Detenção

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7h30min - (Despertador)

- Por que tá tocando? Hoje é sábado... - Digo sonolenta e viro para o canto.

7h35min - (Despertador)

- Mas que inferno! - Desbloqueio o celular e vejo um lembrete: Detenção em 55 min. - Porra! - Levanto e corro em direção ao banheiro.

Passo uma prancha no cabelo pra tentar diminuir o seu volume, uma massa corrida na cara para esconder as minhas olheiras enormes, e visto uma calça jeans com uma blusa do Supernatural que ganhei de Natal.
Desço até a cozinha e preparo um café.

-Vocês me fode com a vida desse jeito. - Vejo um bolo de chocolate na bancada.

- Que?! - Minha mãe surge da sala.

- Vocês sabem que eu não posso com chocolate.
- Coloco a caneca na pia e vou para a sala calçar meu tênis. Infelizmente, os meus hormônios não vão com a minha cara. Faz uns 2 meses que parei de comer qualquer coisa que me dê aqueles mini tumores chamados de espinhas e até que tô tendo resultados.

- Por que tá acordada as 8h da manhã no sábado? Tá doente? - Paro o que estou fazendo e penso em uma resposta plausível.

- Éh... - Olho para o relógio imaginário no pulso. - Olha a hora... Preciso ir. - Pego uma caneta, coloco atrás da orelha e fecho a porta. - Só o que faltava, eu explicar os motivos pra ela de ir pra detenção. Ia levar horas pra convencê-la de que tenho razão.

Pedalo até o final da rua e espero os carros passarem. Um deles para me permitindo atravessar. Faço um sinal de joinha para o motorista e percebo que o mesmo  é o Sr. Johnson. Ele acena para mim fazendo com que minha atenção se disperse e consequentemente com que eu me desequilibre, quase caindo num valo.

- Puta merda. - Saio da bicicleta e vou até o colégio caminhando com ela ao meu lado. Chegando lá, guardo-a e vou direto para sala. Escolho uma carteira perto da janela, com esperança que o tempo voe quando eu começar a me distrair.

- Olha quem está aqui. Kit Kat, meu amor, quer se juntar ao grupo? - Evan, o qual se acha o gótico trevoso, diz ao apontar sua gangue no final da sala.

- Tô de boa. - Observo a paisagem enquanto ele tagarela. Tento ignorar até que noto um carro estacionado do lado de fora que não estava ali antes. Me obrigo a levantar. - Melissa? - Cutuco a garota da minha frente. - Sabe de quem é o carro? - Aponto para o mesmo.

- Sei lá. Deve ser do cara que vai "cuidar" para que não saíamos daqui. - Ela sopra o pó após lixar as unhas.

- Sabe quem é o cara? - Questiono.

- Bom dia. - Sou interrompida e obrigada a olhar instintivamente. E puta que pariu. É o Aaron.

- Meu cu. - Me expresso alto demais fazendo com que todos os olhos fossem direcionados à mim, inclusive o dele, que retribui a minha expressão com um sorriso que me faz corar.

- Senhorita, poderia me ajudar? - Ele olha para as coisas que carrega e depois nos meus olhos.

- Tá, claro. - Vou até ele, pego suas coisas evitando encara-lo e coloco na mesa do professor. - Posso? - Aponto para a cadeira e ele assente com a cabeça.

- Kit Kat, poderia me ajudar? - Evan imita o Aaron apontando para a sua calça.

- Por que ? Não consegue dar conta sozinho? - Debocho e me sento enquanto todos o zoam. Aaron parece não ligar muito e escreve o seu nome e a atividade que faríamos no quadro.

- É simples. Terminou, saiu. - Ele fala sentando-se e folhando a página de um livro o qual não reconheço.

- Ele deve ter uns 19 anos. Não é possível, olha que corpinho. - Uma das meninas cochicha com a Melissa ao longo que engolia o Aaron com os olhos.

- Sei não. Mas não me importaria em descobrir. - Ela respondeu.

- Nem eu. - Penso alto.

- O que ?! - Ambas se viram e perguntam surpresas.

- Ah, nada. Eu falei "deu". - Enfatizo. - Decidi que desenharei invés de escrever.

- E pode? - Respondo apontando para o quadro onde esclarecia a certa dúvida.

Começo a desenhar. O tema era "Usual". Bem, demoro uns 45 minutos até terminar. Achei boa a ideia dele. Faço qualquer coisa para sair daqui. Como trouxe só uma caneta, nem liguei para erro algum. Se ele fosse julgar falaria o que ? " Ah, esse risco ficou torto." Foda-se. Assino, tampo a caneta, a coloco no meu coque que parece um troço pendurado que fiz uns momentos atrás e sigo até a mesa do professor.

- Terminei. Até mais. - Ele me impede de virar ao segurar meu pulso.

- Leu o tema né ? - Ele arque  uma das sobrancelhas. Afirmo com a cabeça. - Então por que você desenhou uma menina se automutilando? - Ele observa a folha de papel.

- Acredite se quiser, mas ultimamente, isso vem sendo bem "usual". - Faço o sinal de aspas com os dedos. - Posso ir?

- Sim. - Ele responde com um tom de indiferença o que me faz franzir a testa.

Pedalo até em casa, almoço, e logo depois espero Emy na varanda de casa. Nós duas fizemos vários planos para passar a tarde. Quando digo vários planos, eu me refiro a nenhum. Bem provável que fiquemos em casa assistindo netflix e comendo miojo. E eu estava certa.

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