CAPÍTULO OITO

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~~ tradições de família ~~

Daniel não esperava que Rebecca fosse bater na sua porta a qualquer momento.

Tinha passado dias pensando que ela iria simplesmente esquecer sua existência ali, até porque ele tinha sido a pessoa chata da situação, ignorando e fugindo, desde que o reflexo da conversa com Eliana tinha afetado seu trabalho. Ele agiu de forma grosseira com ela, que não tinha nada a ver com a ex-namorada, e esperava poder se desculpar com um bolo que estava se provando muito difícil de ser feito (algo que sua mãe com certeza não tinha lhe dito).

Era uma tradição na família Ríncon: pedir desculpas com comida.

Segundo a avó, e depois a mãe de Daniel, nada demostrava mais a sinceridade do pedido de desculpas do que comida. Principalmente comida preparada por você mesmo. Acontece que Daniel nunca tinha precisado cozinhar as "comidas de desculpas" antes. Não porque era um santo na Terra, mas porque conseguiu, com maestria, se safar de todas as tarefas dos pedidos de desculpa, e caiu no esquecimento. Agora, com a pessoa sequer ciente das suas intenções (e da maluquice imposta na família por sua avó), ele sentiu a consciência pesando para esse lado. Tinha que fazer alguma coisa, ou não ia conseguir manter uma relação saudável com a vizinha do lado.

E uma relação de ódio com vizinhos não era algo que ele ansiava.

Enquanto contava as minúcias da tradição e porque ele estava fazendo aquilo, realmente, Daniel começou a ficar apreensivo. Rebecca não falou nada durante a explicação, mas mudava de expressão a cada frase. Franzia o cenho, sorria, mordia os lábios, fazia caretas engraçadas, apertava os olhos... e ele a poupou de alguns detalhes, então a cada nova expressão, ele não sabia o que esperar quando terminasse.

— Então... é isso. É estúpido, mas eu precisava fazer isso.

Rebecca, nessa hora, estava com os olhos arregalados.

— É... só precisava de um pouco mais de prática. — Ela sorriu amarelo.

— Isso é sem dúvidas. Mas... já que você me fez o favor de vir até aqui, posso deixar as desculpas de lado.

Daniel pôde jurar que viu uma pequena expressão de desapontamento no rosto de Rebecca.

— Mas agora já está no meio do caminho... — ela tentou justificar.

Ele riu e foi na direção do livro de receitas, atrás de Rebecca, em cima do balcão de inox. Arrastou o livro dali e derramou farinha de trigo numa parte do chão que – contra todas as probabilidades – ainda estava brilhando, mas não se abalou. Tinha que limpar tudo minunciosamente em breve, então abriu mão da cautela.

— Verdade. A única diferença agora é que você está por dentro, e em vez de apenas comer o bolo, vai me ajudar a fazer.

— Nã-ã. Vou sentar e esperar.

Daniel a encarou por vinte segundos, depois desistiu.

— Por favor?! Eu preciso de ajuda, ou se não vou queimar a casa.

Foi a vez de Rebecca rir, com gosto, jogando a cabeça para trás. Ela estufou o peito, tomou o livro de receitas da mão dele e começou a colocar ordem na cozinha.

Não era a melhor cozinheira, mas sabia onde cada coisa deveria estar. Com certeza ovos não seriam postos na massa com casca, e o açúcar para uma receita como essa não seria o mascavo.

— Primeiro de tudo, por que você só tem essas fôrmas pequenas em forma de coração? — Questionou Becca, depois de vasculhar dentro do forno e dos armários por formas de assar bolo de tamanho adequado.

O Amor (nem sempre) Mora ao Lado (À Venda Na Amazon)Onde histórias criam vida. Descubra agora