Um ciclo infinito de desgraças

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Bati em sua porta com urgência, sem me importa com a intensidade com que os cachorros da senhora Hill latiam. Tinha praticamente corrido do almoço com os meus pais, sem conseguir me concentrar em mais nada que não fosse aquela reportagem. Levantei o punho preparando-me para bater mais uma vez, quando ele abriu a porta coçando um dos olhos com o dorso da mão. O mundo prestes a desmoronar e ele estava dormindo?

— Bee, está tudo bem? — questionou vendo o alarme em meus olhos.

Pus uma mão em seu peito exposto empurrando-o para dentro de seu apartamento e fechando a porta com o pé. Queria ter o máximo de privacidade possível e evitar que um dos vizinhos visse Cole tampando suas partes íntimas com um pano de prato – novamente. Ergui meu celular, dando play no vídeo da reportagem que tinha assistido na casa do meu pai e esperei que ele visse tudo. Quando o nome e a foto de Francesca apareceram, seus olhos quase saltaram das órbitas e o pano de prato foi para o chão. Dessa vez sua nudez não mexeu comigo.

— O que é isso? — perguntei sacudindo o celular.

Tinha um desespero latente em seus olhos quando me encarou percebendo a pergunta oculta por minha raiva. Segurou meu pulso suavemente em um pedido silencioso para que abaixasse o celular, mas eu recuei ainda com a cabeça quente. Parecia que uma bomba tinha explodido no meu rosto. O problema era que eu tinha visto a contagem regressiva e não fiz nada.

— Eu não a matei. — ele afirmou dando um passo na minha direção.

— Então você não a viu no sábado? — continuei recuando.

Ele hesitou desviando os olhos dos meus.

— Que merda, Cole! — praguejei vendo-o indefeso pela primeira vez. — Eles vão colher as suas digitais naquele prédio e vão vir atrás de você. Se não te prenderem por assassinato, vão prender por prostituição. Porque, se você não se lembra, prostituição é a porra de um crime! — berrei respirando com força.

— Não fui eu, Berthany — ele sussurrou levantando os olhos para mim, impactando-me com a intensidade de seu olhar. — Não passei a noite com Francesca. Fui embora antes das cinco horas e vim para casa dormir.

— Isso não é um álibi.

— Mas Bill é — ele rebateu ficando confiante novamente e se aproximando. Eu já estava encostada na porta, sem forças para me mover. Passei os braços ao redor do meu corpo subitamente sentindo frio. A ideia de Cole ser preso me amedrontava e a dele ser culpado me deixava paralisada. — Bill estava na portaria quando eu cheguei. Ele pode provar que sou inocente.

Balancei a cabeça.

— Mas eles vão descobrir que você é prostituto.

— Só porque eu saio com muitas mulheres? Ser um conquistador não é crime, Berthany. — parou na minha frente, segurando o meu queixo com a ponta dos dedos e fazendo-me olhar no fundo dos seus olhos. Engoli em seco conforme meu coração traidor começava sua corrida com o objetivo de quebrar meus ossos e fugir. — Só preciso saber que acredita em mim.

Passei a língua por meus lábios sem saber o que dizer. Anos convivendo com uma advogada te deixam com a guarda levantada, mas eu cometi o erro de me envolver com um cara que além de já ter ficha criminal, poderia se tornar o principal suspeito em uma investigação de assassinato. Desviei os olhos de seu rosto, querendo retomar o controle de meu corpo.

— Você precisa de um advogado. — eu disse.

Cole ficou em choque com as minhas palavras e a frieza que as pronunciei. Soltou-me e deu um passo para trás mantendo os olhos em mim, como se não me reconhecesse. Por fim ele suspirou assentindo. Tinha mais uma coisa que eu deveria dizer. Algo que não conseguia proferir.

Senhor LuxúriaOnde histórias criam vida. Descubra agora