Fidelidade aos Mortos

516 57 14
                                    

Eu queria ter ido no domingo mesmo à casa dos meus pais, – tinha certeza que eles nos receberiam de braços abertos – mas Cole preferiu que fôssemos no dia seguinte. Depois da aula nos encontraríamos em San Diego e de lá eu iria para o meu primeiro dia no estágio. O estado solidário de Nat tinha terminado e ela exigiu as chaves de Madonna de volta, o que significou que tive que pegar um ônibus para a casa dos meus pais. Não que eu fosse contra o transporte público, só queria que a casa dos meus pais fosse mais próxima do ponto.

Por sorte, Cole também estava parado no ponto me esperando. Enquanto descia do ônibus tive um minuto para me agraciar de sua beleza. Fui tola ao pensar que com a convivência ficaria imune a qualquer charme que ele exalasse, porque enquanto descia os degraus do ônibus e o via relaxado com as mãos nos bolsos de sua calça jeans, sentia meu coração começando uma corrida contra os meus pés para que chegasse primeiro a ele. Seu sorriso acabou com a minha armadura e meu ego inflou ao recordar de sua declaração de ciúmes na noite passada.

— Você está bonita — elogiou passando os braços ao redor de minha cintura. O castanho estava ganhando o verde no domínio de suas íris. — Diferente, mas bonita.

Como reflexo de suas palavras passei uma das mãos por meu rabo de cavalo improvisado. Nat tinha me arrumado como uma verdadeira profissional, o que incluía uma saia lápis preta e camisa de botões branca. Nada que remetesse a séries ou filmes. Segundo minha prima, tinha que ser menos eu e mais o que a empresa estava procurando. Ela tinha deixado meu cabelo solto e bem bonito, mas me irritou no caminho com o vento fazendo com que os fios se chocassem contra o meu rosto, por isso retornei ao meu usual rabo de cavalo.

— Você está elogiando Natalie, já que essas roupas não são minhas. — respondi.

Ele fez um biquinho charmoso.

— Você poderia aceitar elogios de vez em quando.

Suspirei.

— Eu aceito esse — levantei minhas mãos em redenção. — Podemos ir? Estou tremendo de curiosidade.

Além de ter pouco tempo para ficar ali antes de ter que ir para o outro lado da cidade para o meu estágio. Aproveitando o privilégio que tinha ganhado, Cole entrelaçou nossas mãos puxando-me na direção da casa dos meus pais. Eu não recuei, já estava começando a me acostumar.

Felizmente a casa dos meus pais não era tão longe do ponto quanto tinha calculado mentalmente e em menos de dez minutos estávamos diante da porta deles. Estranhei que estivesse entreaberta, porém encarei como um convite para que entrássemos. O aperto de Cole se tornou mais firme, acompanhando a tensão que invadiu seu corpo. Com tudo o que estava acontecendo, era normal desconfiar de qualquer coisa que estivesse fora do lugar.

Empurrei a porta, entrando cautelosa ao ver que tudo estava escuro a não ser pela luz da televisão. Cole vinha logo atrás, mantendo-se o mais perto caso realmente estivesse acontecendo algo. Esforcei-me para não suar, por mais que fosse algo incontrolável e segui na direção que vinha a luz. Escutei alguns barulhos estranhos que me fizeram desacelerar os passos e andar na ponta dos pés. O sofá estava quase no meu campo de visão quando finalmente reconheci o barulho.

Meus olhos arderam e Cole soltou uma risada.

— Meu Deus! — exclamei.

Gerry estava inclinado no pescoço de Faith enquanto ela ria, mas não afastava seus carinhos. Com a minha exclamação surpresa, ambos me encararam sobressaltados. Cocei os olhos e Cole se posicionou ao meu lado ainda rindo. Meu pai sorriu em resposta, como se não tivesse nada errado, mas a expressão relaxada de minha mãe mudou bruscamente. Era como se tivéssemos visto algo que a fizesse vulnerável e ela quisesse aparentar profissionalismo, ainda mais na frente de seu cliente.

Senhor LuxúriaOnde histórias criam vida. Descubra agora