Guerra Fria

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— Estou fodida — murmurei parada na porta do meu apartamento. Peguei a chave em minha bolsa e abri a bolsa, vendo minha mãe e meu pai se virando no sofá para me encarar. — Vocês chegaram! — disse com fingindo ao máximo minha empolgação.

Minha mãe encarou as roupas que eu usava com desprezo enquanto meu pai se levantava para vir me abraçar. Cole tinha deixado que eu me ajeitasse em seu apartamento, o que incluía tomar um banho e comer um pouco de pasta de dente, prendendo o cabelo em um coque frouxo enquanto ele tirava o excesso da minha maquiagem. Por mais que não tivesse dito com todas as palavras o que tinha acontecido, ele parecia ter entendido a urgência.

— Vai trabalhar hoje? — perguntei quando me dirigia a sua porta preparando-me para enfrentar o inferno.

— Sim — Cole respondeu e eu assenti, desviando os olhos dele. — Podemos nos ver no domingo. — ofereceu.

Dei de ombros já com a mão a maçaneta.

— Vou ver e te falo. — murmurei e saí.

Sabia que tinha sido um tanto dura com ele, mas tinha tantas coisas na minha cabeça e não queria ter que lidar com aquela. Meu pai não parecia ter envelhecido nenhum ano sequer desde que saí de casa. Seus cabelos escuros se mesclavam com fios grisalhos, o que deixava sua expressão ainda mais carismática. Ele sorriu com tanta intensidade que os cantos de seus olhos castanhos se enrugaram debaixo de seus óculos.

— Little Bee, que saudade! — abraçou-me e eu retribuí saudosa. Gerry me segurou pelos ombros, me olhando de cima a baixo, ignorando o estado de minhas roupas. — Você está linda, querida. — suspirou dando um passo para trás para o caso de minha mãe também querer me cumprimentar.

Faith teve uma interpretação semelhante, pois se levantou vindo na minha direção. A cada passo que ela dava, mais apreensiva eu ficava. Eu estava com as roupas da noite anterior fedendo a bebida barata e suor. Pelo franzido em seu nariz, não tinha dúvidas que ela tinha reparado. Deu-me um abraço rápido coçando a ponta do nariz com o dorso da mão ao se afastar e lamentei mais uma vez por meu momento sonâmbulo matutino.

— O que estão fazendo aqui? — perguntei suave.

Meu pai coçou a nuca, constrangido, e não precisei de muito para saber que a ideia não tinha vindo dele. O rosto corado de Faith ajudou. Ela ajeitou uma mecha de seu cabelo castanho avermelhado atrás da orelha, centrando seus olhos escuros em meu rosto.

— Terminamos a mudança ontem e trouxemos algumas coisas suas — ela disse sucinta, como se estivesse falando com um dos seus clientes. — Você pode almoçar conosco no domingo e buscá-las.

— Tenho um compromisso no domingo.

— Desmarque — ela ordenou sem pestanejar. — Somos seus pais. O que quer que seja não pode ser mais importante do que almoçar conosco.

Abri a boca para reclamar que tinha deixado claro que não queria nenhum dos meus objetos que permaneciam no Alasca. Faith fixou seus olhos em mim, esperando a retruca que nunca veio. Suspirei derrotada. Tinha julgado tanto meu pai e esqueci-me que anos atrás também fui escrava das vontades de minha mãe.

— Tudo bem. — respondi.

Gerry colocou um braço ao redor da cintura de minha mãe e tocou em meu braço, como se quisesse passar boas vibrações e garantir a paz entre nós duas. Coisa que não aconteceria antes que um meteoro atingisse a terra.

— É melhor nós irmos, Faith — ele disse ganhando o assentir dela em resposta. — Acho que não chegamos no melhor momento. De qualquer maneira, estaremos ansiosos para te ver amanhã. — ele se aproximou e beijou o topo de minha cabeça. — Deixei o endereço com Natalie. — virou-se para minha prima. — O convite se estende a você, Nat. — sorriu.

Senhor LuxúriaOnde histórias criam vida. Descubra agora