■ Capítulo 37 ■

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No momento em que me aproximei da Rocinha, vapores apareceram de todos os lados possíveis para me ajudar a caminhar. Sabia que enquanto estivesse ali, estaria segura, e era somente isso que me confortava. Sentei na calçada sem coragem de voltar para casa.

Melanie que chegava com Breno, quase teve um infarto ao ver as condições em que eu estava, enquanto eu só queria dormir por uns dez dias seguidos.

- O que aconteceu contigo, Larissa? - Breno perguntou tão irritado quanto preocupado.

- Tá tudo bem. - respondi e ele negou com a cabeça, me abraçando com todo o cuidado possível em seguida. - Mell? - chamei e ela se abaixou em minha frente.

- Pode dizer.

- Tenta tirar a Aysha daqui por alguns dias, não quero que ela me veja assim.

- Ok. Vou com ela pra casa da Karol. Fica bem, viu? Vou subir lá em cima pra avisar o que tá acontecendo.

- Não exagera. - peço e ela assente.

- Agora me diz, o que foi, Larissa? - algo me dizia que ela já sabia, só esperava pela confirmação antes de enlouquecer.

- O Marcos...

- Desgraçado! - ele levanta e começa a passar a mão no cabelo, andando para lá e para cá tentando pensar em algo. Já conhecia todos os seus escapes e aquele era um deles.

- Larissa? - Lehandro se aproxima me olhando de cima a baixo. - Foi aquele vagabundo, filho de uma puta do caralho, não foi?

- Lehandro...

- Eu vou pipocar a cara dele. - sem esperar que eu dissesse qualquer outra coisa, mandou um aviso em código para TH e balançou a cabeça negativamente enquanto ainda me olhava.

- Eu tô bem, não precisa de nada disso.

- Pode pá que precisa sim! Ninguém vai mexer contigo e sair ileso. Tá me ouvindo, né? - no momento em que vê os trutas descendo o morro, Lehandro se abaixa, parando há centímetros do meu rosto. - Você vai ficar bem, mas ele não. Não vou mentir pra você, mas vai tudo ficar bem feio por aqui.

- Lehandro...

- Não me pede pra parar porque tu sabe que isso não vai acontecer.

- Não deixa que o Pedro se machuque no meio disso.

- Vou falar com a mãe dele. Fica na paz. - assinto e então ele me pega no colo, me levando até o carro dele estacionado ali próximo. Ele entrega as chaves ao Breno e sobe o morro como se estivesse prestes a matar alguém, literalmente.

Quando Breno estaciona o carro em frente de casa, Bruna já estava lá me garantindo que Aysha não estava para ver a situação. Desci com cuidado e entrei com a dor aumentando a cada segundo.

- Vou atrás de um remédio pra dor. Tenta tomar um banho e dormir, tá? - Breno pede.

- Eu te ajudo, vem. - Bruna me leva até o banheiro e me ajuda com o banho mais dolorido que eu tomei na vida. Cada peça que eu tirava e cada movimento que eu fazia, era como se um novo chute fosse dado. Pedia silenciosamente para que parassem enquanto as lágrimas já ensopavam a nova roupa que eu vestia.

Breno logo trouxe dois comprimidos acompanhados de um copo com água. Tomei e deitei na cama, chorando feito uma criança sem seu brinquedo predileto.

Acordo tarde da noite com meus músculos dormentes de dor. Levanto e com cuidado, sigo até a sala. Karol e Melanie já haviam saído com Aysha. Breno, Nando e Bruna conversavam baixinho sobre algo que parecia muito sério.

- Aconteceu alguma coisa? - pergunto e todos me analisam de cima a baixo. Eles se olham entre si e quando nenhum mostra questão de contar o que acontecia, Breno começa:

- Lehandro invadiu o Vidigal tem algumas horas. Parece que o Marcos tá no hospital internado.

- TH também. - Nando complementa.

- É o quê? - quase surto em preocupação.

- Não internado, mas no hospital. - Breno corrige. - Ele levou uma bala de raspão, mas tá tudo bem.

- Lehandro sumiu. - Bruna finaliza com a facada final.

Sento no sofá sem força nenhuma para continuar em pé. Se algo acontecesse com ele, eu jamais me perdoaria. Por horas eu fiquei ali, atordoada, preocupada, minha dor sequer latejava mais. Eu só precisava receber uma única informação de Lehandro para ter certeza de que ele estava bem. Ele tinha que estar.

Quando a porta foi aberta, eu suspirei em alívio. Lehandro atravessou a sala em silêncio, exausto e cheio de algo que não dava para decifrar.

Bruna correu e abraçou o mesmo, ambas sabíamos como ele afetava nossa vida e como um único arranhão nele podia nos preocupar. Levantei com ajuda de Breno e me aproximei dele.

- Por que sumiu? - indaguei quando continuou calada.

- Fui levar Pedro pra casa da mãe.

- Fiquei preocupada. Aconteceu algo? Você tá...

- Ele te machucou, Larissa. Isso foi o que aconteceu. Eu descontei toda a minha raiva e mesmo assim parece que não foi o suficiente.

Abracei o homem alto e frágil em minha frente, sentindo toda preocupação se esvair em um único toque.

Com a porta ainda aberta, ninguém havia percebido a presença de Matheus ali na sala. Ele me olhava com dor, e a única coisa que eu consegui ser capaz de fazer, foi fechar meus olhos para não sentir aquele pesar em mim.

[...]

Levantei tarde naquele dia, andei ao redor em teste e já me sentia bem melhor. Tomei um banho gelado e ainda enrolada na toalha, me olhei em frente o espelho. Havia marcas por todo o meu corpo.

Aquela imagem destruía quem eu era e quem eu lutei por tanto tempo para ser. Senti um turbilhão de sensações me preencher por completo, enquanto uma lágrima solitária percorria até o canto da minha boca.

A visão era péssima e eu senti mais ainda em saber que outras mulheres passavam por aquilo diariamente. Saí daquele quarto assim que vesti uma roupa soltinha. Não conseguia ficar sozinha se meu único "fazer", era me olhar em frente o espelho e lamentar o acontecido.

Não havia ninguém em casa, mas por outro lado, tinha um recado na geladeira, avisando que tinha almoço, guardado na casa ao lado para mim.

Quando terminei de comer, me perguntei se uma visita à Aysha faria tão mal assim, e automaticamente a imagem do meu corpo todo manchado mudou minha perspectiva.

Havia uma mensagem no meu celular sobre algo que parecia importante. Abri o chat de Matheus e havia diversas mensagens pedindo que desse uma chance do mesmo explicar o que estava acontecendo. Respirei fundo e respondi que me encontrasse na praia no fim da tarde.

Levantei e fui até a sala, novamente olhando o meu reflexo por todo o lugar possível. Era devastador e mesmo assim eu não conseguia tirar meus olhos de todas aquelas manchas horríveis. Tomei uma nova dose de remédios e sentei no sofá, esperando mentalmente que aquele momento passasse logo.

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