O "X" marca o tesouro

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No caminho para o trabalho, eu repetia a história de Cole na minha cabeça diversas vezes, querendo que nela existisse uma pista do que estava acontecendo ou de quem poderia estar fazendo isso com ele. Coloquei meus fones de ouvidos, encostando a cabeça no vidro do ônibus e sentindo meu corpo sacolejar pelo balançar no veículo. Não tinha conseguido me concentrar na aula direito e as provas finais estavam se aproximando. Com o meu desvio de profissão para detetive, tinha esquecido completamente das minhas outras responsabilidades.

Nat, Rick e Adam estavam no meu apartamento fazendo companhia para Cole antes de ir para a oficina do meu pai. Garanti que ele não precisava ter pressa para voltar ao seu posto, mas ele não queria abusar da sorte que estava tendo e nem que meu pai pensasse que ele estava se aproveitando do fato de ele estar comigo.

— Meu pai nunca pensaria isso. — defendi fechando os botões de minha camisa social. Parei na frente do espelho me analisando e recordei da crítica da minha mãe quanto ao exagero da outra roupa. Desabotoei optando por uma camisa quadriculada azul e preta. — Está bom? — virei-me para ele.

Cole pressionou os lábios, observando-me de cima a baixo como um jurado bem rígido. Girou o dedo para que eu desse uma voltinha e assim o fiz. Quando percebi estava sorrindo. Ele ergueu o polegar correspondendo ao meu sorriso.

— Está maravilhoso. — garantiu. Passou as mãos por seus cabelos escuros, mantendo ambas as mãos na nuca ainda me olhando. — De qualquer maneira, vou trabalhar. Seu pai teve uma conversa comigo sobre as minhas intenções com você e eu realmente não quero que esse assunto venha à tona de novo.

Parei de escovar o meu cabelo e o encarei.

— Que conversa?

Cole jogou a cabeça para trás em uma gargalhada e se levantou empurrando os lençóis para longe de seu corpo. Cruzei os braços, esperando uma explicação sobre isso. Enquanto as inúmeras possibilidades de assuntos passavam por minha cabeça, sentia meu rosto se esquentando. Cole parou na minha frente, segurando-me pelos ombros e aproximou seu rosto do meu.

— Ele não disse explicitamente, não se preocupe, Little Bee. — aproveitou que estava segurando os meus ombros e me virou, pegando a escova de mim. Começou a passá-la por meu cabelo. — Mas ele deixou bem claro que se eu te machucasse, o emprego era a coisa que eu menos deveria me preocupar em perder.

Engoli em seco.

— Desculpe por isso. — olhei-o através do reflexo, vendo seus olhos claro fixos nos meus cabelos embolados. — E pelo cabelo também.

Ele me encarou e sorriu.

— Não precisa se desculpar por nenhum dos dois. Você é humana, cabelos embolam. São coisas fáceis de resolver. E ele é seu pai, são coisas que ele acha que tem que fazer. — entregou-me a escova passando os dedos para abaixar os fios arrepiados. Abaixou o rosto até que seu queixo estivesse no meu ombro, mantendo os olhos no reflexo. — Antes que me esqueça, adorei o seu quarto. Principalmente o lençol no Batman.

Quando o ônibus estava se aproximando do ponto, tirei os fones deixando a Katy Perry sozinha cantando sobre seus sonhos californianos. Tinha que ter toda a minha atenção focada e me mostrar uma funcionária melhor do que tinha sido durante esses últimos dois dias. Sienna me cumprimentou na recepção e moveu os lábios perguntando se iríamos almoçar juntas. Assenti em resposta e ela piscou feliz. Movi-me para a minha sala encontrando Leger na sua posição de sempre, inclinado na direção do computador concentrado no que digitava.

— Bom dia — cumprimentei dirigindo-me a minha mesa e ligando o computador para verificar os e-mails com materiais recebidos.

Recebi apenas um resmungo em resposta, mas não liguei. Durante as duas horas que se passaram, não ousei tocar meu celular estrategicamente colocado no fundo na bolsa e no modo silencioso. Sentia que Leger me encarava periodicamente talvez estranhando meu silêncio. Eu estava no modo automático, usando minha memória de trabalho para executar minhas funções, mas o hemisfério esquerdo do meu cérebro estava focando em qual desculpa usaria para me ausentar das funções antes do almoço. Ah, sim, eu tinha lido um pouco sobre a psicologia e processos básicos do cérebro.

Senhor LuxúriaOnde histórias criam vida. Descubra agora