No final do ano passado eu passei na prova para estudar em uma Instituição Federal, que tem o curso técnico integrado. Foi a maior conquista da minha vida até hoje. A prova é muito difícil e eu havia estudado o ano todo pra isso.
Confesso que eu sinto falta das minhas amigas e do modo de ensino da minha antiga escola, porém tudo tem suas vantagens. Por exemplo, excursão para outra cidade. Como é uma Instituição Federal, tem um campus em todos os lugares do país e a professora de cálculo aplicado pediu para que a turma toda de mecatrônica fosse para Passos.
A escola disponibilizaria um ônibus para levar os alunos e o hotel para reserva. E a professora explicou:
– Vocês pagam um determinado valor e vão com a gente, sendo que se a escola for responsável por vocês, vocês deverão seguir restritamente nossas regras. Aqueles que forem por conta própria deverão comparecer à escola nos horários específicos.
O Jake, um dos meus amigos, filho do amigo da minha mãe, também passou em uma prova, mas para fazer faculdade. E ele conseguiu uma vaga no campus de Passos. Eu precisava convencer minha mãe a deixar eu ir pra lá e ficar na casa dele. A casa não era exatamente dele, mas tenho certeza de que eu conseguiria ficar por alguns dias nem que eu tenha que pagar uma diária mais barata.
-Bom, é um trabalho de campo e será avaliado, por isso a presença e o comprometimento de todos é imprescindível. Bom, estou entregando um bilhete com todas as informações. - A professora disse enquanto distribuía papéis e interrompia meus pensamentos.
Ao chegar em casa, minha mãe já estava lá e eu mostrei o papel para ela e contei sobre a atividade.
-E o Jake está morando lá, para economizar, eu poderia ficar na casa dele.- Completei.
-Mas você disse que ele mora na casa de uma pessoa.
-Eu converso com ele e vejo se tem como eu dormir lá nesses dias.
-Você vai viajar sozinha de qualquer jeito, já que é uma atividade avaliativa. Mas, para você ficar na casa de um desconhecido é mais complicado. Eu tenho que conversar com seu pai. - Minha mãe disse calmamente. Eu admirava a serenidade dela, pelo que eu me lembre, ela nunca tinha ficado realmente brava comigo.
Como eu estava muito ansiosa, mandei a seguinte mensagem para o Jake.
“Tenho uma excursão para Passos e vai durar mais de um dia. Eu podia ficar na sua casa né?”
E imediatamente ele respondeu: “Claro, estou morrendo de saudades… tenho só que conversar com a dona da casa.”
“Minha mãe ainda não deu certeza de que vai deixar. Mas enfim, o que tem pra fazer na sua nova cidade?”
“Quando você chegar aqui, você descobre. Tenho que ir, minha aula vai começar.”
“Boa aula.”
Sério, o Jake é a melhor pessoa do mundo. Ele é muito fofo, gentil e inteligente. Pena que depois da minha festa a gente perdeu um pouco da intimidade que a gente tinha. A nossa promessa de conversar pelo menos uma vez por semana ainda estava valendo, mas depois que ele foi embora que eu percebi o quanto ele era importante.
Demorou dois dias para meus pais me responderem e, com muito custo, eles deixaram. Meu pai determinou algumas regras que, se forem descumpridas, eu ficaria sem celular e computador por um mês e não poderia sair com minhas amigas. Não conseguiria viver sem meus bebês por um mês, portanto as regras viraram leis para mim.
As regras eram: não sair sozinha à noite; respeitar todos os responsáveis; não desrespeitar leis federais e ter MUITO juízo. As regras foram claras e eu tinha que mandar elas para o Jake, no início ele riu, mas depois percebeu que elas faziam muito sentido.
Nos próximos dias, a viagem foi o principal assunto na turma. Todos estavam empolgados e apenas 10 alunos iam com a escola. Dois dias antes da viagem, minha mala já estava arrumada. Tinha uma mochila só para as coisas da escola, que eram muitas. E uma bolsa grande para as roupas. Iríamos ficar uma semana na cidade, saindo na segunda e voltando no sábado a tarde.
No dia da viagem, ninguém foi na aula. Peguei o ônibus às 7 horas e estava previsto para chegar ao meio dia. Muitas pessoas da minha sala foram no mesmo ônibus, ou seja, ia dar bagunça na certa.
Coincidentemente, todos nós ficamos no fundo. No início da viagem a Larissa me perguntou:
-Onde você vai ficar?-Na casa de um amigo universitário. - Fale num tom de brincadeira.
-Amigo, sei… - Ela disse insinuando outras coisas.
– Ele é só meu amigo mesmo. Ele é mais velho, mas parece uma criança fofinha. Nunca pensei nele como outra oisa que não seja meu amigo. - Eu disse séria, mas rindo ao mesmo tempo.
– A gente podia marcar de fazer alguma coisa depois da escola né. - A Marina disse se dirigindo a nós.
– Meus pais me proibiram de sair à noite sozinha, só posso ir se o Jake for.
-Já percebi que você não vai desgrudar dele. - A Larissa disse decepcionada.
– Vocês vão conhecer ele, e ver que ele é bem legal.
_Ele é bonito pelo menos? - A Marina disse curiosa.
– Ah… ele é fofinho. - Respondi.
-Se falou que é fofo, já sei que é feio. - A Larissa disse, enquanto a Marina concordava.
– Isso são vocês que estão falando… - Eu disse, tentando discordar delas.
Chegamos na cidade na hora do almoço, despedi-me das meninas e disse que depois a gente marcava alguma coisa para fazer.
O Jake me buscou na rodoviária e quando cheguei na cada dele, um delicioso almoço me esperava. Coloquei minha mala no quarto dele e identifiquei, entre outras fotos, uma nossa que a gente tinha tirado no meu aniversário. Era a mais bonita, estávamos abraçados e felizes. Me lembrei da festa
Conheci a dona da casa, que por sinal era muito gentil, e os outros moradores, nos quais eram amigos dele da faculdade.
Um deles se chamava Théo, tinha um tom de pele bem claro e o cabelo loiro, parecia que vinha de outro país. Tinha uma beleza singular. O outro era baixinho, e moreno, bem parecido com o Jake, e se chamava João Henrique. O Théo me chamou atenção, tinha alguma coisa nele de misterioso, gentil. Eu precisava conhecer ele melhor, sabia que eu ia ficar inquieta enquanto não tivesse nenhum tipo de informação dele.
Depois do almoço, fomos para o quarto e eu mostrei os meus horários para ele, e coincidentemente os horários que eu estaria na escola, eram os mesmos que ele estudava em casa. A única parte ruim é que a faculdade dele era a noite, então a menos que ele falte na aula, eu não poderia sair com as meninas. Porém, ele me prometeu que mostraria a cidade na parte das manhãs.