Capítulo 18

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Horas passaram sem que Lucas desse alguma notícia, nos deixando ainda mais preocupados. Eu havia ligado diversas vezes em seu celular que parecia estar desligado, pois a ligação caía diretamente na caixa postal. Giovanni se culpava cada vez mais e quando eu estava prestes a ligar para a Polícia, Lucas abriu a porta de casa nos deixando aliviados. Eu corri até sua direção e o abracei com toda minha força. O medo de perdê–lo havia sido apavorante. Quando olhei em seus olhos que estavam se divertindo com aquilo tudo comecei a estapear Lucas onde eu alcançava.
–Você acha isso engraçado é?! – eu perguntei enquanto o batia.
Lucas deu risada da minha reação exagerada e com os olhos ele procurou por Giovanni que esperava ansioso na sala.
–Você está bem? O que aconteceu? – perguntei analisando seu corpo.
–Eu estou bem. Eu só fui buscar o pen drive. – ele falou dando de ombros.
–E cadê a droga do seu celular??!
–Eu achei melhor desligar, para não correr o risco de ser rastreado caso alguma coisa desse errado.
–Isso é loucura! – rebati.
–Foi necessário! – ele respondeu tranquilamente.
–Você bateu no seu irmão Lucas! – chamei sua atenção.
–Ele não me deixava ir sozinho!
–Óbvio né? Que idéia de “jerico” foi essa? – questionei.
–A única que eu tive.
Lucas respondeu naturalmente dando de ombros e indo para a sala mancando com seu gesso. Quando ele se aproximou da sala e viu Giovanni, tomou um susto ao ver o olho roxo que ele havia deixado em seu irmão.
–Ainda está bom seu soco de direita hein Luka?! – Giovanni brincou arrancando um riso de Lucas.
–Eu sou foda! – Lucas brincou.
–Tem coisas que nunca mudam mesmo!
Giovanni respondeu rindo e puxou Lucas para um abraço que o deixou sem graça.
–Esses anos longe te deixaram carente?
Lucas perguntou e Giovanni se afastou se recompondo ao se sentar no sofá. Lucas se sentou ao seu lado e estendeu a mão direita com o pen drive.
–Pegue. Espero que isso resolva de uma vez por todas o que está acontecendo e que você fique livre.
–Eu também Luka... eu também.
Giovanni suspirou com os olhos marejados, mas disfarçou bem sua tristeza.
–Devemos avisar Jaqueline? – perguntei aos dois. 
–Não! Ainda não. Eu preciso saber o que vai acontecer comigo primeiro. Não quero magoa–las ainda mais. – Giovanni falou perturbado.
Concordei com a cabeça e Lucas gemeu ao mover seu pé.
–Afinal de contas, o que aconteceu com o seu pé?
Giovanni perguntou curioso e eu senti o sangue se aglomerar em minhas bochechas. Lucas começou a rir e por um momento eu achei que ele fosse contar a verdade à Giovanni.
–Eu caí da escada. – ele respondeu simplesmente e começou a rir.
–Por que você está rindo? – Giovanni questionou.
–Porque agora percebi o quanto estou velho!
Lucas falou rindo nos contagiando com sua risada. Assim que paramos de rir, Giovanni se levantou e suspirou chateado.
–Eu tenho que ir.
–Agora? – Lucas e eu indagamos juntos.
–Quanto antes eu resolver isso, melhor vai ser para todo mundo.
Lucas e eu assentimos com um pesar dentro do peito. Por mais que quiséssemos que ele resolvesse isso tudo de uma só vez, sabíamos como seria arriscado se ele cometesse qualquer gafe.
Giovanni puxou Lucas para um último abraço e Lucas retribuiu sabendo que aquele poderia ser realmente o ultimo abraço que eles poderiam dar para sempre. Giovanni veio em minha direção e ao me abraçar agradeceu pelo apoio e por ter cuidado tão bem de Lucas todos esses anos.
–Foi ele que sempre cuidou de mim! – falei sinceramente e Giovanni sorriu em resposta.
Ele saiu pela porta de casa sem ter coragem de olhar para trás enquanto eu e Lucas nos segurávamos para não correr atrás de Giovanni e por tudo a perder.
Quando a porta se fechou Lucas apertou minha mão com medo, mas naquele momento não havia nada a ser feito a não ser esperar.
●●●
Quase no fim do dia e permanecíamos sem noticias de Giovanni. Já faziam horas que ele havia saído, mas ficarmos as cegas nos deixava ainda mais preocupados e a simples idéia de Lucas perder o irmão mais uma vez, o deixava apavorado.
–Você acha que ele está bem?
–Tenho certeza que sim! – respondi tem ter certeza alguma.
–Eu deveria ter ido com ele.
–Isso só traria mais problemas!
–Mas ele é o meu irmão e eu deveria estar ao lado dele!
–Eu sei disso, mas você seria um alvo a mais! Nós dois seríamos Lucas e você sabe disso!
–Droga!
Lucas andava impacientemente de um lado para o outro mesmo estando engessado.
–Você deveria descansar um pouco. – falei preocupada.
–Eu só vou descansar quando meu irmão estiver aqui do meu lado na nossa casa!
Lucas falou nervoso e eu não culpava por estar se sentindo assim. Não saber o que estava acontecendo era perturbador, mas não tínhamos outra opção além de esperar.
Fui para a cozinha preparar alguma coisa para comer quando o celular de Lucas tocou nos cercando de alivio. Ele atendeu imediatamente, ouviu alguma coisa e correu para pegar a chave do carro.
–Eu vou buscar Giovanni!
Lucas falou depressa e eu parei em sua frente o impedindo.
–Nós vamos buscar Giovanni! Você não tem condições de dirigir nesse estado! – apontei para seu pé engessado.
–Droga! – Lucas praguejou e concordou ao me entregar a chave.
Fomos quase que correndo para o carro e durante o trajeto Lucas dizia que ruas deveríamos entrar para não levantarmos suspeitas. Conforme entramos em um bairro que era conhecido pelo trafico, meu estômago se reveirou de ansiedade de medo, mas me mantive forte por Lucas. Ao fazer uma curva em uma rua estreita, Lucas pediu para eu parar.
–Aqui. Pare aqui! – ele falou baixo.
–Aqui? Mas aqui é muito perigoso!
–Ele falou aqui!
Concordei com a cabeça e desliguei o carro para que o som não chamasse atenção de ninguém e deixei apenas o farol iluminando o beco que estava à nossa frente. Pouco tempo depois Giovanni apareceu no beco mancando e curvado com uma das mãos em sua barriga. Seu rosto estava desconfigurado e sangrando. Seu olho direito mal abria de tão inchado que estava e o direito escorria sangue. Sua parte branca do olho havia se tornado um borrão vermelho e sua sobrancelha estava ainda mais aberta e com certeza levaria diversos pontos. Seu nariz estava sangrando e nitidamente torto, indicando que estava fraturado. Meus olhos se encheram de lágrimas ao ver aquela cena à nossa frente e assim que Giovanni colocou seus olhos em nós, suspirou aliviado caiu no chão inconsciente. Lucas e eu descemos do carro depressa e corremos em sua direção. Lucas segurou sua cabeça que estava molhada de tanto sangue e eu olhei para ele apavorada.
–O que eu faço? O que eu faço?
–Vá pegar o carro! – Lucas ordenou e eu voltei correndo pelo caminho que havíamos chegado.
Estacionei o carro de qualquer jeito perto dos dois e desci do carro para ajudar Lucas a carregar Giovanni. Com muita dificuldade o levantamos do chão e Lucas gemeu de dor por causa de seu pé.
–Vamos chamar a Polícia Lucas!
–E dizer o que? Que meu irmão que morreu anos atrás está vivo e tomou um pau?? – ele respondeu grosseiramente.
–Eu não sei!!!
Lucas agarrou o tronco de Giovanni enquanto eu peguei suas pernas e o carregamos até o carro, o colocando no banco de trás. Lucas sentou com a cabeça de Giovanni em seu colo e eu corri para o banco do motorista. Dei partida e dirigi o mais rápido que consegui para o Hospital mais próximo.
Durante o trajeto Lucas falava baixinho com Giovanni que não havia dado sinal de vida. Saía sangue de seus ouvidos e boca e naquele momento eu senti que algo ruim estava por vir.
–Ele vai morrer? – Lucas perguntava aflito.
–Vira essa boca pra lá! Veja se ele está respirando!
Lucas encostou a orelha no nariz de Giovanni e suspirou aliviado.
–Fraco, mas está!
–Ótimo! Isso é ótimo! –eu falei tentando convencer a mim mesma.
Lucas permaneceu falando com Giovanni o restante do trajeto enquanto eu só conseguia pedir a Deus para que cuidasse de Giovanni.
Ao chegarmos ao Hospital, Lucas começou a pedir socorro e vieram diversos enfermeiros em nossa direção. Um deles tirou Giovanni com cuidado do carro e o colocou em uma maca o levando para dentro do hospital com urgência. Uma enfermeira se aproximou e começou a fazer perguntas para Lucas que arregalou os olhos apavorado com medo de dizer algo errado.
–Qual o nome dele? O que aconteceu? Vocês chamaram a Polícia? São parentes dele?
Lucas me olhou desesperado e eu tomei a frente naquele momento.
–Ele se chama Miguel, mas não sabemos o sobrenome. Ele é um cliente do nosso petshop e o encontramos desacordado na rua. Acredito que tenha sido assalto, já que ele está sem a carteira ou qualquer documentação!
Conforme eu ia falando a enfermeira ia anotando tudo.
–Ele tem alergias?
–Eu.. eu não sei..
Vou pedir que assine esse documento e em breve tratei notícias dele.
–Ok! Obrigada!
Assinei depressa o papel a minha frente e a enfermeira desapareceu pelo mesmo corredor que levaram Giovanni. Lucas me olhou com lágrimas nos olhos e eu o puxei para um abraço.
–Será que ele vai ficar bem? – Lucas perguntou segurando o choro.
–Claro que vai! Ele é seu irmão!
–Eu deveria ter ido com ele!
Lucas repetia em voz alta, mas eu sabia que não era para mim que ele estava dizendo aquilo. Ele estava tentando se culpar ainda mais pelo que havia acontecido com Giovanni.
–Hey, isso não é culpa sua. Você sabe que teria sido muito pior se você estivesse junto. Ele tem sorte de estar vivo ainda e você sabe disso!
Lucas concordou com a cabeça aflito e suspirou me puxando para seus braços. Suas lágrimas quentes escorriam em meu rosto e por mais que eu tivesse vontade de sentar em posição fetal e chorar copiosamente, me forcei a engolir o choro e consolar aquele homem que estava passando pelo momento mais frágil de toda a sua vida.
●●●
Um bom tempo depois a enfermeira que havia feito as perguntas veio até nós na sala de espera.
–O Doutor gostaria de conversar com vocês!
Lucas e eu concordamos de prontidão e seguimos a enfermeira que nos olhava desconfiada. Lucas me olhou preocupado, mas eu me forcei a não me preocupar com a desconfiança dela.
Entramos em um dos consultórios e um Médico sem educação alguma nos indicou a cadeira para que nos sentássemos.
–Miguel foi encaminhado para a tomografia e raio x. Ele teve um traumatismo craniano e fraturou uma costela, uma perna e um antebraço. Seu nariz também está quebrado e por sorte ele não perdeu a visão de um dos olhos. Ele teve luxação no joelho esquerdo e fratura da clavícula e permanece inconsciente.
O Médico despejou aquilo tudo em cima de nós dois, nos deixando atônitos. 
–Mas ele vai ficar bem? – Lucas perguntou amedrontado.
–Não temos como saber ainda! O caso dele é grave. –o Médico respondeu rispidamente.
–Mas...
–Vocês já falaram com a Polícia? – o médico o interrompeu.
–Sobre o quê? – questionei.
–Sobre a agressão.
–Não há nada a se falar. Não sabemos o que aconteceu. Não sabemos se foi assalto ou algum acerto de contas. Não sabemos de absolutamente nada e pelo visto nem se ele irá sobreviver, então só falaremos com a Polícia se ele não tiver o atendimento necessário ou se ele acordar e decidir que quer falar com a Polícia! Então me diga se devo deixar o nosso amigo morrendo aqui ou se devo procurar outro Hospital que irá fazer seu tratamento corretamente!!
O Médico me olhou de olhos arregalados, completamente surpreso pela minha resposta. Lucas apertou minha mão em sinal de nervosismo e o Médico respirou fundo.
–O caso dele é grave. Ele pode ter graves seqüelas, mas só iremos saber depois dos resultados dos exames. Ele teve que ser entubado e já foi medicado para dor e no momento a única coisa que podemos fazer é aguardar os resultados exames. Provavelmente ele terá que passar por diversas cirurgias para corrigir suas fraturas, mas isso somente irá acontecer quando seu quadro estiver estável.
–Muito obrigada por esclarecer. – falei o olhando nos olhos.
–Assim que eu tiver algum resultado, peço para chamarem vocês.
O Médico se levantou e naquele momento consegui ver seu nome em seu jaleco. Dr Moacir Freire era o seu nome. O nome que eu deveria decorar caso acontecesse alguma fatalidade com Giovanni. Lucas se levantou com cuidado e saímos do consultório ainda mais aflitos do que quando chegamos.

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