— Está tudo bem?
Dei um salto virando-me na direção de Cole. Ele estava parado na porta com uma expressão confusa olhando desde o meu rosto até a gaveta. Em nenhum momento a sua expressão deixou transparecer que ele tinha sido descoberto ou algo do tipo, mas se fosse algum filme de terror, eu estaria cometendo um erro ao dar o benefício da dúvida para o assassino.
Por um segundo pensei se ele era tão sociopata ao ponto de me manipular com as suas lágrimas por Marjorie, talvez querendo se livrar do seu destino na cadeia. Eu sabia que ele tinha um álibi, Marjorie ainda estava viva e ligando para seu celular enquanto estávamos fazendo sexo e era impossível que Cole tivesse em dois lugares ao mesmo tempo. No entanto, conseguia escutar o batimento do meu coração como se ele estivesse ao lado do meu ouvido tamanho o meu nervosismo.
— O que está acontecendo, Berthany? — indagou confuso vindo na minha direção. Dei um passo para o lado permitindo que ele visse a arma e observando a sua reação. Seus olhos se arregalaram e ele me encarou como tivesse levado um tiro. — O que é isso? — apontou para a arma.
— Acabei de encontrar — murmurei. Quando o vi ameaçando de pegar, dei um tapa em sua mão com força. — Não faça isso! Vai colocar as suas digitais nela!
Ele respirou fundo e passou as mãos por seus cabelos. Todo aquele autocontrole que tanto admirei em Cole parecia estar se despedaçando a cada dia. Encarei a arma novamente ainda em minha guerra interna em acreditar na sua descrença ou correr até o telefone e ligar para a polícia. Não demorou muito para que ele percebesse que tinha um elefante na sala, não literalmente, claro.
— Você não está achando que isso é meu, não é? — perguntou como se estivesse ofendido. Desviei o olhar e deixei que meu silêncio respondesse. Cole balançou a cabeça se afastando de mim e jogando as mãos para o ar em uma tentativa de extravasar. Parou do outro lado do quarto e apontou um dedo para mim. — Eu esperava isso de qualquer um, Berthany, menos de você. Acha mesmo que sou capaz de matar alguém? — bateu com a mão no peito com força para enfatizar suas palavras. — Posso ter feito muitas coisas erradas nessa vida e me arrependo da maioria, mas assassinato não é uma delas.
— Esse é o problema, Cole! — respondi aproximando-me dele. Ele ficou desconcertado com a minha aproximação repentina e me aproveitei para ficar na ponta dos pés para que os nossos rostos ficassem a centímetros de distância. Uma parte de mim fervia de raiva com tudo o que estava acontecendo e vi naquele momento uma brecha para desabafar. — Eu não te conheço. Não tem como ter fé em algo que não se conhece nem o básico. Sei de sua profissão – ou antiga profissão, o que seja –, que não expõe seus sentimentos a não ser que esteja sob pressão e que tem uma ficha criminal. E deixa eu te falar uma coisa: nenhumas dessas coisas são positivas. Agora me diz como posso confiar em alguém que nem sei a idade, nem o nome dos pais, nem o nome do meio.
— Tenho vinte e seis anos, o nome da minha mãe é Valerie e do meu padrasto é Keith, e o meu nome do meio é Vincent. — respondeu de prontidão. — Está vendo? São coisas que você poderia ter descoberto se tivesse perguntado. Berthany, foi você que apareceu aqui, transou comigo e não ligou para a minha vida pessoal. Não pode esperar que eu fale sobre assuntos do passado no café da manhã, preciso me sentir seguro, assim como você não está segura que aquela arma não é minha.
Permanecemos daquele jeito por mais alguns segundos absorvendo as palavras que o outro desabafou. Nossas respirações estavam profundas e o suor escorria por minhas costas até alcançar a barra de minha calça. Meus pés cansaram e eu me afastei dele tentando colocar os meus pensamentos em ordem. Prioridades. Tinha que tratar de coisas mais importantes que do nosso relacionamento conturbado. Passei por Cole em direção à cozinha e procurei por quatro sacolas plásticas que pudesse usar, verificando se todas não tinham vestígios de cabelo ou qualquer coisa que pudesse levar até aquele apartamento.
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Senhor Luxúria
RomanceCom a vida resumida em ver séries, usar roupas visualmente masculinas e escutar as teorias bizarras de sua prima, Berthany não tinha ideia de que um caminhão de mudanças parado na frente do seu prédio faria sua vida dar uma volta de cento e oitenta...