Um pedido de ajuda desesperado

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Demorou um pouco para que o mundo entrasse em foco novamente. Eu estava sentada no meu sofá, com as costas curvadas e as mãos descansando em minhas coxas. O olhar fixo na televisão, como se eu fosse encontrar as respostas dos meus problemas na escuridão do aparelho desligado. Nat permanecia sentada ao meu lado esperando as respostas necessárias que, infelizmente para ela, demoraria mais do que poucos minutos para chegar.

Passei meus trêmulos dedos por meus cabelos, confusa por estar envolvida por tantos sentimentos ao mesmo tempo e meu corpo refletia todas essas emoções. O estômago revirado, coração acelerado e o latejar em minha cabeça eram as provas físicas de que eu estava vivendo meu pior pesadelo. Respirei fundo, ajeitando meus óculos em meu rosto e tentando ver uma solução lógica para aquela situação. Odiei Cole por um curto segundo. Desde a sua chegada, ver o mundo com lógica tinha se tornado um forte desafio.

— Por que nosso vizinho foi preso? — Nat perguntou.

Pela primeira vez desde que voltei ao meu apartamento, permiti-me encarar seu rosto confuso. Um vestígio de raiva brilhava no fundo de seus olhos, mas ela preferiu engolir por um momento colocando questões mais importantes no topo de sua lista de curiosidades. Demorou para que eu conseguisse escolher bem as palavras e mais tempo para pronunciá-las, pois quando as murmurei tudo se tornou ainda mais real.

— Ele está sendo acusado de assassinato.

Nat arfou pondo as mãos na boca e seus olhos se arregalaram de surpresa. Eu assenti, como se concordasse que ela tivesse aquela reação. Era a reação de qualquer pessoa normal. Fiquei quieta novamente, dando tempo para que meus sentimentos continuassem se despendendo de meu cérebro e uma saída começou a brilhar no fundo daquele túnel escuro.

— E ele matou? — minha prima perguntou.

Estreitei os meus olhos raivosos.

— Você acha mesmo que eu estaria transando com um assassino? — retruquei. Isso a fez ficar quieta, talvez em choque com a minha fúria. — Ele tem um álibi. — mexi a mão como se aquele fato fosse desinteressante, por mais que fosse essencial. Bati as mãos em minha coxa, forçando meu corpo a se mexer além do mar de lamentações e levantei. — Preciso das chaves.

Nat também se levantou como se quisesse demonstrar que nossa conversa estava longe de acabar. Sentia por minha prima, mas ela teria que engolir as suas vontades até que meu problema estivesse resolvido.

— Precisamos conversar! — exclamou pondo as mãos na cintura.

— É, estou ciente disso, mas vou morar com você por mais dois anos, no mínimo. Acho que temos bastante tempo. — estiquei minha mão na sua direção, pressionando-a a me obedecer. — Natalie, preciso mesmo das chaves.

Entramos em uma batalha silenciosa. Seus grandes olhos estavam estreitos, fazendo com que seu cenho ficasse franzido e a deixasse com uma expressão engraçada, como de um urso de pelúcia tentando ser mal. Não cedi a pressão e estiquei minha mão para mais perto de seu corpo, arqueando uma sobrancelha.

— As chaves estão com você — ela grunhiu.

Quase dei um tapa em minha cabeça ao recordar disso. Nem tinha visto Nat direito naquele dia e fui direto para a casa de Cole depois de saber a notícia. Se meus pais ficaram confusos com a minha despedida repentina, imaginava como reagiriam ao meu reaparecimento. Catei minha bolsa, pondo-a em meu braço e segui para a porta, repetindo meu plano diversas vezes. Todas as vezes vinham seguidas de uma careta.

— Vamos conversar quando você voltar?

Encarei minha prima.

— Saber com quem eu transo é tão importante para você?

Senhor LuxúriaOnde histórias criam vida. Descubra agora