CAPÍTULO TRINTA

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Rebecca costumava pensar demais, se martirizar por situações passadas, por frases não ditas – ou por aquelas ditas em horas inapropriadas; costumava imaginar cenários diferentes para o que já havia passado, e também todo um diálogo gigantesco sobre encontros que ela sabia que nunca iriam acontecer. Todo esse universo na cabeça de Rebecca foi criado devido a seus pensamentos sempre correrem sem rumo em sua mente, sem controle, sem pedir permissão. Era comum dela pensar demais, e não havia perigo nisso, ninguém se impressionava se Rebecca estivesse encarando o teto, perdida em devaneios.

Mas o contrário, bem... o contrário era preocupante.

Não pensar em exagero sobre qualquer aspecto da vida não fazia parte de Rebecca Nonato, mas tinha acontecido. Ela não tivera nenhum sonho de olhos abertos sobre Louis desde que tinha posto um ponto final no relacionamento. Não havia imaginado um possível encontro com o ex-namorado em nenhum cenário breve.

Se tivesse, mesmo se tivesse pensado nessa cena, não a imaginaria do jeito que foi. Não se imaginaria sentindo nada além de uma leve surpresa quando ele atravessou a porta da loja e, ainda segurando a maçaneta redonda, ficou ali, parado, encarando-a. Ela teria imaginado algo bem mais dramático.

Rebecca pôde ver que Louis havia perdido a capacidade de pensar racionalmente, pois os lábios estavam entreabertos e ainda assim ele não havia dito nada.

Nem uma palavra. E ele ia deixar por isso mesmo.

Louis recuou um passo e sacodiu a cabeça, então virou-se de costas. Aí Rebecca agiu.

Pior do que um cenário imaginário – algo que nunca iria acontecer – era ver algo acontecer bem a sua frente e deixar escapar.

— Louis — Ela quase gritou; saiu mais arrastado do que em sua cabeça.

Ele parou e soltou a porta, deixando-a fechar-se com ele ainda dentro da loja, no mesmo salão que Rebecca. A garota atravessou o balcão e depois... nada. Ficou tão imóvel quanto Louis.

— Desculpa aparecer assim, do nada. — Ele começou a se explicar — Eu devia ter ligado antes, mas tive a impressão de que você não ia gostar muito... — Aí Louis riu, sacodindo os ombros quase imperceptivelmente — Eu sei que aparecer sem avisar não é melhor do que ligar, mas... pareceu uma melhor ideia na hora que pensei.

Rebecca ficou observando Louis enquanto ele falava sem parar, como se não conseguisse mais colocar um ponto final nas frases, que iam saindo descontroladas. Becca não tinha pensado em um encontro com Louis antes, mas, de alguma forma em seu subconsciente, ela o imaginava maltrapilho. Mas ele não estava nada diferente. Sua aparência era a mesma, o cabelo meticulosamente arrumado, a barba feita, os mesmos olhos escuros difíceis de serem lidos. Mas, algo no jeito dele tinha mudado, embora o exterior parecesse o mesmo.

Talvez não exatamente nele, mas no jeito de ela olhar para ele. Isso, com certeza, havia mudado.

Havia mágoa em Rebecca, e um pouco de tristeza por ter perdido tanto tempo com algo que poderia ter sido bonito desde o começo, se fosse sincero, mas havia uma ponta de compreensão. Ela não pensava em Louis, agora, com raiva. Ela pensava nele como alguém que tinha uma escolha e a usou de forma errada. Um erro que desencadeou uma série de pequenos erros. Uma pessoa rancorosa poderia nunca mais querer vê-lo, mas Rebecca... ela tinha outras coisas dentro de si, sentimentos maiores, para se importar com mágoa.

Então, quando viu Louis entrando na loja, não pensou nos erros. Pensou que seria interessante saber o que estava acontecendo com ele, e ouvir o que o levara até ali, antes de sentir-se mal por estar frente a frente com ele.

O Amor (nem sempre) Mora ao Lado (À Venda Na Amazon)Onde histórias criam vida. Descubra agora