A vida dirigida por Hitchcock e Nicholas Spakrs

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Cole estava acabando com a minha habilidade de pensar em soluções assim que o problema surge. Era uma coisa que talvez tivesse herdado de minha mãe – além do gênio forte – e que era muito valorizado. Por isso, demorei três dias para retornar à casa dos meus pais com uma proposta ao meu pai. Ele ficou bastante surpreso em me ver – éramos dois, nunca pensei que iria tanto aquela casa – porém não recusou a visita.

— Sua mãe foi almoçar com um amigo que está ajudando na investigação. — ele disse guiando-me até o jardim de trás. Segui-o mexendo as mãos em um sinal de ansiedade. — Mas acho que você não veio conversar com ela, não é? O que houve? Está tudo bem?

— Sim, está — apressei-me em responder. Não queria preocupar meu pai. — Queria te pedir um favor. — ele arqueou as sobrancelhas, surpreso. Nunca fui a filha mais solícita do mundo e queria provar desde jovem a minha independência, o que incluía não pedir ajuda ao meu pai. Isso piorou ao longo dos anos, até o ponto que ele se oferecesse para me auxiliar em algo apenas por educação. — Um amigo meu ficou desempregado recentemente e queria saber se você poderia empregá-lo na oficina. Ele teve uma pequena experiência nesse ramo quando era mais novo, mas é o tipo de pessoa que aprende rápido o que as pessoas ensinam. — esperava que essa definição se estendesse além das práticas sexuais.

Meu pai estreitou os olhos castanhos fazendo-os se enrugar nos cantos, em uma demonstração óbvia de desconfiança. Tive dificuldade em me manter neutra diante de seu olhar atento. Tudo durou apenas um segundo antes que ele desse um sorriso.

— E esse amigo tem nome? — indagou.

— Cole Wilder, meu vizinho. — esclareci.

— O que sua mãe está ajudando? — seu sorriso diminuiu gradativamente.

— Ele mesmo.

Ele ficou totalmente sério e eu me preparei para um sermão digno do meu pai. No entanto, ele desistiu no meio do caminho, talvez se recordando que estava dialogando com uma mulher de vinte anos e não uma criança que deixava os brinquedos jogados pelo caminho. Gerry segurou minha mão e suspirou. Apenas naquele gesto pude entender a confiança que estava depositando em mim, de que eu estava tomando minhas decisões e que elas eram as corretas.

— Peça para Cole vir conversar comigo ainda essa semana. — ele disse e seu sorriso retornou. — Vamos ver se esse cara aguenta o tranco.

— Pai...

Ele levantou as mãos em um sinal de rendição.

— Estou apenas brincando.

Mas nós dois sabíamos que ele não estava. Assim que Cole colocasse os pés naquela oficina não estaria apenas ganhando um emprego, mas enfrentaria um teste silêncio para ganhar aprovação.

**********

O sábado chegou depressa, numa velocidade que desafiaria Barry Allen e seu posto de homem mais rápido do mundo. Quando dei por mim, estava de noite e duas opções de roupa jaziam em minhas mãos, competindo para quem ocuparia meu corpo. A vaidade que tanto me faltou nos anos que se passaram pesara naquele momento. Queria optar pela calça jeans e uma camisa qualquer, mas seria vítima de homicídio se o fizesse. E a culpada seria Natalie.

— Sabe que tenho uma opção vasta de vestidos para te emprestar, não é? — reclamou jogada em minha cama e lixando uma de suas longas unhas pintadas de azul. Fiz uma careta em sua direção e ela revirou os olhos. — Se você não fosse tão resistente, já estaria pronta. Além disso, não é como se estivessem namorando. — deu-me um olhar carregado de expectativas.

Senhor LuxúriaOnde histórias criam vida. Descubra agora