Capítulo 1

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Quando as crianças nasceram, eu achei que o meu casamento chegaria ao fim antes mesmo que eu pudesse perceber. Eu achei que eu me suicidaria ou jogaria Lucas pela janela, umas das alternativas mais viáveis naquele momento. Não significa que eu odeie Lucas ou algo do gênero, longe disso, mas Lucas se tornava passivo demais nas horas em que ele precisava ser pulso firme. Com o nascimento das crianças junto com as de Aline, o caos tornou parte da nossa vida e quanto mais eu rezava para que as crianças crescessem, mais isso demorava.

Acho que era a vida me dando uma chance de viver um pouco mais em tranqüilidade, pois eu mal eu sabia que eles pequenos era como estar no paraíso. Lucas e eu tivemos que ser muito tolerantes e pacientes, e conforme as crianças foram crescendo, foram desenvolvendo as próprias personalidades demoníacas e destruidoras que desestabilizava a pessoa mais calma do universo. Até mesmo Vitor.

Giovanni era como um furacão. Onde ele colocava o pé tudo virava do avesso sem que pudéssemos impedir. Já Gabriela era a rainha do drama. Um simples “não” era capaz de fazê–la chorar semanas seguidas como se tivesse morrido um ente querido. Lucas então nem se fala. Era uma mistura de rei do drama com uma pitada do Shrek. Conseguia me surpreender a qualquer momento com sua dupla personalidade. Eu tinha praticamente certeza de que ele era bipolar.

Então acreditem quando digo que foi um milagre meu casamento ter resistido a todos eles.

E a nós também.

Eu nunca fui muito fácil de lidar, e Lucas com sua personalidade passional acabava nos deixando ainda mais irritados. Se é que isso é possível.  Mas não eram só nós quatro que nos deixavam sem dormir. Existem outras pessoas em nossas vidas que nos deixaram de cabelos brancos: meus pais.

Eles se mudaram de estado, graças às minhas orações fervorosas e nos deixaram em paz quando Giovanni completou seus quinze anos. Eles disseram que Lucas e eu já éramos bem grandinhos e que daríamos conta de criar nossos próprios filhos quando eles fossem embora. O que achei até engraçado, já que quem os criou fomos nós.

Os pais de Lucas não eram tão presentes como antes. Eles davam as caras em algumas datas comemorativas, mas não passava disso e Lucas aceitava isso muito bem. Ele explicou que viveu anos sem os pais e não seria agora que ele precisaria de alguém. Por um lado eu ficava triste por ele, mas por outro era até bom não ter os dois em nossa vida, pois eles sempre encontraram uma oportunidade de culpar Lucas pela morte precoce de Giovanni, e não era justo ele viver o resto da vida sendo culpado por algo que ele não fez e já provou sua inocência.  Mas, voltando às crianças que não são tão crianças assim, quando eles entraram na faculdade e foram morar em repúblicas para jovens, Lucas não gostou muito da idéia, mas eu conversei com ele e expliquei que as crianças deveriam crescer e aprenderem a ser responsáveis, como por exemplo encontrar um emprego e pagarem suas próprias contas, e assim foi feito. Giovanni e Gabriela estudavam na mesma faculdade que Anne, a filha de Aline, que por ironia do destino Giovanni era louco por ela. James ainda estava terminando o colegial, mas era muito presente em nossas vidas também. Todos cresceram juntos, então era uma bagunça só. Quando as crianças finalmente saíram de casa, eu fiquei de cama por uma semana. Por mais trabalhoso que era conviver com eles, ficar sem as minhas pestes favoritas era muito mais doloroso. Eles eram meus filhos e dediquei minha vida toda a eles e saber que eu não teria que fazer escândalo para que eles acordassem, ou para que desligassem o chuveiro, faria muita falta. Lucas também ficou abalado no início, mas com os dias passando ele foi aceitando e ficando mais tranqüilo quanto a isso. Afinal de contas, quem não gostaria de conseguir tomar café da manhã tranquilamente sem ter que passar por um surto ao ver uma cueca suja na pia da cozinha. (Mas isso não vem ao caso)

Nós dois pensamos que com as crianças fora, teríamos mais tempo para nós, mas foi um mero engano. Estávamos tão acostumados com a rotina em que vivemos por anos, que acabamos presos nela sem conseguir sair. Fazíamos tudo no piloto automático sem ao menos perceber. Era acordar, tomar café, trabalhar, almoçar, trabalhar, ir para casa, jantar e dormir. E no dia seguinte fazíamos tudo exatamente igual. Talvez fosse o tempo de casados ou por estarmos mais velhos e acomodados, mas eu estava disposta a dar um gás em nosso casamento, antes que ele fosse para o brejo de uma vez por todas.

Marido Aposentado -  Livro 2Onde histórias criam vida. Descubra agora