:
Alôôô, Rebecca! Chamando planeta terraaaa!
Becca para Gio, 13h24, via WhatsApp:
#$@!$*
✩✩✩
— Ei! — Rebecca acenou ao ver Daniel saltar da van. Debaixo do sol, ele franzia a testa.
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O Amor (nem sempre) Mora ao Lado (À Venda Na Amazon)
General FictionBecca namora Louis há dois anos. Dan acabou de sair de um relacionamento de sete, traído e magoado. Ambos estão em momentos conturbados da vida quando se conhecem, e isso faz com que criem um laço de amizade forte e praticamente...