A teoria da friendzone

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— Queria ser um Jedi — reclamei estreitando os meus olhos e franzindo o cenho concentrada em um ponto distante de onde Evie, Nat e eu estávamos. — Deixaria o trabalho tão mais fácil se eu pudesse levitar aquela xícara até aqui e não ter de andar até ela — apontei meu dedo para a xícara que estava a duas mesas de distância da gente, e me concentrei novamente.

O Roger's estava tediosamente vazio naquele dia, o que resumia o nosso trabalho a ficar sentadas no segundo andar e nos revezar ao recolher as louças que eram deixadas pelos clientes. Nat e Evie digitavam em seus celulares; eu lamentava pelo meu estar descarregado. Periodicamente, Evie soltava um gritinho emocionado ao jogar Pokémon GO e capturar alguma criatura que não tinha, enquanto eu revirava os olhos, já que tinha cansado de dizer que ela poderia pegar repetida também para aumentar o CP dos que já tinha.

Quando Nat nos alertou que estava na hora de irmos, retiramos os aventais e os guardamos com o máximo de preguiça possível. Nat chegou a me oferecer que pegássemos um ônibus apenas para não ter de dirigir e eu aceitei. Porém, ela não percebeu que aquilo era o meu golpe para esquecer do meu compromisso daquela noite, por mais que não tivesse funcionado.

— O que você está fazendo? — questionou quando me viu esparramada no sofá. — Nem pense nisso — alertou-me com os olhos brilhantes como de uma águia — Adam estará aqui daqui a pouco. Preciso te arrumar.

Para mim, promessa era dívida. Por isso, quando uma nova semana passou e um novo sábado seu primeiro sinal de vida, eu tive que driblar todas as forças que me prendiam aos seriados e filmes para me arrumar e sair com Adam. Nat não continha sua animação, finalmente poderia me usar de boneca. No entanto, por mais que tentasse me prender aos elogios dela ao meu cabelo e a repreensão por deixá-los presos, tudo o que vinha na minha cabeça, eram as palavras que ela tinha me dito na semana passada.

Era uma loira.

Cole era um conquistador nato. Seu corpo era como um alerta para todas e um acendedor de hormônios femininos. Não o vi essa semana, graças as minhas mudanças de horários e as vezes que literalmente corri até o carro quando os cachorros da senhora Hill alertavam da minha presença. Apenas não sabia quanto tempo poderia ficar calada sem perguntar quantas mulheres estavam nessa lista de espera para estar ao seu lado.

Muitas vezes o escutava chegando, quando o sol já tinha nascido, enquanto eu preparava o café antes de ir para a faculdade. Na primeira vez, ignorei os cachorros. Mas depois acabei engolindo meu orgulho e indo até o olho mágico, influenciada pela curiosidade de saber se ele tinha alguém o acompanhando. Felizmente, ninguém além dele entrava naquele apartamento.

— O que você e Rick vão fazer hoje? — perguntei curiosa querendo que meus pensamentos se focassem em outra coisa. Pelo reflexo, pude ver Nat dando um sorriso sacana enquanto seus dedos habilidosos se moviam por meus cabelos. — Quer saber? Esquece o que acabei de perguntar.

Nat riu e soltou os meus cabelos, saindo da minha frente para que eu pudesse ter uma visão total do meu estado atual. Meus cabelos – que diariamente eram lisos e sem graça – estavam ondulados e jogados de lado, destacando o formato do meu rosto e meus olhos castanhos. Ela não havia exagerado na maquiagem, argumentando que apreciava minha beleza natural, fazendo meu rosto receber apenas um delineador – deixando-me com os famosos olhos de gato – blush e um batom claro. Levantei-me olhando o vestido tubinho preto e sorri.

— O que você vai fazer? — Nat indagou desconfiada ao me ver indo ao armário. O som das botas de cano curto o qual eu calçava ecoaram pelo quarto enquanto eu puxava uma blusa quadriculada e a vestia por cima. Abri os braços, mostrando meu toque pessoal para a minha prima e a vendo franzindo o cenho com a minha escolha. Por fim, deu de ombros. — Ok, dessa vez vou dar o braço a torcer e dizer que ficou bom.

Senhor LuxúriaOnde histórias criam vida. Descubra agora