Capítulo 21

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Lucas
Eu queria muito visitar Giovanni, mas ao mesmo tempo eu estava em pânico de que algo ruim pudesse ter acontecido. Eu sei que o hospital entraria em contato caso acontece algo grave, mas a sensação de que o pior sempre está por vir, me deixava inquieto e ansioso.
Com receio de ver o estado de Giovanni, eu empaquei na porta da UTI sem saber como dar um passo a seguir. Nataly me olhou com compaixão e segurou minha mão com força.
–Entre lá, olhe para o seu irmão e diga a ele que você está do lado dele para tudo o que estiver por vir. Diga a ele que o ama e que está esperando por ele do lado de fora!
–E se ele não puder ouvir nada do que estou dizendo? – perguntei angustiado.
–Tenho certeza que ele irá ouvir, e caso isso não aconteça, ele será capaz se sentir o carinho e amor que sente por ele!
Suspirei levando em consideração tudo o que Nataly havia dito e me obriguei a entrar naquele lugar triste e frio. Assim que me aproximei de seu leito, pude perceber que Giovanni estava ainda mais machucado do que eu lembrava e sua pele estava tão inchada ao ponto de ficar brilhante como se estivesse prestes a estourar. Me aproximei do seu corpo imóvel que era mantido vivo por causa dos aparelhos ao seu redor. Esperei por qualquer reação dele, que não existiu. Segurei sua mão fria e lágrimas queimaram meus olhos como ácido.
–Por favor meu irmão. Você não pode me deixar de novo! Eu te imploro! Você precisa lutar.. precisa batalhar. Você tem uma família enorme te esperando aqui do lado de fora. Por favor cara! Não faça eu te perder mais uma vez... por favor... não faça isso comigo de novo.
Lagrimas escorriam em meu rosto e eu não tinha um pingo de vontade de escondê–las. Eu estava perdendo meu irmão mais uma vez e não havia nada que eu pudesse fazer para tirá–lo daquela cama. Apertei sua mão sem cor e inchada e fiz uma oração em pensamento. Implorei à Deus que ajudasse meu irmão naquele momento tão complicado. Sua cura estava fora de nossas mãos e dependia somente Dele.
Saí da Uti sem grandes esperanças. Ele parecia ainda pior do que no dia anterior e pela primeira vez eu senti que ele estava realmente indo embora para longe de mim.
Nataly me aguardava na porta da Uti e dei Graças a Deus por ela estar ali naquele momento. Agradeci a Deus por tê–la em minha vida. Assim que ela me viu saindo, veio em minha direção e me atirei em seus braços à procura de um conforto que somente ela poderia me dar. Seu corpo pequeno no meu me fazia lembrar o quanto eu era forte e lidaria com aquela situação de cabeça erguida e que com ela ao meu lado eu seria capaz de enfrentar tudo aquilo de cabeça erguida.  
●●●
(Três semanas depois)
Nataly
Semanas se passaram e as coisas continuaram da mesma forma. Íamos todos os dias visitar Giovanni que permanecia do mesmo jeito. Seu quadro estava estável, mas ele ainda não tinha acordado. Os Médicos disseram que seria difícil ele acordar depois de tanto tempo, mas que ter Fé poderia mudar tudo.
Lucas ficava cada dia que passava mais sem esperanças. Na verdade cada visita que ele fazia a seu irmão era uma despedida, já que ele dizia entre lagrimas que Giovanni poderia ir embora e que ele cuidaria de sua mulher e filha e a única que coisa que eu poderia fazer naquele momento era apóia–lo e estar ao seu lado quando o pior acontecesse.
Nenhum de nós sabia como seria dali pra frente, mas teríamos que ser fortes para qualquer coisa que estivesse por vir. Qualquer coisa.
●●●
Voltamos do hospital cabisbaixos ao sabermos que Giovanni havia adquirido uma infecção urinaria devido a sonda que ele usava. Os médicos entraram com um novo antibiótico na esperança de interromper a infecção que causava mais danos ao caso clinico dele. Giovanni estava enfrentando uma das batalhas mais difíceis de sua vida e precisava de todo o apoio necessário.
Ao sentarmos no sofá, olhei para Lucas que estava perdido em pensamentos.
–Eu acho que devemos avisar a família dele.
Lucas me olhou com tristeza nos olhos e suspirou.
–Eu sei... eu queria esperar para que ele ficasse bem, mas eu acho que isso não vai acontecer.
Assenti sabendo como ele se sentia, mas Jaqueline tinha o direito de saber o estado de seu marido.
Lucas tirou o celular do bolso e me entregou.
–Ligue para ela. Diga para ela vir aqui.
Concordei com a cabeça e fiz o que ele pediu.
Procurei o contato de Jaqueline em sua agenda e dois toques depois ela atendeu.
–Oi?! – sua voz era aflita.
–Oi Jaqueline, tudo bem? Eu sou Nataly, esposa de Lucas. Como vai?
– Oi querida, eu vou indo aflita sobre meu marido.
–Eu imagino. Lucas e eu gostaríamos de conversar com você sobre Giovanni. Se puder vir aqui em casa seria ótimo.
Ela ficou em silencio por um tempo, mas respondeu depressa.
–Claro. Me passe o endereço.
Fiz o que ela pediu e desliguei a ligação com Lucas me fitando.
–Como vou dizer para ela que o marido dela está morrendo?
Fiquei em silencio sem saber o que dizer. Eu também não fazia idéia de como contar aquilo tudo a ela.
–Nós vamos dar um jeito... nós sempre damos.
Lucas assentiu e deitou em meu colo enquanto aguardávamos a chegada de Jaqueline.
●●●
Menos de uma hora depois, Jaqueline estava em nossa porta. Assim que Lucas abriu para que ela pudesse entrar, ela viu seu semblante triste e começou a chorar. Lucas me olhou sem saber o que fazer e eu gesticulei para que ele a consolasse. Lucas desajeitado se aproximou de Jaqueline e passou seus braços ao redor de seus pequenos ombros a abraçando desconfortavelmente. Jaqueline que estava em prantos, permaneceu da mesma maneira até que se acalmasse. Quando ela estava aparentemente mais acalma, Lucas a levou para dentro de casa e ela me olhou constrangida com a cena anterior.
–Oi.. eu sou a Nataly... é um prazer finalmente conhece–la!
–O prazer é todo meu apesar das circunstancias!
Jaqueline respondeu sinceramente me dando um sorriso triste.
–Eu sei... mas não é nada do que esteja pensando! Diga a ela Lucas!
Gesticulei para que ele esclarecesse de uma vez por todas o mal entendido.
–Giovanni foi agredido fisicamente e está internado no hospital há um bom tempo.
–Ele está vivo?!?! – ela perguntou surpresa.
–Sim, está, mas o seu quadro de saúde é muito delicado. Ele sofreu diversas fraturas e está desacordado até o momento.
–Desacordado você quer dizer em coma?
Lucas concordou com a cabeça sem ter coragem de dizer as mesmas palavras. Jaqueline olhou para mim esperando que eu dissesse alguma coisa a mais.
–Você pode ir vê–lo se quiser.
–Posso? – ela questionou esperançosa.
–Claro! Você é mulher dele e tem todo direito de vê–lo. – afirmei a deixando um pouco mais aliviada.
–Eu pensei que ele tivesse morrido... faz tanto tempo...
Ela falou com lagrimas nos olhos.
–Giovanni veio me procurar pouco tempo depois que você me pediu ajuda. Infelizmente as coisas não saíram da forma que ele esperava, mas ele tem sorte de ter sido largado vivo naquele beco. Eu não quis te avisar nada sobre o que havia acontecido, para que você não ficasse mais preocupada do que o normal. Eu estava esperando que ele se recuperasse para que você pudesse visita–lo.
–Ele está se recuperando? – Jaqueline perguntou agitada.
–Não... – Lucas respondeu simplesmente.
Jaqueline me olhou triste e em silêncio. Ela também sabia o que aquilo significava.
–Quando posso vê–lo?
–Tem mais uma visita hoje a noite. Podemos leva–la se quiser.
–Eu agradeço se puderem fazer isso por mim. E peço que não digam nada a Ágata por enquanto... ela não agüentaria...
Lucas e eu concordamos com a cabeça sabendo exatamente o que ela estava sentindo. eu também faria de tudo para evitar que meus filhos sofressem com qualquer coisa que acontecesse.
–Eu sinto muito p0or não ter sido capaz de ajudar Giovanni mais uma vez. – Lucas falou sinceramente com lágrimas nos olhos.
Jaqueline se aproximou dele e segurou sua mão.
–Você não poderia ter feito nada sem que Giovanni permitisse.
Lucas suspirou e assentiu sabendo o quanto o seu irmão era difícil.
Fiquei olhando os dois a minha frente e senti um aperto no coração por eles. Perder um marido não deve ser nem um pouco fácil, mas perder o irmão mais uma vez, deve ser insuportável.   

Marido Aposentado -  Livro 2Onde histórias criam vida. Descubra agora