Perdido no infinito

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  Os dois botes salva vidas estavam boiando pelo infinito do mar noturno iluminado apenas pelo cruzeiro que estava em chamas enquanto afundava.

  - Somos os últimos botes? - Perguntou Charles para alguém que julgou ser um dos marinheiros do cruzeiro e que pegara o mesmo bote que eles.

  - Pelo que o capitão falou sim. - Falou o marujo que estava com os olhos vermelhos e a pele amarela, Charles julgou que ele estava exausto, todos ali estavam, todos os 28 homens, sendo 14 em cada bote.

  Charles olhou mais uma vez para o cruzeiro que estava cada vez mais fundo e lamentou sua falta de sorte.
 
Charles sempre fora um homem sozinho, apesar de ainda ter 25 anos, nunca conseguiu ter muito sucesso em conquistar as mulheres, em seu emprego ele ganhava um salario bem acima da média, portanto pensou em tentar a sorte em um cruzeiro, mesmo sabendo que talvez não conseguisse nenhuma nova namorada, iria se sentir bem em pelo menos conseguir fazer novos amigos, e a experiência de estar em um cruzeiro poderia ser fantástica, mas infelizmente, não foi o que aconteceu.

  Três noites no cruzeiro e Charles ainda não tinha se socializado com ninguém, até mesmo com os garçons parecia ter problemas em dialogar, pensou que mais uma vez, teria uma tentativa de fazer amigos que fracassou, e para completar seu azar, o cruzeiro afundou, algo como a caldeira explodindo. As mulheres e crianças conseguiram fugir pelo bote salva vidas primeiro, depois os homens e os funcionários, incrível como tinha espaço para todos, parecia até que era contado.

  - A caldeira explodiu mesmo? - Perguntou Charles para o funcionário.

  O marinheiro nada respondeu, apenas ficou olhando para cruzeiro enquanto se afastavam com o bote. Não muito tempo depois o cruzeiro não podia mais ser visto no horizonte, pois tinha afundado completamente, mesmo assim o funcionário ainda estava encarando o nada com uma expressão vazia e os olhos ainda vermelhos.

  Todos no bote ficaram em silêncio por um longo tempo, muitos de cabeça baixa, como se estivessem de luto.

  - Eu não engulo essa história de caldeira! - Gritou um homem gordo e careca que estava em outro bote.

  Todos olharam curiosos para o surto de raiva repentina do homem que os acompanhava.

  - Eu ouvi o barulho, sei que algo estava mordendo o fundo do navio! - Esbravejou o homem gordo.

  Todos estavam estarrecidos, incluindo Charles, que trocava olhares entre o marinheiro e o homem gordo. O marinheiro parou de encarar o horizonte e olhou no rosto de cada uma das pessoas que estavam presentes com ele.

  - Ah dane-se! - Falou o marinheiro para si mesmo e para quem quisesse ouvir. - O navio começou a afundar entes da caldeira explodir. - Falou com calma o marinheiro.

  Algumas pessoas soltaram um suspiro de surpresa. Charles estava de boca aberta pela confissão do marinheiro, então havia algo que afundou o barco? Mas o que? Um tubarão? Uma baleia? O que seria tão poderoso a ponto de afundar um cruzeiro? 

  Charles olhou para o homem gordo e viu que ele também estava em um misto de surpresa e medo.

  - O que teria afundado aquilo?! - Falou o homem gordo tentando parecer bravo, mas a voz estava tremida o suficiente para indicar que estava tremendo.

  O marinheiro nada disse, apenas fechou a boca e voltou a olhar para o nada, todos resolveram imitar ele, até mesmo Charles.

  Quando começou a amanhecer, via se o sol nascer aos poucos no horizonte, e com ela uma terrível surpresa. Boiando no mar, estavam aquilo que deviam ser destroços, pela cor e por algumas semelhanças perceberam que eram os botes que haviam partido antes deles. Todos ficaram horrorizados com a visão, ainda mais por saberem que os primeiros botes continham em maioria crianças e mulheres. Não tinha nenhum sinal dos sobreviventes, o que fez com que todos pensassem no pior.

- Meu Deus! - Gritou o homem gordo. - Eles morreram!

- Não temos certeza. - Falou Charles, tentando acalmar as pessoas que estavam ali.

- Olha para isso! - Gritou novamente o homem gordo, apontando para o bote. - Está na cara que o que afundou o navio veio atrás dos botes!

O murmúrio entre os sobrevivente nos botes estavam ficando cada vez mais alto, Charles sabia que isso não era bom, precisava acalmar o pessoal para que pudessem sobreviver juntos.

- Apenas se acalme, ficar irritado a essa hora como essa não vai adiantar nada, precisamos nos acalmar. - Charles falou alto para chamar a atenção.

- Se acalmar?! - Gritou o homem gordo, mais alto que antes. - Olha para a nossa situação! Como podemos nos acalmar?

- Tenho certeza que se tentar consegue.

O homem gordo deu uma risada sarcástica.

- Fale por si mesmo! - Gritou muito alto. - Eu não preciso ficar ouvindo besteiras de um cara como você!

Ao fundo , atrás do bote onde o homem gordo estava gritando, Charles viu algo surreal, uma fileira de algo que parecia barbatanas de tubarões estava vindo em direção do bote do homem gordo, o grande choque era que estavam vindo enfileirados de um jeito bem ccoordenado parecendo até que foram treinados para isso.

- Atrás de vocês! - Gritou Charles a plenos pulmões.

Todos que estavam no bote do homem gordo olharam para trás, a fileira de barbatanas chegou perto do bote e afundou, de dois em dois, como se fossem treinados.

- Isso não me parece tubarões. - Falou o marinheiro, parecendo que saiu do transe.

Charles deu uma boa olhada no fundo do mar cristalino, e percebeu que aos poucos ia surgindo uma figura no fundo do mar. Eram dentes, dentes do tamanho de um homem adulto, e lentamente foi surgindo uma boca, era redonda, parecia a boca se um verme, era maior que tudo que Charles tinha visto na vida, a boca era grande o suficiente para engolir os dois botes de uma vez só.

- Meu Deus! - Charles soltou estas palavras sem nem perceber. Todos ao seu redor olharam com espanto o que ocorria.

Charles não quis mais perder tempo.

- Tem como este bote nadar mais rápido? - Perguntou Charles para o marinheiro, mas ele simplesmente entrou em pânico e pulou no mar, agitando os braços e começou a nadar desesperadamente.

Todos olharam para aquela cena e logo começaram a imitar o marinheiro, incluindo o Charles que entendeu que o bote não seria rápido o suficiente.

Enquanto muitos nadavam no bote, o homem gordo e mais alguns ficaram nos botes, alguns olhando a cena com lagrimas nos olhos, outros chorando desesperadamente, o homem gordo apenas gritava algo sobre não saber nadar.

Charles gostaria de ter encontrado um meio de salvar eles, mas não tinha ideia de como. O jeito era assegurar sua própria vida.

Enquanto Charles nadava desesperadamente, ouviu- o grito de horror do homem gordo, o barulho de algo grande emergindo da água, botes se quebrando e pessoas gritando, logo depois uma grande onda varreu os que estavam nadando, afastando todos.

Charles tinha afundado e engoliu um pouco de água, girou no fundo da água por um tempo por causa da força das ondas, quando tudo se acalmou, emergiu. Olhou ao redor e viu que outros estavam fazendo o mesmo mas diferente de Charles, logo recomeçaram a nadar. Percebeu que umas três ou quatro pessoas já haviam desistido, apenas ficavam paradas esperando pela morte certa.

Charles não quis mais perder tempo, começou a nadar o mais rápido que poderia para longe, não sabia para onde, apenas nadaria e torceria para que aquela coisa não o alcançasse.

Não tinha nada esperando por ele em terra, não tinha namorada, não tinha amigos, um emprego que não gostava, somente sua mãe, e ela estava muito longe. Mesmo assim Charles nadou o mais rápido que pôde, nadou com o máximo de esforço que poderia fazer. Ignorou todos os gritos, todos os pedidos de socorro, ignorou tudo que o atrapalhasse, apenas nadou, mas infelizmente Charles é um ser humano, por isso uma hora ele se cansou.

Incapaz de nadar, tudo o que Charles poderia fazer era olhar ao seu redor, ele não viu ninguém, não viu nada, ninguém para pedir ajuda, quilômetros e quilômetros de mar e céu. Estava perdido no infinito.

Charles simplesmente cansado, por algum motivo sabia o que aconteceria, olhou para baixo e viu as fileiras de dentes, uma boca enorme em formato de círculo, forte o suficiente para afundar um cruzeiro.

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