Uma velha e boa lembrança.

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Aquela noite foi muito especial. Nossa intimidade tinha chegado a um outro nível. Eu finalmente tinha encontrado alguém que me fazia sentir bem.
Seu nome?! Letícia.

Amanheceu.

Acordamos juntas e tudo parecia estar bem. Tomamos banho, nos arrumamos e fomos para o campus. Antes de entrar passamos no Kaffee Hill e pedimos o de sempre. O bom e velho chocolate quente com pedacinhos de marshmallows e os cupcakes de frutas vermelhas. Bem como no primeiro dia nossas mãos não se soltaram só que dessa vez, nossos olhares diziam muito mais do que antes.

Os dias se passaram e estávamos mais próximas que nunca. Nossa relação era pacífica e muito gratificante. Estava indo tudo tão bem até que uma  visita surpresa estava prestes a mudar tudo aquilo.

Estávamos saindo do campus de mãos dadas e brincando uma com a outra como sempre. Eu tinha mania de roubar beijos de Letícia enquanto ela tentava se esquivar. De repente percebo que Letícia tinha ficado estática e me empurrado com uma relativa força. Não entendendo nada pergunto a Letícia o que tinha acontecido.

- Mãe?! Pai?!

Diz Letícia com ar de surpresa e olhar arregalado.

Olhando de longe fico observando Letícia ir até seus pais. Eles pareciam visivelmente irritados, ela tentava se explicar mas eles pareciam irredutíveis. Ouvi quando seu pai disse:

- Não foi para isso que eu te mandei para cá. É o cúmulo Letícia. Isso é muita falta de respeito conosco.

A essa altura Letícia estava em prantos e sem sucesso tentava se justificar. Eu queria fazer algo mas não podia, seus pais me olhavam com total ar de reprovação. Pegaram-na pelo braço (ela me olhava fixamente) e a puseram no carro. Pude ler seus lábios naquele instante.

- Te amo!

Foram suas últimas palavras para mim.

Já era noite. Pensei em ligar mas achava que seria uma péssima ideia. Estava agoniada, não sabia se ela estava bem. Mandei mensagem para o seu celular mas ela não me respondia.

No dia seguinte torci para que pudesse vê-la no campus, mas não tive sucesso. Foi assim todos os dias daquela semana. Eu havia perguntado por ela a uns conhecidos mas ninguém sabia onde ela estava.

Eu já não sabia mais o que fazer. Estava em casa, dentro do meu pequeno estúdio de revelação quando ouvi a campainha tocar. Era um entregador com um telegrama para mim. Assinei a correspondência e entrei. No verso da carta reconheci a letra, era de Letícia. Rapidamente abri o envelope e comecei a ler...

Querida Marina,

Estou escrevendo essa carta sem que os meus pais saibam. Eles me proibiram de falar com você.
Eu não sei como dizer isso, mas, voltei pro Brasil. Meus pais me obrigaram. Eles ficaram muito bravos comigo quando me viram com você. Eu até tentei explicar, mas eles não me ouviram. Sequer tive tempo de me despedir de você. Nossa, como sinto sua falta.
Eu não queria que as coisa terminassem assim. Infelizmente aconteceu.
Espero que jamais se esqueça de mim, pois eu jamais me esquecerei de você. Obrigada por cada dia que passei ao seu lado, nunca me senti tão bem em todo minha vida. Temo que não nos veremos mais por isso deixo aqui meus sinceros sentimentos e desejo a você toda a sorte do mundo.
Se cuida e fica bem. E lembre-se:
Nós sempre teremos o Kaffee Hill.

Com amor, Letícia.

A carta acabou comigo.
Aquela foi a última vez que tive notícias dela. Depois disso nunca mais a vi ou sequer ouvi falar da "minha modelo".

Acabei o curso em Berlim e voltei para o Brasil. Precisava tocar a minha vida e fazer a minha carreira. Os anos se passaram e todos os afazeres do dia-a-dia fizeram com que Letícia virasse apenas uma lembrança.
Uma velha e boa lembrança.







LaurinaOnde histórias criam vida. Descubra agora