■ Capítulo 6 ■

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Eu sempre imaginei que quando estivesse sozinha, sendo independente e vivendo da minha forma, não precisaria de mais ninguém. Não seria insultada por outros, não me sentiria ameaçada, não me submeteria à humilhações. O problema, é que com o passar do tempo, fui percebendo que todos esses desafios não eram algo que simplesmente se podia fugir. Aprendi que devemos entregar tudo de si à vida e viver vagarosamente no mais perfeito dia de verão. Eu estava sentada na entrada do complexo observando o grande nada a minha frente.

Havia algo e ao mesmo tempo não. Eu via apenas uma linha no horizonte em um total emaranhado, e só pude retornar à realidade quando Vitor praticamente gritou no meu ouvido.

- Coé, Larissa? Pensei que tava possuída.

- Vai pra lá. - digo empurrando-o enquanto sorria.

- É sério pô, parecia a Annabelle.

- Annabelle é uma boneca. - respondo desnecessariamente seu comentário desnecessário.

- Você também é, só que uma boneca estranha.

- Cala a boca. - digo e cruzo os braços, ignorando sua risada. - Aliás, pode me fazer um favor?

- Eu sou escravizado nessa porra, tá doido.

- Tu reclama demais.

- Qual é?

- Me leva na Rocinha - ele olha pra minha cara sem acreditar -... Por favor? É sério. Ninguém vai saber.

- Tá bom, tá bom. Só que eu vou te levar de moto. Tenho carro pra pegar emprestado hoje não.

- Sem problemas. - digo e abro um sorriso.

****

Era início de tarde quando atravessei a entrada sem haver problema algum e comecei a subir em direção a um lugar específico... Vulgo, casa da Letícia. Queria encontrar Bruna, então como ela não havia voltado ainda para o Complexo, provavelmente estava aqui.

O que não imaginei era que no trajeto, encontraria a rainha das insetas. Barbie Maldita me olhava de cima a baixo e em poucos segundos já estava parada na minha frente bloqueando passagem.

- O que você tá fazendo aqui?

- Pergunto a mesma coisa! - abro um sorriso cínico.

- Minha família mora aqui. - ela responde. - E você? - que garota curiosa, misericórdia.

- Vim atrás da Bruna. - respondo tentando me conter.

- Presta atenção, aqui eu sou amiga de todo mundo! Não tente se colocar no meu caminho ou vai sofrer as consequências.

- Fodase.

Ela olhou ao redor e em questão de segundos várias garotas apareceram atrás da mensageira do diabo.

- Te aconselho não voltar aqui... Minhas amigas não tem piedade.

- Bom pra você. - a olho com cara de tédio.

- Você acha mesmo? Vai entrar no MEU morro e vai ficar tudo bem? Haha. - ela solta uma risada irônica.

- Primeiramente, o morro é meu.- nem precisei olhar para trás para saber quem havia interferido. - Segundo, você pode até ter alguma consideração aqui por conta da sua mãe, mas não vem de palhaçada com gente minha porque senão tu tá ferrada. Pode pá?

- Desculpa, rei. Desculpa mesmo! - A guria se fez de coitadinha. - Eu já vou.

Ele puxou meu braço e voltei a seguir o trajeto antes pensado. Assim que estávamos um poucos mais afastados, não me contive e logo soltei a pergunta:

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