Ao voltarmos para casa Giovanni aguardava impacientemente na calçada. Quando o táxi estacionou, pude ver Lucas de retrair.
–Você quer ir para outro lugar? – perguntei com receio.
–Não! Preciso enfrentar isso de uma vez por todas.
Lucas falou determinado e saiu com dificuldade do carro por causa do pé engessado. Peguei Latifa e o segui com cautela.
–Você não deveria estar andando tanto. – chamei sua atenção conforme íamos andando até a porta de casa e de Giovanni.
–Tarde demais para isso.
Lucas lamentou e caminhou com dificuldade até a porta. Ele passou por Giovanni como se ele fosse invisível e começou a subir as escadas sem que eu pude impedir.
–Irmão... – Giovanni o chamou, mas Lucas o ignorou mesmo assim.
Giovanni deu um passo indicando que iria seguir Lucas, mas eu o impedi.
–Eu não sei o que você veio fazer aqui, mas só quero que saiba que se você arruinar a vida de Lucas mais uma vez, você vai se arrepender. Essa é a nossa casa e você irá falar com Lucas quando ele quiser entendeu?– Giovanni levantou uma sobrancelha em forma de desafio – Você não me conhece e não sabe do que sou capaz de fazer pela minha família.
–Eu não quero arruinar a vida de ninguém.
O fitei tentando decifrar se ele falava a verdade, mas não consegui identificar o tipo de olhar que ele direcionava a mim.
–Isso é o que vamos descobrir.
Passei por Giovanni e subi as escadas atrás de Lucas que gemia de dor no quarto. Me aproximei dele e o ajudei a deitar e colocar o pé machucado para cima. Peguei os remédios para dor que eu havia comprado no dia anterior e dei as dosagens mais altas permitidas para que sua dor passasse depressa. Assim que coloquei a coberta em cima dele, Lucas perguntou baixo.
–Cadê ele?
–Ele ficou lá embaixo.
Lucas assentiu e fechou os olhos respirando fundo.
–Descanse um pouco e depois vocês conversam sobre tudo.
Ele concordou mais uma vez e se ajeitou na cama.
–Obrigado por estar comigo nisso.
Sorri em resposta e saí do quarto indo à procura de Giovanni que estava na sala com um porta retratos em sua mão.
–A família de vocês é linda.
–É sim! – afirmei.
–Eu não sou uma ameaça Nataly.
–Me desculpe, mas quando uma alma penada volta do inferno não é a coisa mais simples de ser aceita.
–Eu não morri.
–Morreu para Lucas. Para os seus pais e para todos seus amigos.
–Eu tive que fazer isso.
–Você fez isso por ser um covarde! Um covarde por tirar seu corpo da reta e permitir que seus problemas arruinassem a vida da pessoa que mais te amou nesse mundo!
Giovanni engoliu em seco e colocou o porta retratos em cima da cômoda de onde tinha tirado.
–Segunda porta à esquerda tem o quarto do Giovanni. Você pode tomar banho e pegar alguma roupa emprestada no armário.
–Giovanni? – ele perguntou confuso.
–Sim! Demos seu nome ao nosso filho. Foi a única maneira que Lucas encontrou de superar sua perda!
Seus olhos azuis emocionados encontraram os meus e eu desviei em seguida. Eunão queria ter pena e muito menos criar qualquer vinculo com ele, então apenas dei de ombros e fui para a cozinha preparar alguma coisa para comer.
●●●
Quando eu estava colocando os pratos na mesa, Lucas se sentou na cadeira um pouco grogue por causa das medicações.
–Está tudo bem? – perguntei ao me aproximar.
Lucas negou com a cabeça e suspirou em seguida.
–Ainda não acredito que isso esteja acontecendo. – passei a mão em seu ombro e me sentei ao seu lado.
–Vai dar tudo certo. – tentei parecer confiante.
Antes que Lucas pudesse responder, Giovanni entrou na cozinha com a roupa de Giovanni (filho).
–Se sente, vou servir o jantar. – falei diretamente para Giovanni.
Giovanni olhou para Lucas na espera de uma autorização que não veio da boca de Lucas, que apenas se ajeitou na cadeira olhando para a frente fingindo que Giovanni não estava ali. Respirei fundo para manter a calma no ambiente.
Comecei a servir o macarrão para cada um e me sentei entre os dois. Começamos a comer em silêncio.
–A comida é deliciosa. – Giovanni falou baixo.
–Obrigada. – respondi com receio e o olhar de Lucas cruzou com o meu.
Coloquei uma garfada de macarrão na boca e fiquei observando os dois irmãos que possivelmente se odiavam. Eles eram extremamente parecidos. Ela como se fossem a mesma pessoa só que uma versão mais madura e a outra mais jovem. Sorri com a semelhança dos dois com suas sobrancelhas franzidas e tromba de elefante no lugar de suas bocas. Lucas me repreendeu com o olhar por eu estar rindo diante aquela situação e Giovanni sorriu se mostrando mais relaxado.
Ao terminarmos o jantar em um completo silêncio, fomos para a sala e cada um deles sentou em um canto do sofá. Mais uma vez eu era a divisora dos dois. Incomodada com a situação, me levantei e sentei na mesa de centro de frente para os dois.
–Vocês precisam conversar. – falei sinceramente.
Giovanni olhou para mim com receio e Lucas bufou chamando a nossa atenção.
–Ele nem olha pra mim. –Giovanni falou chateado.
–O que você quer de mim? Que te receba com um abraço e conte o quanto senti sua falta todos essas anos que você esteve morto? Ou quer que eu conte como foi destruidor o quanto me senti um fracassado por não ter salvo sua vida?
–Luka..
–Não me chame assim!! Você morreu na minha casa! Você morreu e me deixou aqui!!!!
Lucas gritava tentando se libertar de toda sua mágoa.
–Eu sei que o que eu fiz foi errado Luka...
–Errado? Você acabou com a minha vida! Você... você deveria estar morto!
–Eu tive que fazer isso para proteger vocês Lucas! Eles iam matar você, a mãe e o pai!
–Eu não dou a mínima! Você deveria ter me avisado o que estava acontecendo! Deveria ter pedido a minha ajuda!
–Eu não tive como.. eu não pude.
–Não teve como? – Lucas deu uma risada nervosa.
–Eles me incriminaram por algo que eu não fiz. Eu era jovem e imaturo e caí em uma armadilha.
–E eu caí na sua!
Lucas falou por fim deixando Giovanni sem palavras. Por mais que eu quisesse que os dois fizessem as pazes, eu entendia a raiva e mágoa que Lucas sentia. Não era fácil ter que reviver uma perda que o atormentou por tantos anos.
Nós ainda não sabíamos onde Giovanni queria chegar com sua visita, mas coisa boa não poderia ser.
–Fala logo o que você quer. Dinheiro? Quer forjar um novo enterro? – Lucas perguntou já exausto.
–Eu não quero nada disso Luka, não quero seu dinheiro. Só vim te pedir uma coisa.
–Eu quero te pedir que se alguma coisa acontecer comigo, você vai proteger Ágata e Jaqueline.
Lucas olhou para ele chocado com seu pedido.
–Se alguma acontecer?
–Os caras descobriram que eu estou vivo e irão atrás de mim até no inferno se for preciso.
Lucas me olhou com tristeza no olhar ao perceber que poderia perder seu irmão mais uma vez.
–Como podemos te ajudar? – me intrometi.
–Se eu sumir... não deixem que falte amor para Ágata... por favor...
Giovanni pediu num sussurro antes que suas lágrimas corressem em seu rosto.
–Não! O que podemos fazer para te ajudar?
Giovanni me olhou confuso e Lucas chamou minha atenção.
–Nataly..
–Não Lucas! Ele é o seu irmão! Seu irmão! O irmão que você sofreu por anos pela perda, mas ele está aqui! Está aqui agora e podemos ajuda–lo a nunca mais partir! – falei para Lucas que abaixou a cabeça.
Olhei para Giovanni que me olhava surpreso.
–Eu não gosto de você! Você fez Lucas sofrer e pagar por todos os seus erros, mas eu acredito em segundas chances. Se houver alguma coisa que possamos fazer para te ajudar, é só nos dizer.
Lucas suspirou e olhou para Giovanni com expectativa. Por mais que ele lutasse contra a vontade de ajuda–lo, ele sabia que ia se arrepender ainda mais se não o fizesse.
–Antes de morrer, eu peguei um pen drive com todos os contatos de um traficante. Contatos grandes, pessoas grandes, conhecidas, então acho que eles estão atrás disso ainda.
–Por que pegou isso porra?
–Por que era a única garantia que eu consegui para eles não te matarem!
Lucas arregalou os olhos sem saber o que dizer. Na verdade, não existiam palavras para serem ditas naquele momento.
–Eu não quero envolver vocês mais nisso tudo. Só peço que cuidem delas, porque eu sei do que eles são capazes.
Giovanni olhou o relógio e se levantou.
–Eu tenho que ir. – ele falou olhando diretamente para Lucas com tristeza na voz.
–Como você fez? – Lucas perguntou magoado. –Como você conseguiu forjar sai morte? Eu te vi no caixão!
Giovanni suspirou e se sentou ao lado de Lucas no sofá.
–Um colega meu que era muito parecido comigo havia morrido aquele dia em um acidente de moto. Ele não tinha ninguém. Família... parentes... ninguém. Então os caras que eram meus amigos me deram a idéia de armar a minha morte para que eles finalmente deixassem todo mundo em paz, e me ajudaram em tudo.
–Mas eles não deixaram a gente em paz. – Lucas falou com a voz endurecida.
–Eu sei e se pudesse voltar no tempo, faria tudo diferente.
–Mas você não pode! – Lucas ironizou.
–Infelizmente não. –Giovanni falou triste e se levantou mais uma vez. –Obrigada por tudo.
–Para onde você vai? – perguntei preocupada.
–Pra qualquer lugar que eu não coloque mais ninguém em risco.
Conforme Giovanni foi se afastando Lucas me olhou desesperado sem saber o que fazer.
–Eu... onde... onde está o pen drive? –perguntei nervosa com medo de Giovanni ir embora pra sempre.
–Na sua casa da praia.
–A que eu vendi? – Lucas respondeu aborrecido.
–Você vendeu a sua casa? Você gostava tanto dela Luka!
–Eu tive que vender!
Lucas falou irritado e Giovanni entendeu a indireta.
–Se você entregar o pen drive eles te deixam em paz?
–Não. Eles vão me matar de qualquer forma, mas vão deixar todos que eu amo em paz.
–Te.. te matar? – senti a bile subir em minha garganta.
–Olha.. eu não vim para aborrecer vocês ou nada do gênero, e muito menos colocar vocês em risco mais uma vez. Eu só peço que cuidem das duas mulheres da minha vida. É só o que peço.
Olhei Lucas pedindo com os olhos para que ele fizesse alguma coisa, mas ele apenas assentiu e desviou o olhar. Giovanni entendeu a resposta e saiu porta afora sem olhar para trás, mas pude ver seu corpo tremer do provável choro que tomou conta dele. Olhei para Lucas incrédula e ele apenas deu de ombros.
–Você não vai fazer nada? – perguntei alto.
–Eu.. eu não posso passar por tudo isso de novo. – ele lamentou.
–Ele é o sei irmão Lucas! Você deixar que ele morra de verdade dessa vez?
–O que quer que faça Nataly? Eu não consigo... eu..
–Ele vai embora pra sempre dessa vez Lucas. – tentei manter a calma mesmo com o desespero tomando conta de mim.
Lucas me olhou com agonia e a única coisa que consegui fazer foi sair correndo atrás de Giovanni no meio da rua.
VOCÊ ESTÁ LENDO
Marido Aposentado - Livro 2
Humor"Nessa sequência de Namorado Alugado, Lucas e Nataly estão de volta mais loucos como nunca. Com o casamento balançado conforme os anos foram passando, Nataly decide reacender a chama da paixão com diversos planos e novidades sensuais para que eles p...