O soar da Marcha Imperial

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Não pude fugir de minha mãe por muito tempo, pelo menos não do jeito que gostaria. Estava aproveitando minha folga de quarta-feira para poder arrumar a casa e ocupar os meus pensamentos. Quando a voz do Bruno Mars foi subitamente substituída pela marcha imperial do Darth Vader. Fiz uma careta ao ver o nome de minha mãe brilhando na tela de meu celular e cogitei ignorar, no entanto sabia que estaria apenas evitando o inevitável. Tirei as luvas de borrachas e atendi antes que a marcha chegasse ao auge.

— Oi, mãe — atendi com falsa alegria. Arrastei os meus pés até o sofá e me joguei lá. Nat chegaria em breve do trabalho e felizmente eu já tinha adiantado mais da metade da faxina, porque tinha um pequeno pressentimento de que aquela conversa não seria curta. — Tudo bem?

— Estamos nos mudando, Berthany — ela anunciou.

Talvez dessa vez a conversa fosse curta.

— O que? — berrei dando um salto do sofá e mostrando uma emoção verdadeira. Mesmo por telefone, poderia imaginar a expressão apática de minha mãe e apostava que se fosse por ela, teria apenas se mudado e deixado para avisar quando o caminhão de mudança tivesse acabado com o serviço. — Como assim?

Faith suspirou do outro lado da linha.

— Minha filial se mudou para a San Diego e não faria sentido eu continuar morando em Sitka, tendo de pegar um avião todo o fim de semana.

— Você está vindo para Califórnia? — questionei em um tom mais alto do que o normal. Era uma bomba atrás da outra e sem nenhuma dica que poderia acabar por ali. — E a nossa casa? E o papai e a oficina dele?

Minha mãe bufou.

— Gerry e eu conversamos — explicou como se falasse com uma criança, o que me frustrou mais do que a ideia de ela estar a poucos quilômetros de distância de mim. — Ele chegou a conclusão de que seria mais fácil levar a mecânica consigo para outro estado que terá mais lucro do que continuar aqui.

Ou seja, meu pai tinha cedido a pressão que minha mãe impôs. Uma das coisas que sempre gostei de deixar clara quando morava com os meus pais era que eles poderiam tomar as decisões que quisessem sem se preocupar com a minha opinião. Eu sabia que Faith era uma mulher difícil de lidar e meu pai tinha destreza para driblá-la em certos momentos como, por exemplo, em mantê-la morando longe da cidade das oportunidades. Meu pai era um homem ligado às raízes e eu sabia que a saída do Alasca para a movimentada Califórnia era difícil para ele.

Assim como eu sabia que foi um tiro no orgulho de minha mãe que eu tivesse me mudado para a cidade que ela sempre quis. Pensei que esse tipo de diversidade de ideias poderia acarretar no divórcio dos dois, mas era sempre surpreendida. Em nossa família – tanto do lado materno quanto do paterno –, o histórico de divórcio era quase nulo, excluindo o caso de duas primas de terceiro grau. Era óbvio que meus pais zelavam por isso e eu era orgulhosa disso, mas também tinha medo do momento que o diálogo não funcionasse por conta dos caprichos de minha mãe.

Felizmente, não foi dessa vez.

— O que eu queria dizer era se você gostaria que eu levasse alguma coisa para você quando resolvêssemos a mudança — ela ofereceu.

— Não precisa — respondi, suscita. E realmente não precisava, já que quando me mudei com Nat trouxe tudo o que precisaria e deixei tudo o que poderia me prender. Era para ser outro indicativo de minha independência e que eles não precisariam tomar decisões baseadas em como eu reagiria. — Mãe, preciso terminar de arrumar algumas coisas e... Preciso desligar.

— Tudo bem. Até daqui a duas semanas. — ela informou, desligando em seguida.

Duas semanas e uma bomba se explodiria no meu rosto. Percebi que tinha uma mensagem empolgada de meu pai indagando se minha mãe já havia me dado as notícia. Claro que ele estava feliz. Em breve ficaria perto de sua filha novamente, mas em troca de quê? Largar toda a sua família e a cidade onde tinha crescido para acatar as vontades de minha mãe. Realmente era uma coisa que eu não conseguia engolir.

Senhor LuxúriaOnde histórias criam vida. Descubra agora