STOCKHOLM SYNDROME | H. STYLES

XXI

Juliana
Harry fechou o álbum que estava segurando com um estranho semblante em seu rosto. Como se algo o tivesse assustado muito.
  - Harry? Ta tudo bem? - perguntei, franzindo o cenho.
  - Estou. - ele se recompôs num segundo. O semblante estranho desaparecendo. Um sorriso apareceu em seu lugar. Retribuí ainda achando estranho. - Sobre o seu irmão... Onde está? - perguntou, de repente muito entretido numa maçã em cima do balcão que caiu da fruteira.
  - É uma longa história. O Dylan... ele, bem, morreu. Foi morto na verdade. - respondi protelando. Não gosto de falar sobre isso.
Parecendo entender que o assunto acabara, Harry colocou a maçã sobre a fruteira e virou-se para mim.
  - Entendo. Sinto muito pela sua perda. - ele sussurrou sem me olhar.
  - Ta tudo bem. Sério. Eu estou bem. - constatei o que em meu coração começava a fazer sentido e virar realidade. Só então Harry levantou seu olhar para mim, observando-me com cuidado. Depois, sorriu e me abraçou.

...

Harry

3:30

O relógio do meu celular apontava quando olhei-o pela décima quarta vez essa noite.
Juliana, seu corpo coberto apenas pelo lençol, dormia tranquilamente de costas para mim. Seu cabelo castanho e longo espalhado pelo travesseiro.
Não consegui dormir.
Meus cochilos eram de 5 à 10 minutos e cheios de pesadelos, nos quais Juliana sempre levava um tiro. O garoto que morreu era irmão dela, eu devia saber. Fiz James descobrir tudo sobre ela e colocar numa pasta quando a conheci. Normalmente, na pasta devia ter a informação de seu parentesco. Mas, na época, eu nem quis saber. Na verdade, eu ignorei a existência desse documento, jogando-o dentro de meu cofre no apartamento.
Devia contar para ela.
Não! Ela nunca mais iria olhar na minha cara.
Eu poderia explicar o que realmente aconteceu. Foi sim a sangue frio, mas eu tinha meus motivos.
De que isso serve? Ela não ouvirá.
Olhando o relógio novamente, vi que apenas se passaram 3 minutos. Sem conseguir me aquietar e com medo de acordar Juliana, levantei devagar, peguei meu celular e sai do quarto. Chegando a sala, joguei-me no sofá enquanto ativava a interface do sistema de segurança.
Esse sistema é um novo projeto em  desenvolvimento pelas Empresas Styles que pretendo lançar em breve.
Ela guarda toneladas de informações que precisam ser guardadas com segurança.
No começo, eu não dei muita fé, pois qualquer um com dinheiro para pagar um hacker conseguiria entrar no sistema. E foi assim que a ideia surgiu: contratar hackers para tentar invadir o sistema e apontar seus pontos fracos. Tem sido interessante. Como já tenho a versão não lançada que passou nos testes, meus documentos são mantidos aqui.
Abri a pasta de Juliana.
Sua foto apareceu. Ela estava na rua de sua casa, sorrindo para alguém que não estava na foto. Naveguei pelo conteúdo da pasta.

Nome completo: Juliana Jane Silverman
Idade: 24 anos
Formação: Formada em contabilidade. Trabalhou por um tempo como contadora na Berry's Marketing. Mas estava desempregada (um mês antes de seu irmão morrer).
Atualmente, contadora da Styles Enterprises Holdings.
Família: Steven Silverman (pai. 1950-2009), Eliana Silverman (mãe. 1957), Dylan Silverman (irmão. 1985-2014)

A pasta continuava. Com detalhes sobre infância, onde ela cresceu, quando se mudou para os subúrbios de Londres.
Estava aqui. Tudo aqui.
Mas...
Por que ela foi trabalhar na empresa que seu irmão foi morto? Não faz sentido estar perto assim de um possível assassino.
  - Harry? - um sussurro vinha de algum cômodo da casa. - Harry? - perguntou novamente.
  - To na sala. - chamei-a e fechei cuidadosamente o arquivo e então o sistema. Juliana apareceu no corredor com um roupão preto de braços cruzados, os cabelos jogados no rosto e os olhos quase fechados.
  - Ta fazendo o que aí? São quatro da manhã. - ela sussurrou e depois bocejou atravessando a sala. Abri os braços e o corpo pequeno de Juliana subiu no meu, cada perna sua em um lado do meu quadril, seu rosto a centímetros do meu. - O que foi? - ela perguntou, conseguindo manter os olhos totalmente abertos agora. Apoiou seus dois braços em cima do meu peito e deitou a cabeça sobre as mãos.
Olhando para o teto agora, respondi:
  - Não consegui dormir. Não sei. Insônia talvez.
  - Tem alguma coisa no trabalho te preocupando? Ou é Niall, talvez? - ela bocejou mais uma vez, escondendo a boca nas mãos.
  - Tem isso também. - suspirei - é muita coisa para digerir... - Juliana fez um "HM" bem baixinho e fechou os olhos.
  - Vamos conversar amanhã. Vou fazer você me contar tudo sobre esse negócio que você falou.
  - Que negócio?
  - Esse aí. Do futebol.
  - Futebol? - Ri baixinho.
  - É. Você não falou que era melhor que melancia? - sua voz foi ficando cada vez mais lenta e baixa até que sua respiração acalmou e soube que tinha caído no sono.
  - Como posso pensar na alternativa de contar e te perder? - sussurrei e beijei a testa de Juliana. Seu cheiro invadindo meus sentidos.
 
...