Historinha pra Dormir

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- Vou chegar tarde. - Sam fala, pegando as chaves e um casaco no cabide perfurado na parede.

- Novas. - Ele retruca ao mesmo tempo que ela fecha a porta. - Me desculpe... Por isso. - Ele coça a cabeça e vai para cozinha.

- Não tem o por quê se desculpar, na verdade eu que tenho. Eu interrompi vocês. - Digo tirando o meu casaco e colocando no mesmo cabide.

- Tá mais pra "salvou". Se não fosse pela sua "intromissão", não sei onde íamos parar. - Eu o olho, e faço uma cara insinuando que ele poderia ter a batido se eu não tivesse chegado a tempo. - Não, não! Nunca! - Ele diz entendendo a minha expressão. - Mesmo com as brigas... - As? - Ela me impediu de ser um adolescente "destruidor". - Ele enfatiza.

- Eu admito que faço parte do grupo de pessoas que ficaram surpresas pela diferença de idade de vocês. - Falo sem pensar. - Foi mal. - Que merda que eu falei?!

- De boa. - Ele sorri. Me impressiono pelo dialeto "adolescente" usado, mas lembro que ele tem só 26 anos então... - Mas sei lá, no começo eu me apeguei a ela e senti algo realmente verdadeiro sabe? - Assento com a cabeça enquanto ele fecha as mamadeiras.

- Bom, espero sentir isso um dia. Tem pessoas que morrem procurando. - Eu não tava afim de escutar a história de amor deles, não nesse momento, então pego as mamadeiras. - Eu levo. É melhor eu ver como elas estão depois do que houve. - Enfatizo o "eu", e levanto as sobrancelhas.

- Okey. - Dou as costas e subo até o andar de cima, entrando no quarto das gurias.

- Pandinhas? - Apelidei elas assim pelo fato de agirem igualzinho a um panda.

- Panda! - Elas se entusiasmam. É, e esse é o meu apelido.

- Mamãe e papai pararam de brigar? - Wylda, a mais velha pergunta.

- Você trouxe mama? - Romy, a mais nova questiona.

- Sim e sim. Vocês devem estar com saudades das minhas histórias. - Mudo de assunto e entrego as mamadeiras em suas camas, me  sentando em um puff entre as mesmas.

- Sim! Conta a da sereia! - Romy pedi.

Quando abro a boca para começar a contar:
- Papai! - A outra grita me fazendo olhar para trás.

- Meus amores. A Katherine vai contar uma história? - Ele tava escutando ou elas comentaram sobre os meus contos anteriores?

- Sim, deita aqui comigo pra você escutar. - Wylda o chama. Que inveja. Pera, que?

- Ah não, e eu como fico? Panda, deita comigo pra eu não ficar sozinha. - A pandinha mais nova me chama e é claro que eu vou. Tava um frio do caralho.

Mal começo a contar a história e elas já parecem sonolentas. Ao longo que eu falo, tento ao máximo evitar olhar pra outra cama, porque eu sei que eu gaguejaria se o Aaron já tivesse me olhando. Quando eu termino, as duas já estão num sono pesado, e eu e ele saímos do quarto com o maior cuidado possível para não as acordar.

- Eu vou lavar as mamadeiras. - Cochicho.

- Não, pode deixar. - Ele pega elas e desce depois de fechar a porta do quarto. Eu tiro o celular do bolso e vou até a cozinha digitando. - Esses jovens de hoje em dia, estão viciados.

- Quem fala né vovô, me de a fórmula da fonte da juventude. - Sorrio e me encosto na bancada aonde ele colocava as mamadeiras.

- Tem certeza que é isso que você quer? - Ele fala se aproximando de mim, e puta merda, que porra tá acontecendo?

- E-estamos falando da me-mesma coisa? - Gaguejo e tento olhar para os dois olhos verdes que parecem azuis, que cada vez chegam mais perto.

- Eu tô falando da fonte da juventude e tentando tirar a toalha aqui, mas tá difícil. - Ele diz enquanto puxa a mesma que eu tava encostada. #iludida.

- Ata, eu também tô falando disso ué. - Digo tentando tirar o meu da reta. É o certo né galerinha do mal?! - Deixa que eu seco. - Começo a rir e a secar as mamadeiras.

- Tá rindo do que Sra. Rebelde?

"Das minhas ilusões amorosas" penso. - Nada não. - Respondo.

- Escuta, como você não pode dormir aqui aquele dia, tem o feriado essa semana, e a Sam vai precisar trabalhar . Dai, eu podia falar com seus pais dessa vez pra você não esquecer de novo. - Mano, impressão minha ou ele tá se empenhando muito pra eu passar a noite aqui? Seria ótimo mesmo. Já não basta o que aconteceu aqui minutos atrás, preciso de mais oportunidades pra me iludir. Não tem aquele ditado? Quanto mais alto, maior o tombo?

- Capaz mesmo. Eu falo com eles.

- Então você quer dormir aqui? - Ele pergunta e eu arregalo os olhos.

- Não vai ter escola mesmo então tanto faz. - Tentei mostrar indiferença. - Bom acho melhor eu já ir indo, mandei uma mensagem agora pouco para o meu pai, ele deve tá vindo. - Falo indo em direção à porta e vestindo o meu casaco.

- Okey. Até amanhã. - Ele estende a mão.

- Se lembra do que te ensinei né ? - O encaro.

- Mas é claro. - Ele sorri e fazemos o nosso aperto de mão personalizado.

- Tchau, se cuida. - Katherine fecha essa boca, pelo amor de Deus, pensa antes de falar, ele tem a Sam pra cuidar dele, ele não precisa se cuidar. Ele acena e fecha a porta. Meu pai está aqui na frente da casa de carro.  Eu percebo que a "patroa" tá estacionando, então tento evitá-la. Não tô querendo receber um gelo. De novo.

O caminho inteiro de volta eu fico pensando na vergonha que foi na cozinha. É bobagem, mas, por um momento eu achei que ele fosse, sei lá, me beijar talvez? Como que eu ia adivinhar que eu tava encima da toalha?  Mas mano, admito que, naquele momento, meu coração quase saltou pela boca. Porque, uma coisa é você imaginar, e outra é acontecer.

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