2 - O DIÁRIO DE NATIEL

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Leia enquanto ouve a música no topo da página!!! 

Excelente leitura ;)

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"Opressivo diário: Quando as minhas meninices me deixarão? Estou pronta para crescer e me entregar como uma adulta."

Em um dia de muita ventania, uma quinta-feira, havia acabado a aula e Natiel não havia aparecido, porém alguns amigos dele falaram que o haviam visto. Decidi procura-lo... Foi quando o vi, em uma das colunas laterais da escola com outra. Eles estavam se beijando! Foi terrível ver Natiel beijando outra garota. Como se tivessem me socado no estômago senti o ar se esvair de mim e, antes que pudessem notar, corri o mais depressa que consegui.

Ela nem era bonita! Era uma magrela do oitavo ano que, com certeza, não saberia valorizá-lo como eu. Mas, pensar nisso não me trazia qualquer conforto.

Tudo ficou negro!!!

Meus pais começaram a se preocupar com minha saúde por perceberem que eu não queria nem mais levantar da cama. Eu não ia a escola, não saía, não atendia a telefonemas, nem mesmo quando era Natiel ligando. E ele me ligou muitas vezes! Mas, o que ele poderia falar? Como poderia explicar o que eu havia visto?

Enquanto meu pai tentava me falar alguma coisa, da qual não me lembro, eu o interrompi e lhe falei que iria morar com os meus avós, pais dele.

Não me atentei as relutâncias, aos prós e contras, nem mesmo dei explicações. Decidi arrumar minhas coisas e partir para sempre, ou, pelo menos, até poder curar o meu coração.

Enquanto eu aprontava tudo, vi o diário de Natiel. Pensei em joga-lo fora, ou pedir para que o devolvessem, mas não sei o que me deu... Eu o coloquei na mochila e o levei comigo.

O encadernado parecia mais uma agenda, com uma capa marrom, A5, em espiral. Eu não havia lido nada dele, pois, embora Natiel nada tenha me dito, eu achava sacanagem com a privacidade dele. Apesar de tudo, eu não o odiava e o presava, por pior que ele tenha agido para comigo.

Quando cheguei a casa dos pais de meu pai, fui logo para o quarto que eles me reservaram e peguei o diário. Olhei para ele por um bom tempo até decidir abri-lo. Por que Natiel tinha tanto cuidado com ele? O que tanto ele protegia? O que tanto ele escondia?

Folheei o diário, mas não havia muita coisa escrita. Cerca de cinco páginas apenas. Quando comecei a ler a primeira, porém, não consegui continuar. A dor parecia estar maior só em contemplar algo que pertencia a ele. Joguei o diário embaixo da cama e ali ele ficou por dias... Até o dia da faxina!

Eu estava com 14 anos na época e, devido a minha clausura, eu pouco me relacionava. Apenas cumpria minhas tarefas em casa e escola, nada mais. Eu, que antes muito falava, passei a falar bem menos. Eu não tinha amigos com quem conversar e, embora a dor não tivesse diminuído, eu sentia falta de poder ter com quem desabafar. Foi quando, varrendo o quarto, reencontrei o diário de Natiel. Eu ainda não conseguia lê-lo, mas, de súbito, peguei uma caneta e, sem muito pensar, comecei a escrever nele.

***

28 de Outubro de 2007

Opressivo diário,

Sabe o que você representa para mim? Sabe o que você me faz lembrar?

Será que você pode me responder: Por que Natiel fez o que fez comigo?

AMEDRONTADO - LIVRO 2 [COMPLETO] - Trilogia Irmãos AmâncioOnde histórias criam vida. Descubra agora