A cura di amore #Wattys 2017

Gael - A corda

Eu estava a dois dias longe dela, e mesmo já tendo ficado assim por mais tempo antes, a impressão que eu tinha era que agora a distância me doía ainda mais. Além da saudade absurda de tudo, desde o seu cheiro até seu corpo, sua voz, sua risada, até mesmo o seu mau humor pela manhã, eu ainda tinha que lidar com a ansiedade do casamento que seria em dois dias, e com o medo dela simplesmente resolver não aparecer. Eu não iria deixar que isso acontecesse no entanto. Eu já tinha descoberto através do número que ela usava para me ligar, o nome e o endereço da tal amiga onde ela estava, não foi realmente difícil. Em várias ocasiões eu já estive a ponto de pegar o carro e ir buscá-la a força, mas eu não era um completo idiota, eu sabia que tinha errado, e eu sabia também que forçar a situação poderia ser ainda mais desastroso, então eu estava respeitando a sua vontade, me mantendo afastado por mais que isso me custasse. Mas eu estava no meu limite, não tinha como me segurar muito mais.

Hoje o dia estava especialmente ruim. Mas uma vez ela me ligou ontem a noite e mais uma vez eu implorei como um bebê pra que ela voltasse pra casa. Apelei para todas as minhas cartas, tentei a compaixão, tentei o arrependimento total, tentei impor, tentei seduzir, mas ela simplesmente me negou. Disse que achava que não estava pronta para voltar ainda, que precisava de mais tempo, fui dormir furioso comigo com ela e com o universo, que parecia gostar de rir da minha cara com muita frequência atualmente. Dizer que tive uma noite de merda seria um eufemismo, então quando acordei com um humor mortal achei melhor ficar completamente sozinho. Como Júlia e Iam iam sair cedo para uma pequena viagem a um cidade próxima, dispensei todos os empregados e pedi que não fosse incomodado de maneira nenhuma pelo resto do dia. Eu aproveitaria o dia para chafurdar na minha depressão e auto piedade com muito gosto.

Acordo muito cedo, ou desisto de dormir muito tarde, e logo depois de me certificar de que todos fossem realmente embora, pego apenas um café na cozinha e volto para o meu quarto. Não tenho vontade de comer nada, e sei que já não como praticamente nada a dias, mas simplesmente não consigo me forçar a isso, então tomo apenas meu café olhando pela janela do nosso quarto, sem conseguir tirá-la dos meus pensamentos. Imagino como ela está, como dormiu, o que está fazendo agora. Minha mente também me prega peças constantes, criando imagens de homens alheios que aparecem e a levam de mim, fazendo com que eu estremessa a cada pensamento, então continuo respondendo para mim mesmo que morreria antes de deixar isso acontecer.

Decido tomar um banho, pra tentar lavar um pouco dessa negatividade de mim, ou simplesmente para ter o que fazer. Tiro minhas roupas e entro embaixo do chuveiro. Deixo a água quente cair pelo meu corpo um bom tempo, na esperança que ela levasse embora um pouco da angústia que sinto por não tê-la ao meu lado. Mas por mais que eu passe uma eternidade aqui, não funcionaria, meu único remédio é ela.

Saio do banho do mesmo jeito que entrei, estou tão perdido em meu sofrimento, que passo direto para o closet sem nem ao menos perceber qualquer diferença no meu quarto. Somente quando volto, já vestido com uma calça de moletom é que a vejo sentada em minha cama.

- O que você está fazendo aqui! - eu digo em um misto de surpresa e fúria.

- Eu precisava falar com você antes que ocorresse toda essa loucura de casamento. Sei pazzo? (Você esta louco?). Como pode querer casar com ela? - ela fala se levantando e vindo na minha direção. - Ela não é mulher para você...

- Eu vou casar com a Íris, Marcella! Vai embora​ e nos deixe em paz de uma vez por todas! Ela é a mulher que eu amo, que eu sempre amei! - eu falo a empurrando para longe de mim, o que faz com que ela volte a cair na cama.

- Onde ela está então??? Se te ama tanto, onde ela está? - ela grita para mim.

- Ela está na casa de uma amiga, mas ela vai voltar para o casamento. - eu falo mais pra mim, tentando convencer a mim mesmo disso.