Capítulo 10

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Lucas chegou depois do horário do jantar em casa em silêncio. Eu estava sentada no sofá claramente emburrada, mas ele fingiu nem se importar, ou não se importava mesmo. Ele se sentou ao meu lado sério e perdido em pensamentos. Respirei fundo para manter a calma, o que havia virado meu novo mantra e olhei para a cara de pau de Lucas.
–Como foi o trabalho? – perguntei ironicamente.
–Tudo bem.
–Por que saiu tão tarde?
–Tive um contratempo com uma gatinha. Era idosa, por pouco não a perdemos.
Concordei com a cabeça e fiquei aguardando que ele dissesse mais alguma coisa, mas não disse.
–E o almoço?
–Que almoço? – Lucas perguntou confuso.
–Com a nova fornecedora.
–Ah.. foi tudo bem!
Ele sorriu e se levantou depressa indo para o quarto com a maior cara de sonso. Sentindo a raiva borbulhar em minhas veias, fui atrás dele algu tempo depois e o encontrei já no chuveiro. Fui até o quarto e procurei por seu celular que não estava em lugar algum. Entrei no banheiro e pude ver que seu celular estava ao lado de sua toalha. Aquela atitude era ainda mais estranha, pois Lucas nunca levou seu celular para o banheiro antes. Comecei a escovar os dentes e falei com a voz calma.
–Esperando alguma ligação?
–O quê??
–Perguntei se está esperando alguma ligação!
Lucas colocou a cabeça par fora do box e falou tranquilamente.
–Ah... estou esperando noticias da gatinha.
–Da gatinha?
–Uhum.
–Certo!
Terminei de escovar meus dentes e fui para o quarto soltando fogo pelas ventas. Fiquei sentada na beira da cama aguardando Lucas e assim que ele colocou o pé no quarto comecei a surtar.
–Eu acho que já passou da hora de termos uma conversa e..
–Hoje não. – ele falou cansado vestindo sua cueca.
–O que?
–Eu disse hoje não Nataly! Estou cansado demais para suas desconfianças.
Olhei para ele incrédula e fiquei em silêncio. Se Lucas sabia das minhas desconfianças, por que ele não fazia nada para extermina–las de vez?
–Outra hora falamos sobre isso, mas não hoje.
–Por que não? – indaguei ao perceber que ele tentava fugir daquela conversa.
–Porque eu não quero! – Lucas respondeu rispidamente me deixando de olhos arregalados. – Me desculpe, eu não quis ser rude, mas hoje eu não quero falar sobre nada, só quero descansar.
–Faça como quiser, mas você vai dormir no tapete fofinho hoje!
Pegue seu travesseiro e joguei no chão em cima do tapete. Lucas sorriu e e lambeu os lábios.
–Nataly, não faz assim! Eu só não quero conversar hoje.
–Sem problemas! Quando quiser conversar, a cama estará a sua disposição!
Forcei um sorriso e me deitei puxando o cobertor até o meu queixo.
–E desligue a luz quando deitar!
Pude ouvir o riso abafado de Lucas, mas me forcei a não olhar para ele. Se ele queria guerra, então eu seria uma “guerruda”, lutadora ou que quer que seja que participe de uma guerra. Pouco tempo depois Lucas apagou a luz e deitou no tapete fofinho pegando no sono tão rápido quanto eu perdi o meu.
●●●
Assim que o dia clareou eu já estava em pé. Não havia pregado os olhos a noite toda enquanto Lucas dormia tranquilamente em seu sono de beleza. Me sentei na cama e fiquei olhando aquele homem dormindo aos meus pés. Ele estava dividindo seu travesseiro com Latifa me deixando babando ainda mais por ele. Por que ele tinha que ser tão lindo e tão cretino ao mesmo tempo? Com raiva por ele ter fugido da conversa na noite anterior, me levantei e passei por ele o chutando como se tivesse esquecido que ele estava ali. Lucas abriu os olhos quando chutei “sem querer” sua costela e ele segurou meu pé sorrindo em seguida.
–Pare com isso Nataly.
–Com o que? Eu estou me levantando e esqueci que você estava ali.
–Já entendi o seu joguinho. – ele falou como se estivesse se divertindo com aquilo tudo.
–Não tem jogo nenhum Lucas. – falei séria e puxei meu pé para que ele soltasse.
Lucas ficou em silêncio e eu passei por ele indo para a cozinha morrendo de raiva.
●●●
Assim que Lucas colocou os pés na cozinha comecei a bufar para que ele percebesse minha insatisfação, mas ele apenas se pegou uma caneca de café, me deu um beijo na testa e saiu para o trabalho sem dizer uma palavra sequer.
Decidida a por um fim nessa insegurança me vesti depressa e fui para o consultório acabar com essa historia de uma vez por todas.
●●●
Cheguei na loja e fui direto para o consultório de Lucas. Eu estava cega de raiva por ele ter fugido da conversa ontem, então assim que segurei a maçaneta, pude ouvir Lucas conversando com alguém.
–Como você está gatinha?
–Eu estou bem! – uma mulher  respondeu em seguida.
Um frio na barriga percorreu minha barriga toda. Então gatinha era um pessoa? Uma mulher?? Por mais que eu odiasse barracos de ciúmes, meu lado possuído tomou conta de mim e eu abri a porta abruptamente encarando os dois cretinos na minha frente. Lucas me olhou assustado, mas logo sua feição suavizou.
–Nataly? Está tudo bem?
Permaneci em silêncio esperando que um dos dois explicasse o que estava acontecendo ali, mas como os dois permaneceram em silêncio comecei a falar o que não devia.
–Então essa era a gatinha que você estava esperando a merda da ligação?
–Sim! – Lucas respondeu confuso.
–E você ainda confirma seu cara de pau?! – eu estava ficando cada vez mais furiosa.
–Ná, preste atenção!
–Não tenho nada para prestar atenção.
–Acho que eu deveria ir embora...  – A mulher falou se levantando da cadeira.
–Já vai tarde!
Ela me olhou sem graça e se aproximou de Lucas que desencostou da mesa em que eram colocados os animais, me dando a visão de uma gatinha bem velhinha deitada em um cobertor peludo. A mulher pegou a gatinha e saiu do consultório me olhando como se eu fosse uma fugitiva da policia. Lucas cruzou os braços e me fitou bravo.
–Você vai sair do meu consultório e vai se desculpar com aquela mulher agora!
–Não vou não!
–Você vai sim! essa sua desconfiança já passou dos limites!
–E de quem é a culpa? Sua!
Lucas respirou fundo e falou baixo.
–Em casa a gente conversa.
–Não! Nós vamos conversar agora!
–Aqui é o meu local de trabalho e não lugar de ficar dando showzinho de ciúmes! Agora vá se desculpar daquela pobre mulher que quase perdeu a gatinha dela de dezoito anos!
Fiquei olhando Lucas bravo e fiquei surpresa por nunca te–lo visto daquela maneira.
–Lucas..
–Agora Nataly!
–Não me trate como se eu fosse uma criança! – ralhei.
–Então não se comporte como uma!
Lucas me olhava sério e naquele momento eu me sentia como uma criança que havia feito algo errado. Mesmo não me sentindo errada assenti e saí de sua sala indo atrás da mulher com sua gatinha. Ela aguardava na fila do caixa e quando me viu, abaixou a cabeça. Relutante caminhei até ela e cochichei.
–Desculpe.
A moça levantou a cabeça e me olhou surpresa.
–Me desculpe por aquilo tudo. Algumas coisas estão acontecendo e perdi o controle. Ou a noção.
A mulher sorriu e pareceu mais aliviada.
–Não se preocupe, com um marido igual ao seu eu surtaria o tempo todo!
Nós duas começamos a rir e ficamos conversando até a hora dela precisar ir embora.
Eu a acompanhei até o carro e ao voltar para a loja, Lucas me esperava apoiado no balcão do caixa. Sem saber o que dizer ou fazer apenas me aproximei e fiquei olhando para ele.
–Obrigado por se desculpar. – ele falou calmo.
Concordei com a cabeça e fui para a minha sala decidida a trabalhar e não deixar mais Lucas e suas ligações ocuparem minha mente.

Marido Aposentado -  Livro 2Onde histórias criam vida. Descubra agora