Capítulo 9

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A nossa “matança” da saudade não teve um bom resultado. Lucas se desconcentrou ligeiramente e não permitiu que eu fizesse nada para mudar a situação. Ficamos deitados na cama encarando o teto como dois adolescentes no colegial quando decidi quebrar o silêncio.
–Está acontecendo alguma coisa?
–Nada está acontecendo Nataly! Só estou com umas coisas pra resolver na loja.
–Algo que eu possa ajudar?
Lucas se levantou de repente e me olhou de uma forma que não pude decifrar.
–Eu posso resolver sozinho! – ele respondeu grosseiramente.
Fiquei em silêncio por sua grosseria e me levantei indo para o banheiro. Lucas ao menos tentou me impedir, então apenas tomei meu banho e ao voltar para o quarto, Lucas não estava lá. Me deitei e me forcei a não ir atrás dele naquele momento. Alguma coisa estava acontecendo e eu precisava descobrir o que era.
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Acordei assustada procurando por não encontrar Lucas dormindo ao meu lado. Olhei no relógio e eram quase quatro horas da manha então me levantei depressa para ir a sua procura e ao chegar na sala vi Lucas dormindo no sofá. Me aproximei devagar e pude observar que ele dormia com o celular em uma das mãos. Por mais que eu quisesse pegar o celular e descobrir o que estava acontecendo, respirei fundo e voltei para o quarto pensando em uma maneira de descobrir o que estava acontecendo com Lucas que ele não queria me contar.
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Quando o despertador tocou de manhã, eu já estava acordada. Na verdade eu não havia pregado os olhos durante a note toda com medo do que iria descobrir durante o dia, mas tive que manter a calma para que Lucas não desconfiasse de nada. Quando ele foi para o banheiro tomar banho como fazia todas as manhãs, peguei seu celular e decidi olhar as ligações e chamadas recentes. Não havia muita coisa igual da outra vez, exceto duas chamas do mesmo número que eu não conhecia. Uma havia sido assim que chegamos em casa e a outra havia sido feita exatamente às duas horas da manha e durou aproximadamente quinze minutos. Duas horas da manhã eu estava deitada enquanto ele estava falando com essa pessoa misteriosa. Meu coração ficou acelerado e meus braços e mãos começaram a tremer de forma que o celular quase caiu no chão, então corri para anotar o número, já que por estar nervosa, eu jamais lembraria dele depois. Voltei a colocar o celular onde eu havia tirado e me deixei depressa fingindo sonolência.  Lucas voltou para o quarto e sorriu para mim ao ver que eu ainda estava deitada.
–Está com sono ainda? – ele falou naturalmente.
–Sim, e você? Dormiu bem?
Ele franziu a sobrancelha e sorriu.
–Estou bem.
Sorri em resposta e fiquei o observando enquanto ele se vestia igual a todos os dias.
. Para testar as reações de Lucas, decidi dizer algumas coisas tranquilamente.
–Acho que vou pra loja hoje. – falei naturalmente.
–Sério? – ele me olhou confuso e vestiu sua camisa.
–Eu estava pensando em passarmos mais tempo juntos.
–Hoje vai estar bem puxado. – ele falou de forma estranha.
–Vamos almoçar então?
–Não vai dar, tenho almoço com um fornecedor!
–Mas isso não é Aline quem faz?
–Sim, mas a pessoa entrou em contato diretamente comigo, então decidi resolver isso sozinho.
–Fornecedor de que? – questionei.
–Por que tantas perguntas? – Lucas respondeu irritado.
Fiquei olhando para sua cara de pau me controlando para não berrar que eu havia visto a ligação em seu celular de madrugada enquanto eu dormia, mas apenas fiquei séria. Lucas percebeu minha reação e se aproximou se sentando ao meu lado na cama.
–Podemos almoçar juntos amanhã, o que você acha? – ele falou pegando minha mão e a beijando em seguida.
–Que seja.
Falei irritada e Lucas se levantou saindo do quarto sem ao menos se importar com o meu drama. Meus olhos começaram a queimar com as lágrimas que queriam explodir e tive que respirar fundo para não por meu plano a perder. Peguei o telefone e liguei para Aline.
–Fala logo! – ela resmungou.
–Vamos seguir Lucas hoje!
–Por que exatamente?
–Porque ele falou com alguém de madrugada!
–Ele é sonâmbulo? – Aline perguntou surpresa.
–Não! Ele falou pelo celular! Com alguém pelo celular.
–De madrugada?
–Sim!
–Filho da puta! Jaja to ai!
Aline encerrou a ligação e eu corri para me trocar quando escutei a porta da sala batendo e o carro de Lucas se afastando. Fui para a porta quando Aline buzinou na frente de casa de uma forma nada discreta. Corri até ela para que ela parasse de fazer tanto barulho e quase morri do coração ao ver aquela pessoa dentro do carro. Aline usava uma peruca curta e ruiva e um óculos escuro gigantesco. Comecei a rir dela assim que entrei no carro.
–O que é isso? – perguntei entre as risadas.
–Meu disfarce. Você deveria usar um também!
–Não obrigada!
Aline revirou os olhos e saiu devagar com o carro.
–Descobriu alguma coisa?
–Ele tem almoço com algum fornecedor hoje.
–Almoço com fornecedor? Mas essa é minha função!
–Eu sei disso e eu disse a ele a mesma coisa, mas ele falou que entraram em contato diretamente com ele e que ele que resolveria esse assunto.
–Filho duma puta velha! Ele está mentindo! –Aline estava realmente furiosa.
–Eu sei disso! – falei me sentindo derrotada.
–Calma Nataly, nós vamos apurar essa história direito e vamos cortar o pau dele se ele estiver fazendo alguma coisa errada!
Assenti em silêncio com medo de descobrir a pior notícia da minha vida.
●●●
Aline e eu ficamos no carro até a hora do almoço. Ela ligou para Lucas e disse que não estava se sentindo muito bem e que iria trabalhar somente na parte da tarde e ele mais que depressa disse que não haveria necessidade dela ir, pois o movimento estava muito tranquilo, completamente o oposto do que ele havia me dito.
–Você acha que ele tem outra? – perguntei sem saber que queria uma resposta para essa pergunta.
–Se ele tem outra eu não sei, mas que ele está mentindo, isso está!
Concordei com a cabeça e ficamos esperando dentro do a uma certa distancia. Perto da hora do almoço um carro preto estacionou na frente da loja.
–Você conhece esse carro? – perguntei a Aline.
Ela negou com a cabeça e ficamos boquiaberta quando uma mulher muito bonita e jovem parou na frente da loja olhando ao redor. Ela estava bem vestida com um conjunto de saia e camisa social enquanto eu vestia uma calça de oncinha cor de rosa. Ela tirou um celular da bolsa digitando algo rápido e em segundos, Lucas saiu da loja a recebendo com um sorriso. A novinha sorriu de volta e eles se abraçaram demoradamente.
Aline e eu nos olhamos de olhos arregalados e ela tirou os óculos escuros para que pudesse enxergar melhor. Depois de trocarem algumas palavras, Lucas entrou com a mulher na loja me deixando completamente sem reação.
–Deve ser uma tia! – Aline falou me fazendo olhar para ela.
–Nova desse jeito?
–Uma prima?
–Ele não tem tia.
–Uma prima então! – ela deu de ombros e voltou a olhar para a loja.
–Ele não tem parentes desse tipo. Não que eu saiba.
–Hum... pode ser uma irmã!
–Isso não é possível Aline, ele teria me dito alguma coisa!
–Lucas é estranho! Você sabe disso! – ela falou dando de ombros.
Pisquei repetidamente sentindo minha cabeça doer.
–Ele tem que ser muito filho da puta em ter um caso com alguém no trabalho de vocês! – ela falou por fim.
Tantas possibilidades passavam por minha mente, que eu não conseguia focar em nenhuma delas. Meu coração disparava freneticamente enquanto Aline suava por todos os poros. Por mais chocada que eu estivesse, eu não conseguia chorar ou reagir de nenhuma forma. Então eu apenas permaneci ali sentada, encarando a porta da loja como se ela fosse me dizer qualquer coisa.
Aproximadamente quarenta minutos se passaram quando os dois deram as caras novamente. Aline ajeitou a peruca e me olhou preocupada. Respirei fundo e olhei para os dois que riam empolgadamente na frente da loja. Lucas falou alguma coisa que a fez rir ainda mais e se jogar em seus braços em um longo abraço. Um pouco incomodado pela intimidade, Lucas se afastou e sorriu sem graça, me deixando um pouco mais aliviada. Em seguida ele entrou na loja novamente e ela entrou no carro permanecendo um bom tempo lá.
–Eu deveria ter entrado no consultório! – Aline falou irritada.
–Acho que teria sido pior, e eles fingiriam ainda mais.
–É... acho que tem razão!
Assenti com a cabeça sem saber o que dizer.
–Você pode ficar lá em casa se quiser!
–Obrigada, mas preciso falar com ele sobre isso.
Aline assentiu e ligou o carro me levando para casa. Permanecemos caladas o caminho todo e quando ela estacionou na frente da minha casa me deu um abraço que fez com que as lágrimas que eu segurava com tanto esforço, escapassem de mim sem que eu pudesse dizer não.
–Boa sorte com ele! Espero que seja tudo um mal entendido e que tudo se esclareça. – ela falou angustiada.
–E se não for? – perguntei em prantos.
–Se não for, você me avisa que venho aqui para cortar o pinto dele e para cavarmos a cova em que enterraremos ele!
–Obrigada! – falei entre as lágrimas.
–Vai ficar tudo bem!
–Te amo sua louca!
–Te amo mais!
Saí do carro me sentindo sem chão e Aline gritou:
–Pode ir em casa quando quiser! Qualquer coisa me liga!!!!
–Eu estou do seu lado ainda! – brinquei olhando pela janela.
Aline me mostrou o dedo do meio e eu entrei em casa para esperar Lucas para termos uma das conversas mais difíceis de nossas vidas.

Marido Aposentado -  Livro 2Onde histórias criam vida. Descubra agora