CAPÍTULO DEZESSEIS

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~~ um dia inteiro ~~

O filme foi tão bom que Daniel quis correr até a casa ao lado e contar a Rebecca tudo o que achara da trama. Tinha comentários demais a fazer, e sentiu que sem alguém ao lado para compartilhá-los, simplesmente não era divertido. O filme fora divertido, mas a experiência perdeu 50% da graça quando ela fora embora.

E ainda não tinha voltado.

Provavelmente passaria a noite com Louis, o que não é nada demais, e não deveria existir nada mais normal, também.

Não que ele tivesse passado a tarde e o começo da noite espiando a casa da vizinha, claro que não. Só que era inevitável não saber quando alguém chegava na casa ao lado. As luzes acendiam, as pisadas começavam e vozes ao longe eram ouvidas. A mesma coisa acontecia com a casa do lado direito – só que não fazia diferença, pois ele sequer conversava com aqueles vizinhos. Achava que eram um casal com dois filhos gêmeos já adolescentes, mas não tinha certeza. Esses podiam ser os vizinhos da frente, também. Ah, não importa. Rebecca não tinha voltado, e ele tinha prestado atenção nisso pois ela era alguém que ele tinha amizade.

Então...

Droga.

Por que estava pensando tanto sobre isso?

Daniel não costumava queimar os neurônios sobre qualquer coisa assim, deixar um assunto preso na mente, como se a chave para a libertação estivesse longe demais para alcançar.

Estava descobrindo agora que podia ser uma pessoa que se agarrava a pensamentos, e não era nada agradável. Pelo contrário: estava achando bastante inconveniente.

Tudo tinha mudado depois de um sonho estúpido. Ele só esperava que fosse embora tão rápido quanto a memória de sonhos banais.

Daniel estava divagando com o olhar fixo numa caixa. Ele clareou a visão e percebeu o que era, de fato, além de uma simples caixa: aquela que Eliana havia deixado em sua porta naquela manhã. Ele encarou o caixote de papelão mais um pouco e finalmente o arrastou para perto.

Aquela ali era a prova de que Eliana estava respeitando a última conversa deles.

O coração de Daniel palpitou. Ainda palpitava quando lembrava de Eliana; era inevitável. Ele se convenceu de que o que eles tiveram durante sete anos foi o suficiente para se tornar inesquecível, e sempre teria um pouco de sentimento envolvido entre os dois, mesmo que este sentimento não fosse exatamente o amor. Existiria, para sempre, o carinho, pois Daniel não era do tipo de pessoa que esquecia dos 99% por conta do 1% estragado.

Daniel abriu a caixa. O capacete estava visível por ser grande, mas escondia outras coisas. Um par de camisas que ele já nem se lembrava, e um tênis que ele havia esquecido pela casa – desse ele lembrava. A biografia do Freddie Mercury, dois CDs do Led Zeppelin e um do Black Sabbath. Coisas só dele, que Eliana não fazia questão ou sequer gostava.

Daniel não se importava em ter nenhum dos itens devolvidos, mas entendia a simbologia por trás do gesto.

Era um ponto final.

✩✩✩

Louis nunca fora a pessoa mais calorosa da humanidade.

Sequer do grupo de amizade de Rebecca, e ela sabia disso. Sabia que ele era fechado, reservado, alguém que não necessariamente iria compartilhar com o mundo tudo o que acontecia com ele, mas alguém adorável mesmo assim. Alguém... que não falava, mas demostrava o que sentia. Com um pouco de atraso, mas demostrava. Não era insensível, só... introvertido. De uma forma que não chegava a ser tímido. Há dois anos Rebecca tenta defini-lo em apenas uma palavra, mas se vê sempre perdida entre sinônimos para reservado.

O Amor (nem sempre) Mora ao Lado (À Venda Na Amazon)Onde histórias criam vida. Descubra agora