Íris - closet novo.

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Eu não conseguia processar tudo que tinha acontecido e principalmente não conseguia decidir o que era pior, ter deixado as coisas entre o Gael e eu irem tão longe, ou ele não ter deixado que fossem ainda mais. O fato de ter descoberto que a bolsa que tanto almejava não passava de mais um truque inconsequente do Gael para me prender de alguma forma, também não estava ajudando, principalmente porque no fundo não conseguia sentir por ele toda a raiva que queria aparentar que tinha. Sabia que tudo que ele fez era errado em muitos níveis, mas por mais que minha mente praticamente gritasse isso, meu coração e meu corpo ficavam soltando suspiros bobos e pensando no quão romântico, e lindo, e gostoso ele era.  Mas eu não me deixaria levar, não outra vez, mesmo porque toda aquela conversa sobre casamento, e também a forma como ele havia me deixado assustada e frustrada na enorme sala de estar, haviam definitivamente feito com que quisesse correr para o mais longe possível daquela situação. Ficar pressa a alguém não era uma opção para mim.

Fiquei sentada e atordoada no sofá por um longo tempo depois da saída intempestiva do Gael. Todas as opções para contornar a situação em que me encontrava, para fugir ou tentar me manter em meu curso e na Itália sozinha, passaram por minha cabeça nos minutos ou horas em que estive lá, mas nada parecia minimamente relevante, todas as minhas ideias eram difíceis ou impossíveis. A real situação era que estava pressa ao Gael como ele havia planejado desde o inicio. Não poderia deixar a casa e me manter sozinha pois não tinha o dinheiro necessário para tanto, assim como não poderia pagar a passagem de volta, o dinheiro que meu pai havia me deixado não era muito, dava para pagar o apartamento e os gastos com alimentação e os estudos, nada mais. Se o que Gael havia dito fosse verdade, que ela realmente tinha sido selecionada para o curso sem bolsa integral, não poderia simplesmente deixar a oportunidade passar, não sabia se algum dia ela se repetiria, simplesmente não podia abrir mão disso.

Então, tudo que me restava era ficar ali com ele, e fazer o meu curso, aliás, ficando afastada dele o máximo que conseguisse e focando totalmente em seu curso, pelo menos até que conseguisse pensar em um plano b que pudesse funcionar. Não era exatamente o que tinha planejado para essa viagem, mas teria que dar certo, mesmo que a chance de dar tudo tremendamente errado fosse enorme.

Enquanto se perdia em seus pensamentos, alternando entre tentativas de fuga e lembranças de braços fortes e mãos habilidosas, assustou-se ao ver um senhor robusto parado na entrada da sala carregando sua bagagem.

_ La signorina potrebbe seguire me,per favore? (A senhorita poderia me acompanhar por favor?) - ele disse em uma voz melodiosa e profunda.

-Sì, grazie. (Sim, obrigada) - respondi me levantando

Subimos por uma escada que se encontrava em uma sala adjacente, quase tão grande quanto a sala principal, mas ainda mais bonita na minha opinião pois estava repleta de estantes cheias de livros. Assim que chegamos ao topo dá escada e viramos para um corredor enorme repleto de portas encontramos Gael parado em frente a uma delas.

- Puoi lasciare, Fernando. Io stesso mostrerò il quarto signorina Iris. (Pode deixar, Fernando. Eu mesmo irei mostrar o quarto para a senhorita Iris) - Ele falou com Fernando sem olhar para mim.

- Sì signore, mi scusi. ( Sim senhor, com licença.) - Fernando respondeu, se virando de imediato e seguindo rapidamente para longe.

- Olha Gael, eu não quero mais discutir por hoje, OK?! Eu estou exausta. - ela disse rapidamente, tentado se afastar de seu olhar, que agora estava fixo nela. - Só mostra logo o meu quarto por favor.

- Bom... Você poderia ficar no meu quarto, amor... - ele disse com um sorriso sacana puxado de lado. - ... E quem sabe até usufruir de tudo que ele pode oferecer....

- Gael... - eu começo a dizer, já sem paciência nenhuma, mas felizmente ele me corta.

- Mas como eu sabia que você seria terrivelmente difícil, mandei que preparassem pra você um dos quartos de hóspedes. - ele fala se afastando dá porta em que estava encostado e abrindo a porta para que ela entrasse.

O quarto era espaçoso, decorado com temas florais em tons bem claros de rosa e azul, e com uma enorme cama king size no centro. Gael indicou para ela onde ficava o banheiro e o closet e em seguida saiu deixando a sozinha para que pudesse descansar.

Ela gostaria de explorar mais o quarto, mas depois de tantas horas de viagem e de tantas emoções com o encontro com Gael, estava mentalmente e fisicamente exausta. Sem pensar duas vezes colocou uma de suas malas na cama e retirou de dentro sua necesser e foi para um longo e maravilhoso banho quente.

Demorou mais do que pretendia em seu banho, mas o chuveiro era simplesmente magnífico, então aproveitou a água quente para relaxar e se livrar de um pouco dá tensão que teve durante o dia. Quando finalmente saiu do banho, enrolada em uma enorme e macia toalha, foi para a cama procurar por algo confortável em sua mala, mas não a encontrou onde havia deixado. Olhou ao redor do quarto rapidamente e logo percebeu que ela não estava ali. Será que Gael havia desistido de deixa lá no quarto de hóspedes e resolveu força- lá a dormir com ele? Será que ele seria tão louco a esse ponto?

Antes de pirar completamente resolveu olhar dentro do closet, na esperança de que ele tivesse apenas colocado suas malas lá.

Aí entrar no closet foi tomada pela sensação de dejavu e de pânico. Sua mala estava colocada em um canto do closet, porém todas as prateleiras e cabideiros estavam repletos de roupas femininas, e ela já conhecia algumas das peças.

- Mandei trazer algumas de suas roupas que estavam na nossa cada, e também comprei mais algumas coisas por aqui pra você também, amor. - ele fala aparecendo repentinamente na porta do closet.

- Não existe "nossa" casa Gael! E eu não quero nem começar a comentar o quanto tudo isso é bizarro, estou muito cansada pra tudo isso! - eu digo olhando pra ele com a minha melhor cara de ódio.

- É claro que existe nossa casa amor! E tudo que tem nesse closet é seu, use a vontade. - ele fala com aquele sorrisinho besta. - Eu vou te deixar descansar, mas qualquer coisa que você queira ou precise, a qualquer hora, é só me chamar, meu quarto é o dá porta bem em frente a sua.  Ele fala se virando e saindo.

Não há o que fazer no momento contra isso, e por mais que eu não esteja satisfeita com essa situação, não tem sentido lutar agora. Então abro minha própria mala, e retiro uma de minhas próprias camisolas sem olhar para os lados ignorando tudo ao meu redor. Me jogo na cama e quase instantaneamente adormeço deixando o cansaço e a escuridão do quarto me engolirem completamente, e apagando por algumas horas todas essa confusão em que me encontro.

A cura di amore #Wattys 2017Onde histórias criam vida. Descubra agora